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Title: Eucalyptos e Acacias - Vinte annos de experiencias
Author: Lima, Jaime de Magalhães, 1859-1936
Language: Portuguese
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*** Start of this LibraryBlog Digital Book "Eucalyptos e Acacias - Vinte annos de experiencias" ***


disponibilizada pela bibRIA.



LIVRARIA DO LAVRADOR

XXXII


JAYME DE MAGALHÃES LIMA

EUCALYPTOS E ACACIAS

Vinte annos de experiencias

PUBLICAÇÃO DO «LAVRADOR»

(PROPRIEDADE REGISTADA)



PORTO

Officinas do "Commercio do Porto"

102--Rua do "Commercio do Porto"--112

1920



«Avaliando os lucros da silvicultura, dois factos devemos ter em conta:
o consumo progressivo da madeira por cada habitante, em todo o mundo,
apesar da introducção de materiaes que a substituem; e mais a
exploração, destroço e destruição das florestas virgens pelo fogo,
especialmente das que continham as madeiras de construcção mais
importantes. D'aqui resultou já uma escassez apreciavel de offerta de
madeira, como é manifesto pela firme subida de preços em todos os
mercados e pela baixa de qualidade. Não parece possivel fugir á
conclusão de que esta tendencia ha-de continuar a accentuar-se, e de que
por todo este seculo temos a contar com uma subida de preços certa e
muito consideravel. A segurança de collocação economica que a cultura
florestal offerece tem, por conseguinte, todas as probabilidades de ser
d'aquellas que vão melhorando com um augmento de lucros correspondente.»

Isto dizia um interessantissimo relatorio apresentado, em 1909, ao
parlamento inglez, por uma commissão nomeada para dar parecer sobre
varias questões que se prendiam com o desenvolvimento da cultura
florestal na Inglaterra, de iniciativa e conta do Estado. E, se isto era
uma verdade de larguissimo alcance então, antes da guerra, e
indiscutivelmente o era, agora, depois do desperdicio colossal de
madeiras a que acabamos de assistir, e quando madeiras faltam para tudo,
achamos o salutar aviso de homens intelligentes e auctorisados já posto
em termos de demonstração prática eloquentissima, com que a calamidade
confirmou a previsão e o conselho.

Observa aquelle relatorio que as mattas, davam «um producto para o qual
parecia haver uma procura quasi illimitada». Mas hoje o problema
aggravou-se, a ponto de que não ha que discutir as possibilidades de
procura que os productos florestaes possam ter. Apenas teremos a cuidar
de saber por que modos se poderá attenuar a fome de madeiras que vai
pelo mundo, e particularmente na Europa, partindo do principio que a
satisfação completa é de todo impossivel, tratando-se de uma riqueza que
na melhor hypothese leva 25 annos a criar e, em muitos casos, aliás
normaes, carece de 80 annos para se constituir capazmente.

Evidentemente, não ha caixa economica que, em segurança e rendimento, se
compare com a plantação d'uma arvore. É capital posto muitas vezes a
100, 200 ou 300% ao anno. Meu pai vendeu a 4$500 réis _Eucalyptos_ de 20
annos, cuja plantação lhe havia custado a 40 réis cada um, ha muito
tempo, quando ainda em Portugal se usavam libras; e eu vendi agora a 18
escudos australias plantadas ha 17 annos, e postas na terra a menos de
tostão cada uma. Os economistas costumam dizer que a exploração
florestal é empreza a tão largo praso que não ha que fiar na paciencia e
tenacidade individual, e deve ser confiada á administração do Estado e á
sua persistencia. Mas, pois que muitas coisas fazemos sómente _para
deixar aos filhos_, eu diria a quem podésse dispõr de um modestissimo
peculio que comprasse uma leirita de bravio e a arroteasse e plantasse
de arvores, se queria estar certo de multiplicar seus parcos bens e
legar aos filhos um pé de meia em que não entra traça e que durante a
vida nos deu sombra e prazer, e esta inefavel delicia de criar.

É n'estas circumstancias que por favor da natureza, e favor muito menos
vulgar do que geralmente se imagina, nos achamos senhores de largas
regiões onde é possivel a cultura do _Eucalypto_, com antecipada certeza
de sua prosperidade. Li algures que o _Eucalypto_, em igualdade de
situação, dá cinco vezes o producto do carvalho. Haverá casos de dar
menos e haverá tambem casos, infinitamente mais numerosos, de dar muito
mais; mas, sem muito nos prendermos com o rigor de numeros que a
natureza nas suas divagações e caprichos transgride de contínuo, podemos
ter por averiguado e fóra de duvida que não ha entre nós arvore
florestal de maior rendimento em volume e peso do que o _Eucalypto_.

Por isso me convenci de que não seria totalmente inopportuna e esteril a
publicação d'estas notas da experiencia da cultura de algumas dezenas de
especies de _Eucalyptos_, a que ha vinte annos me dedico. Alguma coisa
n'ella haverá que possa aproveitar aos nossos lavradores. Sobretudo me
parece que, além do _E. globulus_, convém que, sem demora, plantemos
mais meia duzia, pelo menos, de outras especies que se distinguem, ou
pela superior qualidade da madeira, ou pela faculdade de adaptação a
terrenos que o _E. globulus_ engeita e que nenhuma das nossas arvores
acceita com promessa de rendimento comparavel ao de certas variedades de
_Eucalyptos_, ás quaes uma tradicional preguiça não concedeu ainda logar
dentro dos vallados das suas mal povoadas mattas.

O leitor talvez estranhe que eu aqui tomasse nota de muitas variedades
por diversos motivos condemnadas. Mas persuadi-me de que nem assim
convinha ignoral-as; os livros e os catalogos estrangeiros facilmente
induzem em esperanças e enthusiasmos que não raro e facilmente só a
desenganos conduzem, e imagino que onde eu desenganado me encontrasse em
emprehendimentos que custam algum dinheiro, muitos cuidados e grande
perda de tempo, seria de duvidosa camaradagem e rematado mau gosto ficar
calado e pelo silencio deixar que os companheiros corressem a
precipitar-se em igual desastre.

Eixo, 26 de Janeiro de 1920.



Eucalyptos e Acacias



I

Do logar do Eucalypto na economia florestal do nosso paiz e da
apreciação do valor dos seus productos


Tem já historia a cultura do _Eucalypto_ na Europa, embora não tão
remota como a data do descobrimento d'estas arvores soberbas nos
auctorisaria a suppôr. O primeiro registado nos annaes dos exploradores,
o _Eucalyptus obliqua_, foi visto na Australia por l'Héritier, em 1788,
e por elle annunciado então ao mundo scientifico; e onze annos depois,
em 1799, achado por Labillardière, vinha o _Eucalyptus globulus_, «o
principe dos Eucalyptos», no dizer do Barão de Mueller, por sua vez
tambem principe no estudo d'este genero de plantas. Sempre terão de
recorrer aos seus preciosos trabalhos quantos em similhante cultura se
acharem interessados. Todavia, só do meado do seculo XIX em diante
começou a reconhecer-se a importancia do _Eucalypto_, comquanto «o
prolongado desprezo de arvores de tão maravilhoso valor pareça agora
quasi indizivel e enygmatico», segundo tambem, e com toda a justiça,
observa aquelle grande e illustre mestre.

Para nós, apesar de possuirmos nas collecções scientificas alguns
exemplares antigos, de 1850 ou pouco depois, o tempo da passagem do
_Eucalypto_ dos viveiros escolares para a cultura economica usual poderá
começar em 1870. É de 1870 a _Breve noticia sobre o Eucalypto globulus_
do illustre propagandista snr. Duarte de Oliveira, e de 1876 o
_Eucalyptus globulus_ de Carlos de Souza Pimentel. Essas publicações,
ainda hoje de considerar na grande maioria das suas observações, marcam
uma época, o inicio intelligente e fecundo d'esta cultura florestal.

A esse tempo, não havia virtude de que o _Eucalypto_ não commungasse.
Crescia rapidamente, multiplicaria milagrosamente a riqueza florestal em
proporções descommunaes, povoava os desertos, soffria toda a inclemencia
da atmosphera e do sólo, purificava os logares insalubres, livrava das
febres paludosas, dava madeira excellente para todos os fins, rebelde á
podridão, e distillava oleos, essencias e medicamentos preciosos. N'esta
fé se plantaram muitos _Eucalyptos_ pelas nossas provincias e por todo o
littoral do Mediterraneo. Plantaram-se bem e plantaram-se mal, onde
vingavam e onde morriam, n'uma variedade de condições infinita; e, por
isso, houve plantações que foram maravilha de prosperidade e opulencia,
e outras houve tambem que se tornaram exemplo tremendo de miseria e
ruina. Não podia deixar de haver de tudo isto n'uma experiencia feita em
tão larga escala, em grande parte filha de illusorias e arrebatadas
esperanças, mal consideradas, de todo alheias a uma sensata observação
das coisas, desde principio condemnadas a naufragio por violação de leis
impreteriveis da natureza.

