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Title: Descripçaõ sobre a cultura do Canamo ou Canave
Author: Duhamel du Monceau, Henri-Louis, 1700-1782
Language: Portuguese
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*** Start of this LibraryBlog Digital Book "Descripçaõ sobre a cultura do Canamo ou Canave" ***


             DESCRIPÇAÕ SOBRE A CULTURA DO CANAMO, OU CANAVE.

         _Sua colheita, maceraçaõ n'agua, até se pôr no estado
                 para ser gramado, ripado, assedado._

                   TRADUZIDA, E IMPRESSA POR ORDEM

                          DE SUA MAGESTADE.



                                LISBOA,

              Na Offic. de JOAÕ PROCOPIO CORREA DA SILVA,
                Impressor da Santa Igreja Patriarcal.
                         ANNO M. DCC. XCVIII.



DESCRIPÇAÕ SOBRE A CULTURA DO CANAMO, OU CANAVE.



§ I.

_Qual he o temperamento do ar, que convem milhor ao Canamo._


O Canamo naõ cresce tambem nos paizes quentes, como nos climas
temperados, e se cria muito melhor nos Paizes frigidissimos, como o
Canada, Riga, &c.: os quaes produzem abundancia de Linho, que he o
melhor. Se emprega todos os annos huma grande quantidade do Canamo de
Riga, em França, em Inglaterra, e principalmente em Hollanda.



§ II.

_Qual he a terra, mais propria para o Canamo._


He preciso para o Canamo huma terra branda, facil de lavrar, e hum pouco
ligeira: porém fertil, e bem estercada. Os terrenos seccos naõ saõ
proprios para semear o Canamo: porque naõ cresce muito nelles: antes
pelo contrario he sempre baixo, e o linho, que produz, he ordinariamente
lenhoso, o que o faz duro, e elastico: todos estes defeitos saõ
consideraveis, principalmente para fazer as maiores cordagens, como
veremos adiante.

Com tudo nos annos chuvosos he melhor semeallo nos terrenos seccos, do
que nos terrenos humidos: porém estes annos saõ raros, assim se deve
semear ordinariamente á borda d'hum regato, ou d'algum souto, cheio
d'agua, de sorte, que a agua esteja muito perto, sem que produza
innundaçaõ; estas terras saõ muito procuradas.



§ III.

_Dos Estrumes proprios para temperar a terra dos Linhos._


Todos os adubos, que fazem a terra leve saõ proprios para a producçaõ do
Canamo: por conseguinte, o estrume de cavallo, d'ovelha, de pombo, o
lodo das capoeiras se devem preferir ao estrume de boi, e de vacca, e
naõ sei se por acaso se deve usar também, para estrumar os Linhaes de
barro, chamado marne.

He preciso estrumar todos os annos os linhaes, antes da lavoura do
Inverno, para que o estrume tenha tempo de se consumir, durante esta
estaçaõ, e para que se misture mais intimamente com a terra, quando se
fazem as lavouras da Primavera.

O estrume dos pombos he o unico, que se espalha nas ultimas lavouras,
para se tirar delle melhor proveito: com tudo quando a Primavera he
secca, se deve temer, que o estrume venha a queimar a semente, o que naõ
succederá, se se espalhar no Inverno; porém neste caso he melhor deitar
mais estrume, porque, fazendo o contrario, resultaria menos proveito.



§ IV.

_Das Lavouras, que se devem dar aos Linhaes._


A Primeira, e a mais consideravel destas Lavouras, se deve dar nos mezes
de Dezembro, e Janeiro: ha Pessoas, que costumaõ fazella com a charrua,
lavrando a terra por traços, ou regos, outros a costumaõ fazer com a
enchada, formando com ella regos, para que as geadas do Inverno amoleçaõ
melhor a terra; ha tambem outros, que a fazem com a pá de ferro, com a
qual se fazem os valados; este modo he sem contradicçaõ melhor, que os
outros; porém he mais dilatado, e mais trabalhoso; pelo contrario a
Lavoura da charrua he a mais expedita; porém menos proveitosa.

Na primeira se deve preparar a terra para effeito de receber a semente,
lavrando-a duas, ou tres vezes, de quinze em quinze dias, ou de tres em
tres semanas, e depois disto, se deve alizar o terreno.

