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Title: Apotheose Camoneana
Author: Carvalho, Xavier de, 1862-1919
Language: Portuguese
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EDIÇÃO FERREIRA DE BRITO

APOTHEOSE

CAMONEANA

por

Xavier de Carvalho

PORTO

Imprensa Ferreira de Brito

1886



APOTHEOSE

CAMONEANA

POR

XAVIER DE CARVALHO

PORTO

_EMPREZA FERREIRA DE BRITO_

1885



EDIÇÃO ESPECIAL CAMONEANISTA

N.º ___


A

Joaquim de Araujo


APOTHEOSE CAMONEANA



A RENASCENÇA

(_a Ramalho Ortigão_)


    A Renascença que foi obra toda humana,
    Chamando á vida nova a forte raça aryana,
    Co'a polvora, a imprensa, a bussola e a alchimia,
    A Arte a renascer na lyra dos poetas,
    Copernico que traça a orbita aos planetas
    E Martinho Luthero affirmando a herezia;

    Dante que tudo vê com seu olhar de lynce,
    A _Ceia do Senhor_ de Leonardo Vinci
    E Masaccio que tem _madonas_ ideaes,
    Colombo e Guttemberg e Magalhães e Gama,
    Bacon que ensina a vida e Erasmo que proclama
    O rubro alvorecer das sciencias naturaes;

    Gallileu que nos prova a rotação da terra
    E contra quem a egreja ergueu terrivel guerra,
    Aristoteles que, intransigente e altivo
    Foi quem traçou as leis novas da evolução,
    Cravou golpe profundo, em cheio, á religião
    E em bases affirmou o Credo Positivo;

    Magalhães que demonstra a terra como esphera,
    Giotto que nos pinta a tela mais sincera,
    O feudalismo á morte, as communas em lucta,
    A alma das nações erguendo-se fremente
    E pouco a pouco, a claro, as lendas do Oriente,
    Emquanto o santo officio as consciencias enluta;

    Bruno que a egreja queima, affirmando a Verdade,
    Miguel Angelo que achou os tons da realidade
    No _Juizo Final_ a luz das gerações:
    Todo esse renascer das Artes e Sciencias
    E o rebate febril de todas as consciencias,
    Resume-se afinal no livro de Camões.



NOS PAÇOS DA RIBEIRA

(_a Manoel Duarte de Almeida_)


    E Camões recitava! Em frente delle
    A Princeza Maria, em fundo pasmo
    Escutava vibrante de enthusiasmo
    Versos cheios de amor, ciume e fel.

    A côrte envolta recolhida e attenta
    Ouvia esses sonetos delicados,
    Onde a Paixão brilhava violenta
    E a alma se partia em mil bocados.

    E Camões recitava! Dos seus versos,
    Com payzagens e largos ceos diversos,
    Evolava-se o aroma da violeta...

    E entre o grupo dos pagens e das damas
    Sanguineamente como duas chammas,
    Dominavam os olhos do poeta.



NATHERCIA

(_a João de Deus_)


    Era em seus olhos duma luz magoada
    Que elle sentia palpitar a vida,
    Nathercia! a virgem branca e dolorida,
    A alma da sua alma, a bem-amada!

    Era em seus labios de escarlate vivo,
    Efflorescentes de caricia e lava,
    Que o coração do poeta se abysmava
    Como num banho de perfume activo.

    Foi assim que elle a amou lyricamente,
    Ora em sonetos de paixão fremente
    E eclogas cheias de saudade triste;

    E assim lhe disse o derradeiro adeus,
    Ao vel-a erguer-se aos luminosos céos:
    --_Alma minha gentil que te partiste._



O EPISODIO DE IGNEZ

(_a Ferreira de Brito_)


    Ha não sei que de mystico e suave
    Nesse vulto amantissimo de Ignez:
    Manhans de abril e symphonias de ave,
    O luar calmo e o verde céo inglez.

    Delicada! em instantes de socego
    Decorria-lhe a vida em tons dolentes,
    Entre arrulhos de amor! sonhos fulgentes!
    _Nos saudosos campos do Mondego._

    Ignez! ninguem melhor descreveria
    Como Camões, em ondas de harmonia.
    Esse poema de paixão querida,

    Em que passaste a efflorescente vida,
    _Aos montes ensinando e ás hervinhas_
    _O nome que no peito escripto tinhas..._



O ADAMASTOR

(_ao Conde de Sabugosa_)


    Á flor das ondas, tenebrosamente
    Entre o rugir dos fortes vendavaes
    Olhando os occeanos frente a frente,
    Como um monstro das lendas medievaes;

    O Adamastor erguia-se inclemente
    Invectivando em maldições fataes:
    Gama que busca um novo continente
    E ri das couzas sobrenaturaes.

    Entretanto quem era esse phantasma,
    Que ao vêr a frota portugueza pasma
    E diz phrases vibrantes de crueza?