Seguiu-se a reacção contra os impulsos da primeira hora. Os que haviam
sido infelizes se encarregaram de a proclamar, pondo á conta da
debilidade e insignificancia da arvore o que frequentemente era apenas a
consequencia da mingua de reflexão de quem precipitadamente a havia
plantado. Então, não houve defeito de que não se accusasse o
_Eucalypto_: não resistia nem ao sol, nem ao frio, nem á pobreza da
terra; onde crescesse, edificava um abrigo temeroso para os passaros que
devastavam as seáras; estragava os mattos e logo de começo ficava caro
pela despeza da plantação. A madeira não prestava para nada; estalava
por mil modos, torcia e rachava ao seccar, apodrecia depressa, quando
enterrada ou mesmo fóra da terra, e demais o córte das arvores
tornava-se dispendiosissimo em muitos casos pelo volume monstruoso que
ellas tinham attingido. Quanto a effeitos de saneamento, pura phantasia;
em vez de beneficios, o _Eucalypto_ importava calamidades. Não só onde
havia plantação de _Eucalyptos_ e as condições hygienicas haviam
melhorado, a melhoria provinha de outras causas; mas até acontecia que o
_Eucalypto_ era nocivo, creando na casca e na sombra humida viveiros de
mosquitos, e assim se convertendo indirectamente em agente disseminador
de febres palustres.

Tudo isto se dizia e se jurava.

Como, porém, havia plantações que tinham medrado e offereciam bons
córtes, entrou no debate um elemento novo e resolveu a questão; veio o
mercado e em termos do seu uso garantiu que os _Eucalyptos_ eram
excelentes. Comprando-os, pagando-os por um preço altamente remunerador,
dando-lhes variadissimo destino, decidia com todo o desrespeito pelas
academias e seus libelos, que os _Eucalyptos_ constituiam uma cultura,
pelo menos lucrativa. N'uma reacção contra a reacção, volta-se á
primeira fórma, e eis que aquella cultura começou a insinuar-se por
todos os cantos, entre as fagueiras esperanças dos que n'ella se
empenhavam e as liquidações vantajosas dos que, tendo ido á frente,
começavam a arrecadar os proventos, não raro avultados, da sua audacia.

A verdade será que nem o _Eucalypto_ tinha os poderes miraculosos de
resgate de esterilidade que o primitivo enthusiasmo de botanicos e de
iniciadores annunciou, nem tambem, e muito menos, era a nullidade
economica e o perturbador nocivo que o estouvamento e má sorte de alguns
cultivadores desastrados proclamava.

A madeira do _Eucalypto_ é magnifica, incontestavelmente, quando lhe
tivermos dado o tempo necessario para amadurecer capazmente. Cortaram-se
_Eucalyptos_ com 10 ou 12 annos e não deram madeira que prestasse. Não
podia prestar. Pois se essas arvores eram herva!... D'essa idade, que
consistencia podiam ter! Uma arvore, seja de que especie fôr, não
demanda menos de 30 ou 40 annos para criar cerne e endurecer. Se está
feita aos 25, e isso não raro acontece com o _Eucalypto_, já foi grande
fortuna.

Demais, para apreciação da madeira de _Eucalypto_, fomos buscar um
padrão subido, dos mais subidos. Comparamol-o com o carvalho. Por pouco
iriamos até ao mogno e ao pau santo. Não é d'isso que se trata; não se
pensa em trocar pelo _Eucalypto_ essas madeiras que formam uma
aristocracia; apenas se procura auxiliar e engrandecer as plebes
florestaes, associando-lhes plantas novas da sua igualha. É ao choupo,
ao amieiro, á nogueira, ao ulmeiro, á cerejeira, sobretudo ao pinheiro,
que temos de referir o valor do _Eucalypto_. Com estas e outras madeiras
da classe das communs a que estas pertencem, temos de o comparar, e
perante ellas achar-lhe-hemos uma superiosidade indiscutivel a todos os
respeitos--pela rapidez do desenvolvimento e pelo volume dos troncos,
pela duração, pela belleza, (em obra confunde-se facilmente com o
castanho), pela resistencia, pela elasticidade e pela faculdade, aliás
de summa importancia, de durar na agua mais do que qualquer outra das
nossas arvores. De que se trata é unicamente de plantar _Eucalyptos_
onde estavam pinheiros, e de tirar das margens dos nossos rios e das
areias dos seus campos um rendimento florestal superior ao que
actualmente d'alli podemos colher com as arvores que lá temos. Pela
minha parte, direi que não semearei mais um pinheiro onde possa plantar
um _Eucalypto_; todas as experiencias de comparação que n'este sentido
fiz durante 20 annos, e em terrenos, no geral, ruins, pedregosos, frios
e magros, me auctorisam sem discrepancia esta conclusão.


Muitas são as vantagens do _Eucalypto_, mas entre todas avulta a
facilidade e vigor com que rebenta dos troncos cortados. O mesmo terreno
dá dois e tres córtes de madeira, sem necessidade de renovar a plantação
ou sequer, a cultura, e advertindo--circumstancia devéras apreciavel e
que muitos ignoram--que as segundas camadas, sem duvida porque a
robustez do raizame e a condição das seivas lh'o facultam, criam cerne
immediatamente, ao contrario do que é a regra com a primeira haste,
prompta em crescer, mas lenta em amadurecer. Assim, nas segundas
camadas, as varas delgadas, de seis ou oito annos não dão ordinariamente
mais de 25 por cento de cerne. O Barão de Mueller diz que a renovação do
_Eucalypto_ pelos rebentos das hastes cortadas é sobretudo propria de
arvores não muito antigas e não se opera com igual força e promptidão
nas differentes especies. Entre os mais faceis em rebentar, menciona o
_E. globulus_ e o _E. amygdalina_, e acha o _E. rostrata_ dos menos
inclinados a este modo de renovação. Mas nas minhas plantações,
provavelmente por serem recentes, todas as especies téem rebentado
admiravelmente. Foram rarissimos os _Eucalyptos_ que não rebentaram
depois de cortados, e n'esses as baixas mostram ser accidentaes, questão
de condição individual e não commum á especie que n'outros exemplares
provou a sua faculdade de renovação.

Como combustivel, as analyses do snr. C. Lepierre, publicadas pelo snr.
W. C. Tait, em 1915, mostram que a lenha de _Eucalypto_ dá 4:353
calorias onde a lenha do pinheiro não passa de 3:200--isto é, a lenha do
_Eucalypto_ tem um terço a mais do poder calorifero da lenha de
pinheiro; e póde mesmo substituir o carvão, valendo um kilo de lenha de
_Eucalypto_ por 550 grammas de hulha. De modo que, para este effeito,
quando, por exemplo, uma tonelada de pinheiro custar 12 escudos, a de
_Eucalypto_ deve valer 16. E, se considerarmos que a mesma superficie
plantada de _Eucalyptos_ ou semeiada de pinheiros dá no primeiro caso um
volume de madeira que é tres ou quatro vezes, pelo menos, aquelle que
póde produzir na segunda hypothese, por ahi se calculará quanto vale a
substituição do pinheiro pelo _Eucalypto_, ainda que não seja senão para
criar lenha.

Secarão os _Eucalyptos_ as fontes, segundo muitos crêem? Desconfio.
Ganharam essa fama e provavelmente continuarão a soffrel-a, se os que
téem minas e canalisações debaixo das raizes dos _Eucalyptos_ não as
limparem assiduamente. As raizes dos _Eucalyptos_, no seu rapido
desenvolvimento, depressa obstruirão completamente essas minas e
canalisações, transviando-lhes e sumindo-lhes as aguas. Se, porém,
houver os necessarios cuidados de limpeza, creio que tal não acontecerá,
pois sobre este quesito posso dar testemunho de que, tendo ha quarenta
annos um macisso colossal de _Eucalyptos_ sobre uma nascente, nunca esta
deu signal de enfraquecimento. É hoje o que sempre foi.

Dão abrigo aos passaros--evidentemente, como todo o arvoredo. Se isso
houvesse de ser motivo de depreciação do _Eucalypto_, importaria a
condemnação de todas as florestas. O que faltou dizer, quando se aduziu
semelhante prejuizo do _Eucalypto_, é se essas aves que elles abrigam
não valem bem o que pastam nos campos e se sem ellas não corre grave
risco a nossa saude e o nosso sustento, pela invasão de uma fauna bem
mais destruidora do que as aves, e da qual as aves são inimigos
infatigaveis e mortaes. Isto reduzindo a questão a termos meramente
economicos, porque, se a apreciassemos por considerações moraes e
estheticas, não podia subsistir um instante. A belleza, o conforto e a
protecção do arvoredo de qualquer especie serão eternamente um regalo
dos sentidos incomparavel e um mysterioso mas efficaz elixir de paz de
espirito.