Deve-se observar, que estas Lavouras se devem, ou se podem fazer como
aquella, que se faz no Inverno com a charrua, enchada, ou com a
sobredita pá.

Finalmente, quando estas Lavouras saõ feitas, e que ficaõ alguns
torrões, se devem pilar com huns malhos; porque he preciso, que todo o
terreno do Linhal esteja taõ unido, e taõ movel, como o canteiro d'hum
Jardim.



§ V.

_Do tempo, e da maneira de semear a Linhaça._


Costuma-se semear a Linhaça no mez de Abril, alguns a semeaõ quinze dias
mais cedo, que os outros, e todos correm differentes perigos; porque
aquelles, que a semeaõ muito cedo, devem summamente temer as geadas da
Primavera, que causaõ grande prejuizo ao Canamo, novamente nascido; e
aquelles que semeaõ muito tarde, devem temer as seccuras, que impedem
algumas vezes o nascimento do Canamo.

A Linhaça se deve semear espessa, porque, sendo semeada ralla, viria a
ser o Canamo muito grosso, a casca muito lenhosa, e a fibra muito dura,
o que he hum grande defeito; com tudo quando a linhaça se semea muito
espessa, ficaõ muitos pés pequenos, e abaffados pelos outros, o que he
tambem hum inconveniente; he preciso pois observar hum meio, e
ordinariamente os Linhaes naõ saõ rallos, senaõ quando perece huma parte
da linhaça por causa das geadas, da seccura, ou quaesquer outros
accidentes.

Assim se deve observar, que a linhaça he huma semente oleosa; porque
estas sortes de sementes, se fazem rançosas com o tempo, e entaõ naõ
nascem; por conseguinte he preciso fazer de sórte, que senaõ semeie
mais, que a linhaça da ultima colheita; porque quando se semeia aquella,
que tem dous annos, muitos grãos naõ nascem, e se for mais velha,
nascerá muito menos.

Logo que se semeia a linhaça, he preciso enterralla, esta operaçao se
faz com huma grade, se a terra foi lavrada com a charrua, ou com hum
ansinho, se foi lavrada com a enchada, ou pá.

Além desta precauçaõ he preciso guardar com cuidado o Linhal, até
que a linhaça esteja inteiramente nascida: por causa da quantidade
de passaros, e principalmente de pombos, que o destroem
extraordinariamente. He verdade, que os pombos naõ esgravataõ, nem
outros muitos passaros, e naõ fazem damno aos grãos de trigo, que se
achaõ cubertos de terra; porém damnificaõ muito a linhaça, ainda que
esteja bem cuberta; porque a differença, que ha entre estas duas
sementes, he que os grãos de trigo naõ sahem da terra juntamente com a
herva, que produzem; porém a linhaça sahe inteiramente com a pequena
planta, que produz, e he neste tempo, que os pombos, e outros passaros
lhe causaõ grande damno: porque, em comendo o graõ da linhaça, arrancaõ
a planta, e a destroem absolutamente.

Os camponezes costumaõ fazer fugir os passaros com espantalhos, e fazem
guardar os Linhaes por seus filhos. Estas precauções naõ saõ
sufficientes, quando os Linhaes saõ muito grandes, e que os pombos estaõ
famintos; porque tenho visto pessoas muito robustas, e ligeiras, e
tambem alguns cães desamparar o Linhal, por estarem excessivamente
cançados: porém este trabalho naõ dura muito tempo; porque quando tem
lançado muitas folhas, naõ he preciso guardar os Linhaes.



§ VI.

_Do cuidado, que se deve ter com o Linhal até a sua colheita._


Os Linhaes, que custaõ muito trabalho até ao nascimento da linhaça, naõ
daõ trabalho algum, até ao tempo da colheita, assim he preciso entreter
sómente os fossos, e impedir que os animaes os naõ damnifiquem.

Com tudo quando as seccuras saõ grandes, ha camponezes, que costumaõ
regar os seus Linhaes, porém he preciso, que sejaõ pequenos, e que a
agua esteja perto, excepto que se possaõ regar por immersaõ, como se
pratica em alguns lugares.