    Elle era o Antigo Espirito que absorto
    Via o _maravilhoso_ extincto e morto,
    E o Homem dominando a Natureza.



ILHA DOS AMORES

(_a Fialho de Almeida_)


    Ha nesses versos ruivos e frementes
    Todos feitos de sol e de impureza
    A fulva côr nervosa das serpentes
    E um vago sonho de gentil duqueza.

    Em cada phrase de uma sereia ou deusa
    E em cada riso de tritões ardentes:
    Descubro ondas de carne omnipotentes
    E escuto o grito audaz da Natureza.

    Camões! Ha nos teus versos enseivados,
    Beijos que ferem, seios inflammados
    E a mulher toda nua, exposta ao sol.

    E ao lêr essas estrophes côr de lava,
    Sinto a minh'alma allucinada e brava,
    Entre um incendio enorme de arrebol.



LONGE DA PATRIA

(_a Camillo Castello Branco_)


    Rasgando as ondas cruas, braço a braço
    Com mil perigos e crueis tormentos;
    Ralado de desgosto e de cançaço
    Á chuva! á neve! aos vendavaes! e aos ventos!

    Em frente aos soes que estoiram violentos,
    Arremessando ondas de luz ao espaço;
    Horisontes em braza! céos cinzentos!
    --Nada receia aquelle peito d'aço!

    E do rio Me-Khong as fundas aguas,
    Ouvindo ao longe as soluçantes magoas
    D'um povo illustre na historia humana;

    A manso e manso, afrouxam a corrente,
    Para que elle podesse épicamente
    _Cantar a gente illustre luzitana!_



O JAU

(_a Xavier Pinheiro_)


    Emquanto o povo, em bando, escalavrado e roto,
    Cantava pela rua os psalmos da Agonia
    E a nação moribunda era um profundo esgoto,
    E a Historia se tornou em trecho d'elegia,

    A patria cruelmente arruinada e exangue,
    Sem familia, sem lar, sem amigos, sem pão,
    No horisonte sómente a lama, o luto e o sangue,
    Em toda a parte a raiva e a desesperação;

    O luminoso poeta, a alma aventureira,
    Que atravessou cantando uma existencia inteira,
    A luctar pelo bem e a destruir o mau:

    Achou na hora final, em vez de coroa etherea,
    Num leito de hospital a enxerga da miseria
    E por unico amigo um pobre negro:--o Jau.



OS LUZIADAS

(_a Queiroz Velloso_)


    Epopeia de luz! os seus versos vermelhos
    Como agudos punhaes, rubros ao sol da gloria,
    São as Taboas da Lei, os nossos Evangelhos
    E o poema triumphal de toda a nossa historia.

    Por isso hão-de passar as eras sobre as eras,
    Os seculos sem fim num desfillar escuro
    E esse livro será a luz das primaveras,
    Que nos indicará as praias do futuro.

    E num aureo fulgor de chispas diamantinas,
    Centos d'annos depois ainda essa epopeia
    Em nós acordará a mais vibrante ideia.

    E se o povo cahir exhausto entre ruinas,
    Ó Luziadas! ó Bíblia aberta par em par,
    Os nossos corações farás resuscitar.



NO TRICENTENARIO DE CAMÕES

(_a Theophilo Braga_)


    Se aqui podesse vir Camões, nestes instantes,
    Da campa onde repousa ha já tresentos annos,
    Se aquella rude mão que fulminou tyranos
    E sustentou crueis batalhas de gigantes,
    Podesse ainda agitar em crispações vibrantes
    O velho Portugal de heroicos puritanos;

    E visse como o altivo estandarte das quinas
    Tremula esfarrapado ao riso do estrangeiro,
    As terras de alem-mar vendidas a dinheiro,
    A patria toda em lama, em trevas, em ruinas,
    As grandes tradicções no fundo das sentinas
    E o soluço final d'um povo aventureiro;

    Elle, o immortal poeta, e velho combatente,
    Sonoro coração cheio de amor e gloria,
    Alma toda febril, vastissima, marmorea;
    O guerreiro fatal que, erguendo um bravo ardente,
    Escreveu co'a espada o livro auri-fulgente
    Onde em lettras de luz fulgura a nossa historia:

    Nesse instante talvez, espectro desolado!
    Chorando amargamente o seu velho paiz,
    E não vendo da gloria o fulgido matiz
    Engrinaldar emfim o nosso lar sagrado,
    Deixava-se outra vez morrer abandonado
    Batido de vergonha, extatico, infeliz!

    Mas contra toda essa atroz miseria hodierna,
    Vibrae sonoramente! ó almas de leões,
    E ergamos todos nós, em nossos corações,
    Ao clarão triumphal da religião moderna,
    Um sacrario febril de immensa luz eterna,
    Em que o Futuro adore o vulto de Camões.





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