Mas os _Eucalyptos_ dão cabo dos mattos, ou melhor, do tojo. É este um
dos artigos mais repetidos da excommunhão dos _Eucalyptos_.

Sobre isso, não haja duvida. É muito certo. O _Eucalypto_ é absorvente,
onde se planta, logo se apossa absolutamente da terra, como
inevitavelmente, sempre terá de acontecer com toda a especie vegetal de
natureza opulenta. O _Eucalypto_ reclama tudo para si; necessidades
formidaveis de sustentação assim o determinam. Que eu saiba, apenas as
acacias, as hakeas e os sobreiros lhe supportam a vizinhança e apezar
d'ella se mantéem e medram. O que resta saber e aqui constitue todo o
problema, é se vale a pena conservar o matto onde podemos crear
_Eucalyptos_. Ora, um hectare com 1:000 _Eucalyptos_ dará, ao fim de 25
annos, 5 contos, calculando cada _Eucalypto_ a 5 escudos, preço modesto.
Serão 200 escudos por anno. E quantas carradas de matto seriam
necessarias para que esse hectare produzisse rendimento semelhante?
Haverá mesmo algum pedaço de matto em Portugal dando rendimento que com
aquella cifra se compare?

O lavrador corre a affirmar que não póde dispensar os mattos para adubo
dos campos. Mas suspeito de que haverá agronomos que discordem,
respondendo que semelhante processo de adubação é tão antiquado como
pobre. As adubações em verde, com a sua riqueza de azote, barateza de
applicação e mais vantagens scientificamente demonstradas, e os adubos
mineraes, de uma efficacia admiravel e de uma commodidade de transporte
unica, vão deixando para um derradeiro e pesado recurso as adubações
pelo tojo, de proveito minguado e lento e preparação dispendiosa,
reclamando uma somma de trabalho que não está em proporção da riqueza
fertillisante do adubo, seriamente estorvada por difficuldades de
decomposição desanimadoras. Não, não será o tojo que economicamente
possa medir-se com o _Eucalypto_.

Dar-se-ha, porém, o abstruso caso da insalubridade das mattas de
_Eucalypto_, por propicias á propagação dos mosquitos? Abrirão ellas uma
excepção na velha e incontestada crença pupular de que as arvores são
beneficas para a saude de quem entre ellas habita?

Sobre esse ponto atrevo-me a ter opinião propria, com toda a arrogancia
do incompetente que não é medico nem homem de sciencia.

O Barão de Mueller falla do «grande poder de exhalação» que os
_Eucalyptos_ possuem, e na minha intimidade com essas arvores
casualmente vi demonstrada essa assombrosa capacidade de exhalação. Puz
flôres em diversos vasos de vidro, d'estes vulgarmente chamados
«solitarios», e entre elles ficou um contendo unicamente ramos e flôres
do _Eucalyptus gracilis_. Passadas vinte e quatro horas, vi quasi sem
agua o vaso do _Eucalypto_, emquanto os outros a conservavam
aproximadamente na altura em que na vespera a deixára, o que aliás era
de esperar passando-se isto em dezembro, mez em que a evaporação é
frouxissima. Enchi de novo o vaso no qual a agua baixára e, passadas as
segundas vinte e quatro horas, de novo a agua desapparecêra, como da
primeira vez. Seguidamente, repeti a experiencia e o resultado foi
invariavelmente o mesmo. Percebi então o que era o extraordinario «poder
de exhalação» do Eucalypto.

Ora, sendo assim com os ramos cortados, cuja vitalidade necessariamente
terá abrandado pelo córte, pergunto que especie de atmosphera será a que
cobre uma floresta de _Eucalyptos_ e a sua visinhança immediata, e não
posso deixar de suspeitar que essa atmosphera será permanentemente
moderada por uma evaporação que tanto ha-de quebrar a violencia do calor
no estio, como o rigor do frio no inverno. Será um manto precioso para a
actividade do corpo e uma fonte continua de suavidade para os sentidos.
Se isso não é salutar, não sei o que o seja nem o que deva buscar para
ter saude.

Quanto aos effeitos therapeuticos das essencias derivadas do
_Eucalypto_, especialmente das folhas e dos seus oleos, respondem os
formularios pharmaceuticos e o uso medico actual. Mas convem lembrar que
esse será um rendimento secundario, apenas subsidiario, nas plantações
de _Eucalyptos_ em larga escala.

Para preencher os pedidos da pharmacia, bastará uma quantidade de
arvores muito reduzida. Por ahi o lavrador não enriquece, e nem sequer
achará mercado sufficiente, se tem muitas arvores para vender.

E, porventura, o mesmo se poderá dizer do _Eucalypto_ como pasto das
abelhas. Sem duvida, não haverá melhor planta para este fim; a profusão
de flôres em cada especie e a diversidade de época em que as differentes
especies florescem, facultam sustento ás abelhas na maior parte do anno,
senão mesmo durante todos os mezes do anno. Sobretudo o _Eucalyptus
cosmophylla_ torna-se notavel sob este aspecto; vingando bem em terras
nossas, floresce no principio do inverno, quando a escassez de flôres
nos montes é extrema.

Não tenho elementos para conjecturar até que ponto será remuneradora a
cultura do _Eucalypto_ como planta melifera. Parece-me, todavia, que
alguma cousa ha ainda a experimentar e estudar n'este capitulo,
particularmente com a especie que acabo de apontar.



II

Cultura do Eucalypto


A cultura do _Eucalypto_ tornou-se facilima e corrente entre nós. Hoje,
o _Eucalypto_ vende-se nas feiras á duzia e ao cento como as couves,
enterra-se depois pelo meio dos mattos em covachos abertos a esmo, e
n'esta barbarie, com estes cuidados elementares por demais resumidos,
vinga, se o terreno lhe agrada e a humidade atmospherica o favorece, ou
se não sobrevêm dois ou tres dias de nordeste que o mirram. Assim se
téem criado arvores magnificas.

Sempre aconselharei, porém, mais algum esmero a quem quizér proceder com
segurança ou com minguado risco de perder o tempo e o dinheiro.

De quantos processos de cultura experimentei, e creio ter percorrido a
escala toda ou pouco menos, o que decididamente offerece mais
probabilidades de exito começa pela sementeira em vasos ou caixões,
seguida da transplantação de cada pé para seu vaso privativo--sementeira
em abril ou ainda mesmo na primeira quinzena de maio; transplantação
para vasos de 8 e 10 centimetros de bocca e altura correspondente,
quando as plantas estão de 3 a 4 centimetros; plantação definitiva, logo
no começo do outomno, de exemplares não muito grandes, de cerca de
palmo, tirados dos vasos antes que as raizes comecem a enrodilhar-se,
como sempre acontece se se prolonga a estação nos vasos,
determinando-lhes aquella fórma de desenvolvimento em espiral que
ulteriormente conservam e as prende mal á terra, sujeitando a arvore a
cahir quando o temporal a açoite. As transplantações para vasos deverão
fazer-se pela fresca, de manhã cedo ou á tardinha, onde o sol não toque
a raiz; a simples exposição da raiz a uma atmosphera secca e quente, por
poucos minutos que seja, bastará para inutilisar alguns pés e atrazar
nos demais a renovação do crescimento interrompido pela transplantação.
Deverão os vasos ser postos á sombra, durante quinze dias, e quer então,
quer posteriormente, depois de passados para o sol, convém regal-os
abundantemente duas vezes por dia, de manhã e á tarde. Em outubro e
d'ahi por diante até aos primeiros dias de março, abrindo apenas um
parenthesis durante o tempo das geadas mais rigorosas, poderá
proceder-se á plantação definitiva. Para esta, será grande vantagem
cavar ou lavrar primeiro a eito o terreno da plantação, abrindo depois
de tres em tres metros covas de tres palmos em toda a direcção e tendo o
cuidado de picar bem fundo o leito da cova. Bem sei que se encontram
bellissimos _Eucalyptos_ plantados em covas sem arroteamento prévio de
toda a terra, e não é cousa que eu não tenha feito e repetido, algumas
vezes com resultado; mas para mim não soffrem duvidas as vantagens
incalculaveis do arroteamento prévio. É miraculoso.

A sementeira em viveiros e a plantação definitiva immediata é o processo
vulgar, o mais usado, ficando contente o lavrador quando achou e comprou
exemplares bem desenvolvidos, frequentemente de um metro de altura e
mesmo mais. Mas, a não ser em terrenos cultivados e muito frescos, ainda
não observei factos que me demonstrem a vantagem de semelhante regra.
Não só por este systema as probabilidades de vingar serão largamente
reduzidas porque na transplantação se inutilisaram as raizes mais
delicadas; simultaneamente e tambem por effeito da perda d'essas raizes,
os _Eucalyptos_ grandes levarão tanto tempo a pegar que os pequenos, não
havendo soffrido igual perda e trazendo intacto do viveiro todo o
raizame, depressa alcançam e ultrapassam os que foram plantados já
grandes.