Temos dito, que aconteciaõ algumas vezes accidentes á linhaça, que
faziaõ o Linhal rallo, e temos tambem observado, que entaõ o Canamo era
grosso, ramalhudo, e incapaz de produzir boa fibra; neste caso he
preciso sachallo para tirar maior fructo do Linhal, e para impedir, que
as más hervas suffoquem o Canamo.



§ VII.

_Colheita do Canamo macho._


No principio de Agosto os pés do Canamo, que naõ tem semente, aos quaes
o vulgo chama Canamo femea, e que nós chamamos macho, principiaõ a
fazer-se amarellos na parte superior, e brancos na inferior, o que he
hum signal evidente d'estarem capazes de se arrancarem; entaõ as
mulheres entraõ no Linhal, e arrancaõ todos os pés machos: dos quaes
fazem feixinhos, que põem por ordem no chaõ, tendo grande cuidado de naõ
damnificar o Canamo femea; porque deve ficar na terra algum tempo mais,
para acabar de amadurecer a sua semente.

Depois de ter arrancado o Canamo macho, se fórma delle feixesinhos;
deve-se tomar cuidado, que as plantas, que os fórmaõ, sejaõ de hum igual
comprimento pouco mais, ou menos, e que todas as raizes sejaõ iguaes,
finalmente cada feixesinho se deve atar com hum raminho de Canamo.

Depois disto se deve expor ao Sol para fazer seccar as folhas, e as
flores: quando saõ seccas se fazem cahir, batendo cada feixinho contra o
tronco de huma arvore, ou contra huma parede, e se ajuntaõ varios destes
feixesinhos, para formar delles outros maiores, e transportallos para o
lugar, aonde se devem deitar de molho.



§ VIII.

_Como se deve curtir, ou deitar de molho o Canamo._


O Lugar, aonde se costuma curtir o linho Canamo, he hum fosso, que deve
ter dezoito, ou vinte e quatro pés de comprimento, doze, ou dezoito de
largura, e tres, ou quatro de profundidade, o qual se deve encher de
agua, que se transporta para o dito lugar de alguma fonte proxima, e se
houver occasiaõ, seria melhor introduzir no dito fosso por meio de algum
aqueducto, para evitar algum trabalho, quando o fosso está cheio, se
deve deixar hum lugar livre, para que a superficie da dita agua se possa
vasar.

Ha varias pessoas, que, desprezando este modo de curtir o Canamo, fazem
sómente hum simples fosso á borda de hum rio: ha outras, que o molhaõ,
mettendo-o no mesmo rio: finalmente quando as fontes, e os rios estaõ
muito longe, o costumaõ curtir nos fóssos cheios de agua; ou nas lagoas.

Quando se quer curtir o Canamo, se põem em ordem no fundo d'agua,
cobrindo-o com huma pouca de palha, sobre a qual se põem alguns pedaços
de páo, ou de pedra para segurar o Canamo.

O Canamo se deve deixar neste estado até que a casca, que produz a fibra
se despegue facilmente do tallo, que se acha no meio da planta, a qual
se deve visitar de tempo em tempo, para ver se a dita casca se despega
com facilidade do dito tallo, e quando se despegar facilmente, se deve
tirar do fosso, donde se acha.

A operaçaõ, de que fallamos, naõ somente serve para fazer cahir a casca
do Canamo, mas tambem para atenrar, e afinar a fibra; para melhor
comprehender como a agua produz este effeito, he preciso ter huma idéa
da disposicaõ organica de huma aste do dito Canamo: assim a vou dar o
mais breve, que for possivel.

As astes do Canamo saõ ocas inteiramente, e cheias de huma tenra
medulla: sobre esta medulla ha hum páo tenro, e quebradiço, que se chama
tallo, ou cana, sobre o qual se acha huma casca bastantemente delgada,
composta de fibras, que se estendem ao comprimento da aste: esta casca
está bastantemente pegada á dita cana, e as fibras longitudinaes, de que
a dita casca he composta se ajuntaõ humas, e outras por meio d'hum
tecido vessicular, ou celular; finalmente tudo isto se acha coberto
d'huma finissima membrana, que se póde chamar epiderme.

