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Title: Elegia
Author: Bocage, Manuel Maria Barbosa du, 1765-1805
Language: Portuguese
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+ELEGIA,+


QUE O MAIS INGENUO, E VERDADEIRO SENTIMENTO CONSAGRA Á DEPLORAVEL MORTE

DO ILLUSTRISSIMO, E EXCELLENTISSIMO SENHOR

+D. JOZÉ THOMAZ DE MENEZES+,

       *       *       *       *       *

SEU AUTHOR

+M. M. B. B.+


LISBOA
Na Offic. de LINO DA SILVA GODINHO.

ANNO M. DCC. XC.

_Com licença da Real Meza da Commissão Geral
sobre o Exame, e Censura dos livros._



+ELEGIA.+


Horridas sombras, horridos vapores,
  Que enlutais estes ares carregados
  Por onde vão fogindo os meus clamores;

Sinistras Aves, que funestos brados
  Espalhais de Cyprestes luctuosos,
  Pela negra Tristeza bafejados;

A vós consagro os prantos dolorosos,
  Que meus olhos derramão contra a dura,
  Antiga ley dos Fados poderosos;

Antiga ley, que á feia sepultura
  Arroja sem respeito, e sem piedade
  A Virtude, a Grandeza, a Formosura!

Aspera ley, que a pobre Humanidade
  N'um momento, n'um átomo arremessa
  Ao centro da medonha Eternidade!

Tremendissima ley, que tão depressa
  Troca em ais, e desgostos a alegria;
  Troca a Purpura em luto, o solio em Eça.

Ah! Nunca amanhecera o cruel dia,
  Esse dia fatal, que tu seguiste,
  Noite de espanto, noite de agonia.

Téjo, que foste da Tragédia triste
  O Theatro infeliz, que he do Thesoiro,
  Que a meus olhos saudosos encobriste?

Ah! Não blazones das arêas de oiro,
  Se em ti contens o Heróe, que ao proprio Marte
  Esperava ganhar a palma, o loiro.

Jozé, que, reunindo a força, e a Arte,
  Feros Brutos indómitos domava,
  Sendo assombro de tudo em toda a parte;

Jozé, que os luzos Póvos alegrava,
  E que, sem recordar-se da grandeza,
  A todos brandamente agazalhava;

Jozé, com quem a sorte, e a natureza
  Forão tão liberaes, e em quem luzia
  Resto feliz da gloria Portugueza.

Oh lugubre Destino! Oh Morte impia!
  Illustre, e velho Pai! Tua amargura
  Quão rigorosa, quão cruel seria!

A macilenta clotho, a Parca dura
  Te roubou para sempre o Filho amado,
  O doce objecto da maior ternura.

Queixa-te, he justo, queixa-te do Fado,
  O negro caso deploravel chora,
  Em nossas faces pela Dor gravado;

Pragueja aquelle Monstro, que devora
  Os miseros mortaes, dize-lhe... ah! antes
  Antes a summa Providencia adora.

Adora a quem nos Astros scintilantes
  Erigio, colocou seu Throno eterno,
  O supremo Senhor dos Ceos brilhantes,

O Justo Deos, que com poder superno
  Escondeo, ferrolhou perpetuamente
  Os rebeldes espiritos no Inferno.

Elle, movendo o braço Omnipotente,
  O filho te chamou, que merecia
  Gloria immortal no Empireo reluzente.

Basta, excelso Marquez. Tua agonia
  Pela Fé seja em fim modificada,
  E por huma Christãa Filosofia.

Que tambem na minha alma atribulada
  Oiço o rizo da candida Esperança,
  Sinto a terrivel Dor mais aplacada.

E tu, Alma gentil, que na lembrança
  Tão presente me estás, Alma ditosa,
  Entre os Córos Angelicos descança.

Não precisa de lagrimas quem goza
  De eterna, de immortal Felicidade,
  Por isso he nossa dor infrutuosa;

Porém, com tudo, lá da Eternidade,
  Do centro da Ventura mais perfeita,
  Se te he possivel, feliz Alma, aceita
  Próvas de Amor, effeitos da saudade.



+SONETO.+


Tudo acaba. Esse Monstro carrancudo,
  Próle do Avérno, effeito do Peccado,
  Tudo a cinza reduz, brandindo, irado,
  Com sanguinosas mãos o ferro agudo.

Oh fatal Desengano, horrendo, e mudo,
  Em pavorosos marmores gravado!
  Oh letreiros da Morte! Oh ley do Fado!
  He verdade, he verdade: acaba tudo.

Eis o nosso miserrimo Destino:
  Assim o ordena quem nos Ceos impéra;
  Basta, adoremos o Poder Divino.

Reprime os passos, caminhante, espera,
  E no Epitafio do infeliz Jozino
  Lê o teu nada, o que tu és pondéra.





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