Sementeiras de outomno nunca me deram boa prova. Não vingam tão
facilmente como as da primavera e prolongam inutilmente, e até
prejudicialmente, o tempo de viveiro; não crescem tanto que estejam em
termos de plantação definitiva na primavera immediata á sementeira, e
ficarão demasiado desenvolvidas para plantação ao fim de um anno, no
outomno seguinte depois da sementeira.

A melhor época para colher a semente é o fim do inverno, quando as
capsulas só esperam o calor de março para expontaneamente se abrir e
lançar á terra a semente. Antes d'isso, as capsulas murcham muito,
quando se colhem, e téem certa difficuldade em largar a semente, o que
indicará talvez um amadurecimento imperfeito. Segundo o Barão de
Mueller, a semente do _Eucalyptus globulus_ conservaria durante 4 annos
o poder germinativo que no _Eucalyptus amygdalina_ vai até 6 annos e
n'outras especies alcança mesmo 13 annos, se a semente foi conservada em
logar secco e frio. Mas tenho-me dado mal com sementes velhas; em regra,
poucas nasceram. Por isso, direi:--Semente fresca, o mais possivel, de
poucas semanas, e até de poucos dias, podendo ser. Vai n'isso uma
vantagem manifesta.

Exceptuando as argilas e os calcareos, todo o terreno convém ao
_Eucalypto_, comtanto que não seja fundado em rocha a pequena
profundidade e dê ás raizes possibilidade de penetração. Tenho lido que
o _Eucalyptus gomphocephala_ e o _cornuta_ supportam os barros e os
calcareos; não vi, porém, ainda demonstração prática d'essa faculdade
auctorisando qualquer experiencia de certa latitude. O livrinho de Souza
Pimentel diz que o _Eucalypto_ viverá onde o sobreiro viver, e
inclino-me a crêr que essa indicação será, em geral, segura. O certo é
que o _Eucalypto_ é facil de contentar quanto a terreno e capaz de
vestir e enriquecer os mais ingratos, desde os seixos frios das
charnecas até as areias mais safaras.

Outro tanto não se poderá dizer das exigencias do _Eucalypto_ em materia
de clima. Na Australia supporta temperaturas de 70° centigrados ao sol e
algumas especies ha, como o _Eucalyptus largiflorens_ e o _polyanthema_,
que affrontam impunemente as nossas estiagens mais duras. Mas
desenganemo-nos, tanto mais que os enganos poderão sahir caros ao
lavrador, como aconteceu na Argelia; o _Eucalypto_ é arvore de climas
moderados, alegra-se na frescura e soffre deveras com o frio. Em
temperaturas inferiores a 4° centigradus abaixo de zero, dá logo signais
de doença, e nas especies mais melindrosas gela até ao colo da raiz,
mesmo quando já está com alguns metros de altura. Isto me aconteceu, por
exemplo, com o _Eucalyptus maculata_; perdi n'um só inverno quantos
tinha, já muito crescidos e lindos.

Sobretudo, acabemos por uma vez com a illusão de que os _Eucalyptos_
podem formar abrigos contra o vento do mar. Tenhamos bem presente a
preciosa recommendação de Souza Pimentel, que, sendo de 1876, ainda hoje
carece de ser repetida, tão lenta é a diffusão dos conhecimentos
agricolas:--«Apezar do clima maritimo ser muito favoravel para os
_Eucalyptos_, não devemos fazer plantações d'esta arvore em sitios muito
proximos do mar e que estejam directamente expostos ás emanações
salgadiças e aos ventos muito violentos do littoral; ou então
procederemos de modo que as plantas fiquem abrigadas por alguma elevação
natural, ou outra qualquer defeza, o que é facil encontrar.» Quererá o
_Eucalypto_ sentir o alento das aguas do mar, mas onde lhe chegue isento
de toda a aspereza que é caracteristica da nossa costa maritima.

Sem embargo, a grande zona do _Eucalypto_, em Portugal, aquella que
admitte largo numero de especies e lhes assegura condições de
desenvolvimento perfeito, será essa que as brumas maritimas de perto ou
de longe e em toda a estação bafejam. O fallecido e benemerito
Bernardino Barros Gomes, nas _Cartas elementares de Portugal_ que, a meu
vêr, continuam sendo um documento fundamental no estudo da physiographia
do nosso paiz, acha a linha culminante que domina a vida physica do paiz
na extensissima cordilheira que com depressões de variada profundeza vai
subindo lentamente do Cabo da Roca á Estrella, pelas serras de Cintra,
Aire e Louzã, e da Estrella vai a Larouco, na fronteira da Galliza,
pelas serras de Montemuro, Marão e Gerez. «Linha seguida de condensação
mais extensa e elevada não ha no paiz: 1:580, 1:206, 1:422, 1:389 1:993
e 1:202 são as alturas dos seus pontos culminantes, marcados na carta
geographica com os nomes de Larouco, Gerez, Marão, Montemuro, Estrella e
Louzã.» São essas as muralhas que os ventos do mar téem a vencer na
passagem para o interior da Peninsula, e por sua poderosa influencia de
condensação essas serras dividem o paiz ao norte do Tejo em duas grandes
zonas--littoral e interna.

Ora, é esta zona littoral ao norte do Tejo que eu julgo ser a grande
zona da cultura do _Eucalypto_ em Portugal--na faixa média, isto é, a
distancia sufficiente do mar, para não soffrer com o rigor da ventania,
e limitando-se na subida ás alturas, para não morrer victima dos gelos,
devendo todavia notar que a 600 metros de altitude tenho encontrado
lindos exemplares do _Eucalyptus globulus_ e que, se o _Eucalyptus
globulus_ prospera n'essas alturas, é de suppôr que o _Eucalyptus
amygdalina_, o _coriacea_ e o _Gunnii_ consentirão em crescer nos nossos
montes a 700 ou mesmo 800 metros de altitude, se ahi lhes soubermos
escolher situação. Fóra d'essa extensissima região litoral do norte do
paiz, quer no sul, quer no interior do norte, haverá, sem duvida,
muitissimos logares onde o _Eucalypto_ medre rapida e magestosamente,
sobretudo nos valles e na proximidade de ribeiros que alguma frescura
lhe facultem. Mas, pois que não é licito contar aqui como regra a
abundante e permanente humidade da zona norte que tracei, a cultura do
_Eucalypto_ passa a ser como accidental, o que aliás não impede de
apresentar muitas e valiosas manchas de explendor, igualando as melhores
da zona eleita.



III

Póda dos Eucalyptos


Algum tempo, e muito longo, tive como regra invariavel que os
_Eucalyptos_ não careciam de póda. Mais do que isso, a póda era-lhes
nociva. Isto me diziam os melhores livros que se occupavam da sua
cultura; isto me era confirmado pelo que observava nas minhas plantações
e nas dos visinhos; e isto tambem me era aconselhado pelo exame das
proprias arvores que, despojando-se expontaneamente dos ramos caducos,
d'aquelles cuja acção havia cessado, estavam em seu trabalho organico a
mostrar-nos a indiscrição de qualquer intervenção, que por certo nunca
poderia exceder, ou sequer emparelhar, a sua natural previdencia. Ellas,
as arvores, é que sabiam, muito melhor do que nós, quando é que lhes
convinha desfazer-se das roupas velhas.

As minhas observações então limitavam-se, porém, a uma só especie de
_Eucalyptos_, ao _globulus_. E para esse e para todos os afins no modo
de vegetar, isto é, para aquelles que crescem em haste direita e se
despojam expontaneamente dos ramos velhos, a regra prevalece:--não se
lhes deve tocar. A não ser, claro está, para cortar algum ramo muito
baixo que por acaso persista e se desenvolva, encurtando mais tarde o
comprimento das madeiras ou empecendo, no presente, o caminho ou
passagem. E esta ultima hypothese não é rara nos _Eucalyptos_ plantados
isoladamente, em condições de bracejar com largueza, a seu capricho.

Nas especies que não dão expontaneamente haste direita, e n'este numero
se tornam notaveis e predominantes o _polyanthema_, o _melliodora_, o
_Behriana_ e o _bicolor_ ou _largiflorens_, n'estas, se não lhes
acudimos a tempo encaminhando-as pelo córte dos ramos rasteiros, teremos
todas as probabilidades de as vêr convertidas em grandes arbustos,
pendidos, tortos e curvados por mil modos, sem dois palmos de madeira
direita aproveitavel. Ahi, a póda é essencial e tem sua arte, reclamando
a attenção de quem a faz, para que não seja tardia, nem excessiva, para
que não deixe engrossar demasiado os ramos e tambem para que por excesso
de póda não adelgace muito a haste e lhe prejudique a robustez.