O metter o Canamo na agua naõ he para outra cousa mais, senaõ para que a
casca se despegue da cana mais facilmente, para destruir a epiderme, e
huma parte do tecido celular, que ligaõ juntamente as fibras
longitudinaes. Tudo isto se produz por hum principio de podridaõ; por
cuja causa senaõ deve ter muito tempo na agua; porque entaõ naõ somente
a epiderme se corromperia, mas tambem prejudicaria as fibras
longitudinaes, e naõ teria força alguma: pelo contrario quando o Canamo
naõ fica na agua o tempo necessario, a casca está pegada ao tallo, e a
fibra fica dura, e elastica, sem se poder nunca afinar perfeitamente,
assim se deve observar hum meio, que consiste naõ sómente no tempo, que
deve estar de molho, mas tambem

I. Na qualidade d'agua; porque he melhor curtir o Canamo n'agua
encharcada, e turva, que naquella, que corre, e que he clara.

II. No calor do ar; porque he mais util curtillo, quando faz calma, do
que quando faz frio.

III. Na qualidade do Canamo: porque aquelle, que se cria em huma terra
branda, e humida, e que se colhe algum tanto verde, se curte mais
depressa, que aquelle que se cria em huma terra forte, e secca, e que se
deixa amadurecer muito.

Finalmente, quando o Canamo está pouco tempo n'agua para se curtir, a
fua fibra he melhor; por cuja causa senaõ deve curtir senaõ no tempo
quente, e quando os Outonos saõ frios, ha pessoas, que guardaõ o Canamo
femea para a Primavera seguinte, para entaõ se curtir: ha alguns, que
julgaõ ser melhor curtillo n'agua encharcada, e mórta, do que n'agua
viva.

Mandei curtir o Canamo em differentes aguas, e achei mais suave aquelle,
que tinha sido curtido n'agua encharcada, do que aquelle, que foi n'agua
corrente: porém a fibra, que se tira do Canamo, curtido n'agua
encharcada, adquire huma cor desagradavel, que lhe naõ causa
verdadeiramente prejuiso algum; porque se faz branca com facilidade;
porém esta cor desagrada, e faz-lhe perder a venda, assim se deve fazer
passar pelo meio do lugar aonde o Canamo se curtio, huma pequena
corrente d'agua para renovar aquella, que anticipadamente se deitou no
fosso, e para prevenir, que senaõ corrompa: cheguei a curtir o Canamo
estendendo-o sobre hum prado, como fazem as lavadeiras, quando querem
córar a roupa; porém este modo de curtir he muito custoso, e além disso
a fibra tem pouca differença daquella, que se curtio segundo o methodo.

Fiz tambem a experiencia de mandar ferver o Canamo n'agua com a
esperança de o curtir em pouco tempo; porém tendo fervido mais de dez
horas, o tirei d'agua, e fazendo-o seccar, achei, que se naõ podia
tascar. He verdade, que mandando-o eu tascar, estando ainda molhado, e
quente, a casca se despegava facilmente: porém ficava, como huma fita, e
naõ se tendo destruido o tecido celular, as fibras longitudinaes ficavaõ
juntas humas com outras, de sorte que naõ se podendo separar era
impossivel affinar bem a fibra; pelo referido se mostra evidentemente,
que senaõ póde terminar o tempo, que o Canamo ha de ficar n'agua, porque
a qualidade do Canamo, d'agua, e temperamento do ar affroixaõ, ou
precipitaõ esta operaçaõ. Alguns julgaõ, que o Canamo está bastantemente
curtido, quando a casca se despega facilmente da cana, e isto ajuda
muito aos Lavradores, que cultivaõ esta planta, a naõ lhe darem, senaõ o
gráo de curtidura, que he preciso; com tudo se enganaõ algumas vezes, e
me parece, que ha Provincias, aonde se costuma curtir mais tempo, do que
em outras. Naõ posso deixar d'advertir, que deve haver muita cautella em
naõ curtir o Canamo em certas aguas, aonde se achaõ alguns pequenos
bichos, chamados lagostins, porque roem o Canamo, e a fibra fica quasi
perdida.



§ IX.