Mas ha mais: em certos casos, e mesmo para _Eucalyptos_ que naturalmente
crescem em haste direita, poderá haver vantagem no córte das pontas
terminaes a quatro ou cinco metros do chão. Em Roma, encontrei
frequentemente _Eucalyptus rostrata_, assim degolados, com troncos
magnificos na base e bem vestidos de frondosos braços no cimo. E aqui,
nas minhas plantações, aconteceu que, havendo sido cortadas (por
malvadez) as pontas de oito _Eucalyptus macrorrynchas_, crearam outras
que soldaram perfeitamente no tronco, e este engrossou bem, e até mais
do que o dos _Eucalyptos_ da mesma especie que estavam proximos e foram
poupados pelo vandalismo.

Por isso me inclino a crêr que, n'esta materia, a regra é, na verdade,
não podar; mas tem muitas excepções, a que convém attender. E não me
tenho dado mal, muito pelo contrario, admittindo-as no meu uso.

A proposito, acrescentarei que o _Eucalypto_ que comece a crescer
inclinado, seja de que especie fôr, não só d'aquellas que acima aponto
como tendo invariavelmente esta tendencia, mas tambem de outras que
accidentalmente a revelam, como, por exemplo, o _Gunnii_ e o
_Stuartiana_, _Eucalypto_ que assim cresça deve ser cortado a meio palmo
do chão, logo que o tronco chegue a robustez bastante, de ordinario no
quarto ou quinto anno. É o unico modo de obter boas hastes d'essa cêpa;
véem depressa, direitas e vigorosas. Algumas tenho que subiram mais de
dois metros logo no primeiro anno depois do córte. E, se considerarmos
que os rebentos são mais promptos em crear cerne do que as mães,
convencer-nos-hemos de que similhante operação é de todo o ponto
vantajosa. Muitas vezes a tenho feito e nunca me arrependi.



IV

Escolha das variedades


Evidentemente, em mais de oitenta especies e variedades de _Eucalyptos_
que tenho experimentado, o _globulus_ mantém o seu logar de primazia,
quanto á rapidez de desenvolvimento. Quem procurar o volume maximo de
madeira a crear em determinado tempo e espaço, não tem que hesitar:
plante o _globulus_. E, se nos lembrarmos de que a sua madeira é
excellente, propria para innumeraveis applicações, teremos por seguro e
certo que, quem assim resolver, procede com as maiores probabilidades de
haver feito um magnifico negocio, rendoso como os melhores.

Mas, se o _Eucalyptus globulus_ conta a seu favor a vantagem do mais
rapido desenvolvimento, outras especies o preterem, quanto á resistencia
a doenças parasitarias, e quanto a belleza e quanto á capacidade de
supportar as vicissitudes climatericas e a pobreza do sólo, e quanto á
qualidade da madeira.

Não ha plantação de _Eucalyptus globulus_ que se mostre viçosa por
igual. Aqui e além apparecem sempre exemplares rachiticos, e tenho para
mim que esses, em geral, definham por doenças cryptogamicas, sobretudo
se a exposição é ao norte e batida do vento d'esse lado. O _Eucalyptus_
_Risdoni_ partilha com o _globulus_ d'essa susceptibilidade; adoece
tambem muito facilmente. Mas, exceptuando este, julgo que, em grande
maioria, as outras especies de _Eucalyptos_ são, em geral, muito menos
sensiveis ás invasões cryptogamicas do que o _Eucalyptus globulus_.

Quanto a belleza, se queremos formar avenidas copadas, ou vestir de
folhagem abundante um pedaço de terra, se procuramos sombra e frescura,
o _Eucalyptus botryoides_, aliás facil de contentar em riqueza do sólo e
favor do clima, excede todos os demais. Em seguida, para este effeito,
virá o _Eucalyptus Andreana_, uma especie de chorão, de folhas delgadas,
um pouco esguio, na verdade, mas lindo, sem embargo, principalmente
quando se cobre de flôr. Por ventura o _Eucalyptus virgata_, ou
_Sieberiana_, segundo outra classificação, tem de ser incluido n'esta
cathegoria. Ramifica copiosamente. Mas os exemplares que possuo estão
ainda muito novos para que me auctorizem juizo definitivo. É possivel
que com a idade se tornem mais despidos.

Para os terrenos humidos e frios, a solução não offerece duvida. O
_Eucalyptus amygdalina_, o _coriacea_ e o _Gunnii_ téem de ser os
redemptores d'esses brejos miseraveis das nossas florestas, assim como
nos terrenos sêccos o _Eucalyptus polyanthema_, o _melliodora_, o
_bicolor_ ou _largiflorens_ (são synonimos) e o _Behriana_ e o
_hemiphloia_--de crescimento lento, note-se--excedem em coragem para
supportar a estiagem todos os demais. Sobretudo, o _Eucalyptus
polyanthema_, quando plantado basto e bem guiado, porque facilmente
entorta e deixa engrossar os ramos rasteiros com prejuizo da haste
principal--é muito de cultivar, tanto mais que a madeira é rija como
ferro. O _Eucalyptus melliodora_ cresce mais depressa e dá troncos mais
direitos; mas pelo que tenho visto e lido, supponho que a madeira,
embora boa seja, é inferior à do _polyanthema_.

Pela qualidade da madeira é que muitos _Eucalyptus_ se antepõem ao
_globulus_, coincidindo a superioridade da madeira com uma celeridade de
desenvolvimento e aptidões de cultura inteiramente satisfatorias e mesmo
comparaveis ás d'aquelle gigante das nossas florestas. Aqui seria longa
a lista das especies de _Eucalyptos_ do meu conhecimento e experiencia
que convém preferir ao _globulus_, embora este jámais deixe de ser
excellente. Outros o vencem, é incontestavel: e para abreviar, mesmo
porque ha vantagem prática em abreviar e não dispersar o nosso esforço
em incertezas e caprichos, eu recommendaria, a quem quizesse produzir
madeiras de excepcional valor, todos os _Iron-bark_ (casca de ferro),
como é, por exemplo, o _crebra_, de que facilmente conseguiremos bons
exemplares, e poria na cabeça do ról o _Eucalyptus corynocalyx_ ou
_cladocalyx_, que não torce depois de sêcco, o _marginata_, de uma
dureza maravilhosa, e ainda o _resinifera_ que não dispensa logar
favoravel; mas que, cemo o _crebra_, não é tão esquivo que não vegete
bem em muitissimos valles e encostas do nosso paiz e possa formar
florestas esplendidas.



V

Do córte dos Eucalyptos


Sobre o córte dos _Eucalyptos_, a _Eucalyptographia_ do Barão de Mueller
reproduz as recommendações de George Simpson, o qual, na opinião de
Mueller, «falla em resultado d'uma longa experiencia e com auctoridade»;
e porque essas recommendações se me afiguram de uma importancia capital,
aqui as reproduzo.

Dizem assim:

«Por causa da sua densidade, a madeira do _Eucalypto_ não póde seccar
nos cêpos; troncos de 12 pés de comprimento por 12 polegadas de
espessura, deixados durante 7 annos no logar onde foram cortados,
empenaram, quando depois foram serrados em pranchões, quasi tanto como
se houvessem sido cortados recentemente. D'aqui vem que a exposição dos
cêpos a influencias proprias a effectuar a séca alcança apenas a parte
externa e com prejuizo, pelo menos, d'essas camadas que attinge. Por
isso, G. Simpson insiste, com razão, na conveniencia de serrar os
troncos nas dimensões que se quizerem, logo que são derrubados. A
madeira serrada deve depois ser empilhada, e, para obstar a que se fenda
e torça, convem cobril-a levemente com serradura, sendo esta substancia
a mais facil de obter e applicar para evitar uma evaporação demasiado
rapida da humidade da madeira. A serradura é um mau conductor do calor.
A madeira do _Eucalypto_ (pelo menos do _Jarrah_, _Eucalyptus
marginata_) requer para seccar por este processo cerca de 3 mezes, se é
feita em pranchões de 3X2 polegadas; para pranchões de 12X12 polegadas
demandará, aproximadamente, um anno. Quanto á occasião do córte, o snr.
Simpson está de accôrdo com todos os observadores sensatos, insistindo
em que as arvores devem ser cortadas quando o movimento da seiva é menos
activo; por conseguinte, ahi pelo fim do estio, antes que as chuvas
pesadas dos mezes mais frios venham despertar uma circulação mais
vigorosa da seiva. Mais nota ainda G. Simpson que os ramos de
_Eucalyptos_, quando cortados na estação humida, fendem muito mais do
que quando o córte se faz nas épocas mais sêccas do anno. Deve haver
tambem muito cuidado em livrar as arvores de grande abalo ao cair. De
outra fórma, a madeira apresentará defeitos, embora algumas vezes estes
só se revelem muito tempo depois de a empregarmos. Poder-se-ha evitar
muito esmagamento inclinando a quéda para onde haja ramada e afastando-a
dos terrenos pedregosos e das rochas.»



VI

Eucalyptos hybridos


Desde que, em 1902 comecei a fazer sementeiras de _Eucalyptos_ com maior
assiduidade e experimentando largo numero de especies, achei entre
exemplares que inteiramente se conformavam com a descripção que d'elles
tinha nos livros proprios do seu estudo, alguns que eram uma aberração
manifesta do typo especifico. A principio julguei que essas
divergencias, então raras, proviessem de menos cuidado no apartamento
das sementes; seriam resultado de qualquer mistura casual. Mas, havendo
plantado algumas dezenas de especies n'um espaço relativamente estreito,
verifiquei, á medida que comecei a colher sementes das arvores por mim
plantadas, a progressiva frequencia dos exemplares extravagentes, e tive
por indubitavel a hybridação. Até que, ultimamente, me veio ás mãos a
obra do illustre botanico e professor Maiden, _A Critical Revision of
the genus Eucalyptus_; e ahi vi o facto da hybridação dos _Eucalyptos_
confirmado por uma das mais subidas auctoridades contemporaneas em
materia de flora australiana.

Maiden considera «absolutamente provada» a hybridação dos _Eucalyptos_,
e acha que d'esse facto abundam provas. Segundo as suas observações, o
_Eucalyptus Boormanii_ é um hybrido do _siderophloia_ e do _hemiphloia_;
o _affinis_ vem do cruzamento do _sideroxylon_ e do _hemiphloia_ e o
_consideneana_ será talvez um hybrido do _piperita_ e do _Sieberiana_.

Nas minhas sementeiras, os _Eucalyptos_ que se mostraram mais facilmente
susceptiveis de cruzamento foram o _Gunnii_ e o _leucoxylon_. De quinze
exemplares provenientes de uma sementeira d'este ultimo, não havia
talvez dois perfeitamente iguaes. O _robusta_, o _botryoides_ e mais
acentuadamente o _Stuartiana_ tambem não eram dos mais esquivos em
apresentar exemplares divergindo das mães, não sei se por hybridação, se
por tendencia ingenita a variar, a qual é igualmente fóra de duvida para
grande parte das especies d'este genero. Em compensação, ha outras que
não variam. Do _globulus_ nunca encontrei um só hybrido. No _amygdalina_
são rarissimos os exemplares divergentes; n'uma sementeira que produziu
mais de quatrocentos pés, apenas encontrei um que não se conformava
inteiramente com o typo commum.

Dado este facto da hybridação e começando nós a conhecer as especies em
que se manifesta, convém saber se d'ella poderemos tirar proveito
economico e não teremos antes de a considerar no ról das meras
curiosidades da cultura florestal.

N'este ponto é que a obra de Maiden nos dá, se não me engano, uma
indicação de valor, onde diz que as especies e variedades de
_Eucalyptos_ agrupadas na designação vulgar sob o nome de _box-trees_
(arvores de buxo) e entre as quaes se encontram o _melliodora_, o
_polyanthema_, o _largiflorens_ e outros, mostram «uma particular
tendencia para cruzar com aquellas outras especies chamadas _iron-barks_
(casca de ferro) das quaes o _crebra_ é muito nosso conhecido e a todos
os respeitos justamente famoso.

Esta affirmação do sabio director do Jardim Botanico de Sydney
porventura envolverá para nós uma indicação preciosa. O _polyanthema_,
um _box-tree_, é muito provavelmente o _Eucalypto_ que entre nós melhor
supporta o calor do estio, emquanto resiste perfeitamente aos nossos
invernos; mas é lento, muito lento no desenvolvimento. Entretanto, o
_crebra_, um _iron-bark_, mais sensivel ás vicissitudes climatericas,
prosperando, todavia, sob temperaturas elevadas e supportando sem maior
mal frios rigorosos, tem um desenvolvimento mediano, em termos
manifestos de aproveitamento economico. Em ambos a madeira é excellente.
Seria possivel pelo cruzamento do _polyanthema_ e do _crebra_ obter
hybridos que tendo as notabilissimas qualidades de resistencia do
_polyanthema_ lhes juntassem uma maior celeridade de desenvolvimento? E
o _Gunnii_ tão prompto em cruzar e tão proprio para povoar as encostas
frias, não poderia ser melhorado pela insinuação de elementos novos,
trazendo á sua madeira qualidades superiores a essas, devéras
aproveitaveis, que já possue, e fazendo-a tão boa para construcções como
magnifica é para lenha?

A experiencia é tentadora para os lavradores moços e confiados que
queiram juntar a uma justa ambição de lucros uma intelligente applicação
dos seus ocios e um sympathico esforço para legar aos filhos e aos
filhos dos seus filhos uma riqueza nacional.

Todavia, convém notar que as experiencias d'esta natureza mais pertencem
ao Estado e ás suas estações do que aos particulares e ás suas minguadas
forças. Experiencias florestaes demandam longos annos e extensos campos;
nem podem fazer-se em pouco espaço, nem pódem concluir em pouco tempo,
como acontece com as hervas e ainda com os arbustos. Tenho _Eucalyptos_
com dezeseis annos de que ainda não colhi semente; tenho, por exemplo,
um _urnigera_, já feito e com não menos de doze annos, magnifico e
bello, que ainda não deu flôr. O que, devo acrescentar, não me desanima;
antes me prende. Quanto mais os fructos tardarem, mais se alongará a
esperança e os seus cuidados e prazeres. Tal qual como com os nossos
filhos: quanto mais crescidos são e mais trabalhos deram, mais os
amamos.



VII

A côrte dos gigantes


Para corrigir a nudez habitual das mattas de _Eucalyptos_, de ordinario
esqueleticas, apezar da robustez dos troncos, para lhes dar espessura,
misturei-lhes em diversos logares grande cópia de _Acacias_, espalhadas
a trôxe-moche, muito bastas e de variadissimas especies. Verifico,
porém, ao fim de alguns annos, que se tornou uma exploração economica
rendosa aquillo que havia sido feito por méra preoccupação de
belleza. Plantando os _Eucalyptos_ a tres metros de distancia e
intercalando-lhes, em igual compasso, as _Acacias_, mais conhecidas pela
designação popular de _mimosas_, conseguiremos vestir a terra,
abundantemente, de folhagem e flôres, e conjunctamente fabricaremos
alguma lenha e madeira nos espaços livres nos primeiros tempos, emquanto
os _Eucalyptos_ pelo seu desenvolvimento não os tomam e cobrem
inteiramente.

O effeito de belleza é grande--o que tambem representa valor. Nem só de
pão vive o homem; a vida não se resume em operações arithemeticas de
sommar e multiplicar. Disseminando entre os _Eucalyptos_ _Acacias
podalyriaefolia_, _Baileyana_, _dealbata_, _mollissima_, _longifolia_,
_pycnantha_, _cyanophylla_, _decurrens_, _melanoxilon_ e todas a demais
d'este genero, possuiremos quanto baste para termos flôres, de um
perfume leve e delicioso, desde os fins de novembro até maio, quasi
ininterrompidamente. Por momentos, quando a estação lhes corre
favoravel, dão um deslumbramento, de que o lavrador, se bom lavrador
quizer ser, alguma coisa colhe e traz ao mercado para engordar o
mealheiro.

Entretando, criou-se muita ramagem que aquece o forno da brôa e poupa o
córte de arvores adultas, e criou-se tambem, além de muita lenha, uma
avultada somma de madeira preciosa, com diversos usos, sobretudo
convindo á marcenaria e á tanoaria. Para estes ultimos fins, a _Acacia
melanoxilon_ tem hoje os creditos feitos; facilmente se pagará por 20
escudos uma arvore de 20 annos, se foi convenientemente tratada--isto é,
rendeu 1 escudo por anno e, calculando que um hectare comporta 1:000,
rendeu um conto por hectare e por anno. Mesmo suppondo que os preços
baixarão algum dia d'aquelles exageros em que a guerra os pôz, a
plantação da _Acacia melanoxilon_, ou da _australia_, como no vulgo é
chamada, ficará em toda a hypothese uma cultura altamente lucrativa.

Immediatamente, como productores de madeira, vém a _Acacia decurrens_ e
as suas variedades, entre as quaes póde contar-se a _Acacia dealbata_,
recentemente em uso para fabrico de tamancos e dando casca excellente
para cortumes, de uma elevada percentagem de tanino. Muito proxima,
senão igual n'esta ultima applicação, segue-se a _Acacia pycnantha_, de
uma rijeza de madeira notabilissima e «uma das cascas taninosas mais
ricas que ha no mundo», segundo Maiden diz, o qual acrescenta que «outra
mais rica poderá haver, mas não do seu conhecimento.»