_Da colheita do Canamo Femea._


Quando tratámos do Canamo macho, dissemos, que se devia deixar ainda
algum tempo na terra o Canamo femea, para que a sua semente acabasse
d'amadurecer: porém esta dilaçaõ faz amadurecer muito o Canamo femea, e
faz tambem, que a sua casca, venha a ser muito lenhosa, donde se segue
que o linho, que se tira da dita planta; he mais grosseiro, e mais
tosco, que aquelle, que se tira do Canamo macho; assim quando se vir,
que a semente está bem formada, se deve arrancar o Canamo femea do mesmo
modo, que se arranca o macho, do qual se devem formar feixesinhos, e
polos na mesma ordem, que dissemos acima.

Em alguns Paizes se costuma acabar de amadurecer a linhaça, mettendo o
Canamo femea em algumas covas redondas da profundidade d'hum pé, e de
tres, até quatro de diametro, e pondo no fundo destas covas os
feixesinhos de Canamo bem unidos huns com os outros de modo, que a
linhaça fique para baixo, e a raiz da planta para cima, e atando os
feixesinhos do Canamo com ligaduras de palha, para ficarem bem juntos, e
lhe lançaõ ao redor toda a terra, que se tinha tirado das covas, para
que as cabeças do Canamo fiquem bem abaffadas.

As cabeças do Canamo se aquecem com o auxilio da humidade, que se contém
na dita cova; do mesmo modo que se aquece hum montaõ de feno verde, ou
hum montaõ d'esterco: este calor acaba d'amadurecer a linhaça, e a
dispoem para sahir da sua casca mais facilmente.

Quando a linhaça está madura, o Canamo se tira fóra da cova, porque
criaria bolor, se o deixarem mais tempo na cova, do que he necessario.

Em alguns Paizes, aonde ha muito Canamo, o naõ costumaõ enterrar do
modo, que acabo de dizer; porém costumaõ pôr os feixesinhos em tal
ordem, que ficaõ cabeça com cabeça, e alguns dias depois tiraõ a linhaça
do modo, que vou dizer.



§ X.

_Da Colheita da Linhaça._


Aquelles que tem pouco Canamo, costumaõ estender hum panno no chaõ para
receber nelle a sua semente, outros alimpaõ, e preparaõ hum lugar bem
unido, no qual estendem o Canamo, pondo as cabeças d'hum mesmo lado, e
depois disto as batem ligeiramente, com hum páo, ou com hum mangoal:
esta operaçao faz cahir a linhaça, a qual costumaõ pôla de parte, para
semear na Primavera seguinte, porém como fica ainda muita linhaça nas
cabeças do Canamo, esta se tira, penteando as ditas cabeças com os
dentes d'hum instrumento, chamado ripador, e por meio desta operaçaõ se
faz cahir ao mesmo tempo as folhas com a linhaça, tudo misturado
juntamente: costuma-se guardar tudo isto em hum montaõ alguns dias, e
depois se estende ao Sol para se seccar: finalmente tudo aquillo se bate
depois de secco, e se alimpa a linhaça, joeirando-a, ou passando-a por
hum crivo: esta segunda semente serve para fazer óleo de linhaça, e para
nutrir as aves domesticas. Finalmente se costuma levar o Canamo ao
lugar, onde se curte, para se preparar do mesmo modo, que o Canamo
macho.



§ XI.

_O que he preciso fazer para tirar o Canamo do lugar, aonde se deitou de
molho._


Quando se tirar o Canamo do fosso, aonde se curtio, se devem desatar os
feixesinhos para effeito de se seccar, estendendo-os ao Sol ao longo de
hum muro, ou em hum lugar, em que naõ haja absolutamente humidade:
deve-se ter muito cuidado de virar os ditos feixes de tempo em tempo, e
quando o Canamo estiver bem secco, se deve pôr outra vez em feixes, e
transportallos para a casa, onde se quer recolher em lugar secco, até
que o queiraõ tascar.

N. B. _Esta Obra he precursora de outra maior, em que se continuará esta
Memoria, que he de M. Duhamel, e se dará tudo o mais que se tem escripto
a este assumpto, até entrar na cordearia._


FIM.





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