Supponho todavia que o principal valor economico das _Acacias_,
sobrelevando áquelle muito subido que possam ter para madeira, lenha e
cortumes, estará porventura na sua prodigiosa capacidade de criar
vegetação nos terrenos áridos, terrenos que, na expressão de Maiden,
«nem herva dão», nem para pastagem servem. D'isso tenho na minha
experiencia provas concludentes.

Pelos residuos de materia organica que n'essas terras deixam, as
_Acacias_ são o baptismo milagroso pelo qual a esterilidade se converte
á cultura. Para este effeito, a _Acacia_ é reputada superior ao
_Eucalypto_, e creio mesmo que é superior a qualquer outra planta,
embora tenha conseguido cobrir gandaras frias e miserrimas com o
apertado manto de verdura que a _Hakea saligna_ lhes prodigalisa em
poucos annos, enriquecendo essas gandaras, preparando-as para melhores
destinos com boas camas de folhido. Mas as _Hakeas_, se depressa medram,
cedo morrem e dos seus troncos só nos deixam uma lenha que me parece
muito pobre. As _Acacias_ levam-lhes, evidentemente, grande vantagem na
missão de fertilisadores: a sua qualidade de leguminosas e o poder
fecundante que d'essa qualidade lhes vém, juntando-se a uma incomparavel
resistencia ás violencias da estiagem e á avareza nativa do sólo,
attribue-lhes um logar unico no desbravamento das nossas charnecas,
tanto mais que parece averiguado que a cultura das _Acacias_ se póde
prolongar no mesmo terreno sem prejuizo da sua fertilidade. Os
cultivadores e botanicos australianos são de opinião que por esse lado
não ha inconveniente na repetição immediata de tres ou quatro plantações
sucessivas de _Acacias_ na mesma terra. Note-se que a _Acacia_ é uma
arvore que se faz depressa e envelhece cedo, mostrando exemplares de 10
e 12 annos com uma boa percentagem de cerne, e este facto,
acrescentando-se aos demais que acabo de apontar, legitíma a esperança
de melhorar um terreno fazendo tres cortes de madeira boa em 60 annos.

A cultura da _Acacia_ é em tudo igual a do _Eucalypto_, modificada
apenas em dois pontos: a sementeira e a póda.

A semente da _Acacia_ tem um invólucro muito rijo; ha exemplos de
sementes enterradas fundo, durante muitos annos, que depois d'isso
germinaram, quando o acaso da cultura as trouxe de novo á superficie da
terra. Por isso, agradece preparo que facilite a germinação; convém
lançar-lhe em cima agua a ferver e n'essa agua a conservar antes de a
lançar á terra. Isto tenho feito com bom resultado. E ha até quem
recommende que se ferva a semente por um instante, advertindo todavia
que a temperatura não deve exceder 75° centigrados. Tenho para mim que a
melhor sementeira das _Acacias_ é a que se faz com as sementes frescas
logo que se colhem. Então germinam quasi todas, mesmo sem prévia
immersão na agua quente; e como essas sementeiras são antes do fim do
estio, época em que a semente amadurece, habilitam-nos a ter plantas em
estado de collocação definitiva na primavera seguinte; o que, afinal,
significa o adiantamento de um anno.

A póda é indispensavel, a _Acacia_ facilmente alastra e rasteja, se se
encontra abandonada e á larga. Para obter troncos bons, altos, lisos e
aprumados, teremos de os guiar com cuidado, limpando os ramos lateraes e
decapitando a arvore, para lhe engrossar a haste principal, se ella vai
muito delgada, com o risco de se tornar curva pelo peso da folhagem.

O melhor processo, particularmente para a _Acacia melanoxylon_, é a
plantação basta; assim, a falta de luz, determinando a inanição dos
ramos lateraes, atrophia-os e secca-os, ao mesmo que promove a elevação
do tronco. Considere-se, porém, que póda ha-de ser feita com
discernimento e paciencia, pouco a pouco, de modo que a arvore se forme
bem equilibrada, sem nunca se achar demasiado despida, o que a
enfraquece e atraza, quando não a inutilisa.

Maiden é de parecer que as _Acacias_ se devem dividir em dois grupos: as
das terras sêccas, que medram com pouca chuva, e d'essas a _Acacia
pycnantha_ é o typo; e as das terras frescas e dos climas maritimos,
demandando mais agua e florescendo em temperaturas inferiores d'estas, o
typo é _a Acacia decurrens_.

Esta distincção, que tenho por fundamental, bastaria para a selecção das
variedades conforme as circumstancias da cultura que emprehendessemos;
mas entretanto não será ocioso, para mais segura apreciação, tomar
conhecimento de certas qualidades peculiares a cada uma das especies que
passo a apontar, e que julgo as principaes:

*Acacia Baileyana.*--Lindissima, como planta ornamental, pela profusão
das flôres; mas especie pouco firme, degenerando com frequencia, e das
menos rusticas. Quer abrigo, boa terra e, ainda assim, não raro morre
nova.

*Acacia cyanophylla.*--Arvore robusta. Bellas flôres, das mais tardias.
Excellente para logares sêccos. Teme a geada. Comparavel á _Acacia
pycnantha_, manifestamente.

*Acacia dealbata.*--A mais conhecida das mimosas. Flôres já muito
apreciadas nos mercados. Como arvore florestal, aproxima-se da _Acacia
decurrens_, sendo-lhe um pouco inferior no volume dos troncos, na
percentagem taninosa da casca, e talvez na dureza da madeira. O Barão de
Mueller, no excellente _Diccionario das plantas uteis extra-tropicaes_,
traduzido para a nossa lingua pelo illustre professor da Universidade de
Coimbra o snr. dr. Julio Henriques, recommenda a _Acacia dealbata_,
«principalmente como combustivel, por ter grande poder calorifero.»

*Acacia decurrens.*--D'esta, diz o Barão de Mueller que «é mais
resistente do que o _Eucalyptus globulus_, podendo ser cultivada a
altitudes mesmo muito notaveis.» Riqueza taninosa superior, boa madeira,
contentando-se com terrenos pobres, e, como a _Australia_, com maior
tendencia a crescer direita do que as congeneres.

*Acacia longifolia.*--Boa flôr para o córte, crescimento rapido, valor
baixo em madeira e tanino, acentuada propensão a rastejar, preciosa como
povoador e fixador das areias da costa maritima. É esta a sua qualidade
por excellencia, provada entre nós em algumas localidades.

*Acacia melanoxylon.*--Dispensa commentarios. Conhecida e experimentada
em todo o nosso paiz que d'ella ostenta exemplares soberbos, em grande
variedade de situacões. Madeira magnifica para innumeraveis applicações.
Não ha, porém, que fiar na sua generosidade, quanto a qualidade do
terreno; nem todos lhe servem. Tenho d'esta especie plantações
atrophiadas por não terem gostado de terrenos, onde aliás o _Eucalyptus
globulus_ medra bem. Por isso, passei a reservar-lhe algum pedaço de
terra mais fresca, leve e penetravel. Encontra-se em grande variedade de
situações; é sabido e certo. Mas, até onde a minha experiencia alcança,
inclino-me a incluir a _Acacia melanoxylon_ nas _Acacias_ do typo da
_decurrens_, para os effeitos da cultura e da escolha do local da
plantação.

*Acacia mollissima.*--Maiden julga que a _Acacia mollissima_, como a
_dealbata_, é uma variedade da _decurrens_. Por esta poderiamos, pois,
aferir o valor economico da _Acacia mollissima_. Das plantações que
tenho feito, inclino-me a concluir que a _Acacia mollissima_ não
prospera em terrenos agrestes pela seccura ou pela pobreza do fundo.
Deixa-la-hia, portanto, na cathegoria das _Acacias ornamentaes_, porque
as flôres são realmente opulentas, brilhantes, e de um amarelo de oiro.
Degenera e cruza com uma frequencia extrema.

*Acacia podalyriaefolia.*--Cultivo-a ha poucos annos; faltam-me
elementos para lhe apreciar o valor da madeira e o desenvolvimento, que
entretanto me parece mediano. Supporta terras magras e estiagens
aturadas. Como productor de flôres para a venda, é incomparavel, não só
pela sua côr, de um amarelo leve, mas sobretudo pela época em que ellas
véem, em novembro, logo após os ultimos chrysanthemos, quando as flôres
muito escasseiam.

*Acacia pycnantha.*--Os naturalistas australianos reputam-lhe a casca
immediata á da _Acacia decurrens_, em riqueza de tanino. O Barão de
Mueller diz que «é de rapido crescimento, contentando-se com quasi toda
a terra, mas encontrando-se geralmente em terrenos arenosos pobres,
proximo á costa maritima.»

Maiden acha-lhe uma casca esplendida, densa e nada fibrosa,
pulverisando-se completamente, o que porventura não será indifferente
quando se empregue em cortumes. Não é das mais promptas em enraizar na
primeira transplantação para vaso; mas depois, na plantação definitiva,
vinga bem e atura grandes estiagens. Madeira rigissima, troncos grossos;
um exemplar de 20 annos, tinha 30 centimetros de diametro quando o
cortei. Passa por ser das mais sensiveis ao frio; mas as que plantei nas
encostas e entre outro arvoredo, soffreram temperaturas de 2°
centigrados abaixo de zero, sem maior mal. Flôres grandes e magnificas,
facilidade em dar á arvore boa fórma por uma póda conveniente.



Notas sobre as principaes especies de Eucalyptos que tenho cultivado


*Eucalyptus acervula.*--Uma variedade do _Eucalyptus Gunnii_, sem
vantagem alguma sobre a especie typo, quanto a crescimento e resistencia
ou qualquer outra qualidade.

*Eucalyptus acmenoides.*--Da Nova Galles do Sul. Boa madeira, sem
duvida, na opinião unanime dos que se lhe referem. Desenvolvimento
mediocre nos exemplares que experimentei. Macclatchie aponta-o como
«conveniente para o littoral das regiões tropicaes», o que, acrescido ao
acanhado desenvolvimento que na experiencia mostrou, o deve excluir das
nossas plantações.

*Eucalyptus affinis.*--É um hybrido do _Eucalyptus sideroxylon_ e do
_Eucalyptus hemiphloia_, segundo as indicações de Maiden, que o reputa
de boa madeira. São muito novos os exemplares que possuo, para que possa
concluir o quer que seja sobre a conveniencia da sua cultura. Cresceram
bem no vaso, nos primeiros mezes; mas na plantação definitiva amuaram a
tal ponto que não farei nova tentativa. Creio que d'alli nada ha a
esperar.

*Eucalyptus amygdalina.*--Da Tasmania e muitas outras regiões da
Australia. Gigantesca e preciosa arvore, de que se encontraram
exemplares com 120 metros de altura e 20 de circumferencia na base. A
sua madeira é leve, propria para muito genero de carpintaria;
habitualmente não torce ao seccar, e fende em estacas com facilidade;
mas não é muito duradoura, quando enterrada, nem tão pouco dá
combustivel de primeira ordem.

Tenho d'este _Eucalypto_ muitos exemplares e em muito diversas
condições, e apezar da qualidade da madeira que apodrece quando
enterrada e dá uma lenha de valor mediano, afoita e calorosamente o
aconselho, sobretudo nas encostas frias e humidas, onde em
desenvolvimento excede algumas vezes o _Eucalyptus coriacea_ e o
_Eucalyptus Gunnii_, generosos e os melhores povoadores d'essas terras.
O _Eucalyptus amygdalina_ passa por ser ávido de humidade; mas nunca,
porém, me morreu nenhum de estiagens, embora alguns as soffressem e das
mais severas. Em terrenos bons, attinge rapidamente proporções
magnificas, e em terrenos pobrissimos, nos quaes o _Eucalyptus globulus_
adoeceu e se tornou rachitico, o _Eucalyptus amygdalina_ cresceu
devagar, muito devagar, mas sempre sadio.

É positivamente um criador de vegetação notabilissimo; merece ser
disseminado com prodigalidade, podendo subir a grandes elevações, pois
supporta temperaturas baixissimas, parecendo sob este aspecto mais
robusto que os seus companheiros da frialdade, o _Eucalyptus coriacea_ e
o _Eucalyptus Gunnii_. Nem nos prenda a limitada applicação da madeira;
não servindo para muita coisa em que outras especies se distinguem,
ainda assim lhe ficam qualidades de sobra para ser classificada em alto
apreço.

O _Eucalyptus coccifera_, o _dives_, o _fissilis_, o melanophloia, o
_regnans_ e o _Risdoni_, todos téem com o _Eucalyptus amygdalina_
parentesco, quando não são apenas um estado acidental d'essa especie,
determinado pela situação em que vegetam, convindo considerar n'este
ponto que, segundo o Barão de Mueller, o _Eucalyptus amygdalina_, mesmo
ordinariamente, varía bastante de aspecto, conforme as condições
geologicas e climatericas a que fôr sujeito. A essas variedades do
_Eucalyptus amygdalina_ me referirei em sua altura; mas desde já será
bom fixar que para as nossas culturas florestaes nenhuma d'essas
variedades offerece qualquer vantagem comparada com a especie de que
derivam.

*Eucalyptus Andreana.*--Naudin julga que provavelmente, será uma das
especies a que se deu o nome de _Eucalyptus amygdalina_, e achou-lhe
caracteres que d'esta especie o aproximam, emquanto na fórma juvenil
parece mostrar parentesco com o _Eucalyptus viminalis_. Sejam, porém,
quaes forem as suas affinidades especificas, que aliás não auctorisam a
presumpção de grande resistencia de madeira--«resistencia», note-se, não
se confunda com «utilidade», a qual não só na resistencia se funda--seja
qual fôr o seu logar na classificação botanica, o certo é que o
_Eucalyptus Andreana_ dá uma linda arvore, com a folhagem miuda e os
ramos delgados e pendentes, tronco direito e grande abundancia de flôres
na época propria.

Tenho exemplares de 17 annos com 90 centimetros de circumferencia,
prosperando em terrenos mediocres e nunca se havendo mostrado muito
captivos do frio. Ainda não decapitei nenhum; por isso, ignoro se tem
facilidade em ramificar e formar arvores baixas e copadas que seriam
bellas. É uma experiencia a fazer, com probabilidades de bom exito, a
julgar pelo parentesco. Tanto o _Eucalyptus amygdalina_ como o
_Eucalyptus viminalis_ podem sem maior difficuldade sujeitar-se a fórmas
ramificadas.

*Eucalyptus Behriana.*--Pequeno e vagaroso no desenvolvimento. Na
opinião dos botanicos, talvez uma variedade do _Eucalyptus largiflorens_
(ou _Eucalyptus bicolor_). O Barão de Mueller diz que «as qualidades
technicas da madeira estão ainda por experimentar.» Os exemplares que
tenho d'esta especie, semeados em 1903, estão bons e téem mostrado
grande resistencia ás estiagens. Mas cresceram anchamente, são de casca
persistente, e por estas qualidades supponho que houve erro na
classificação e são do _Eucalyptus hemiphtoia_, especie da qual o
_Eucalyptus Behriana_ se distingue a custo.

*Eucalyptus Boormannii.*--Maiden tem-no por hybrido do _Eucalyptus
siderophloia_ e do _Eucalyptus hemiphloia_, dando madeira de duração.
Por este lado, é de boa origem; qualquer das especies de que provém dá
madeira rigissima. Acresce que o _Eucalyptus hemiphloia_ é oriundo de
regiões sêccas.

Do _Eucalyptus Boormannii_ tenho um só exemplar. Cresceu devagar e não
está grande, em terreno de segunda ordem; mas sempre se mostrou sadio.
Por isto e attendendo á qualidade da madeira, convém persistir na
experiencia, a meu vêr.

*Eucalyptus bosistoana.*--Encontro-o indicado nos livros estrangeiros
como de boa madeira e proprio para regiões humidas. O unico exemplar que
d'elle tenho, sendo muito novo, e é nos primeiros tempos que mais
costumam crescer, e estando em excellentes condições, não mostra pressa
de ser grande, e desanima-me de novas tentativas.

*Eucalyptus botryoides.*--Abunda na Nova Galles do Sul e ainda na
colonia de Victoria; e tornou-se vulgar no sul da França, na Italia e na
Argelia. É, portanto, uma especie experimentada em climas muito parentes
do nosso, da qual já se sabe alguma coisa provada.

Mueller apresenta-o como arvore mediana, raro excedendo 40 metros de
altura, de casca permanente e madeira sólida, escura na côr, similhando
mogno, boa para carpintaria e marcenaria. Acha esta especie uma das mais
proprias para cultura á beira-mar, presumpção justificada pelo facto de
se encontrar indigena em localidades humidas e arenosas. Naudin tambem a
recommenda, «pela fórma pyramidal e pela folhagem abundante e umbrosa»
capazes de «a converter n'uma bella arvore de estrada».

Da excellencia da madeira do _Eucalyptus botryoides_ ha, porém, quem
duvide; Macclatchie, no seu precioso livro sobre _Os Eucalyptus
cultivados nos Estados-Unidos_, muito avisadamente aponta as
divergencias, embora previamente confirme as vantagens da cultura. Pois
diz: «Esta especie prospera á beira-mar; mas não convém a regiões de
clima sêcco. Na Australia prefere as situações arenosas e humidas, junto
á costa maritima, e, segundo o Barão de Mueller, vinga bem em terras
contendo agua estagnada. Na California dá-se bem em grande variedade de
situações que vão até 50 milhas da costa.» Esta arvore é das que se
pódem usar para plantação florestal em terras baixas de regiões
moderadamente humidas, onde não ha a temer grandes geadas. Pela folhagem
é util como arvore de sombra, em muitos sitios. Na Australia, onde os
colonos de differentes sitios estimam diversamente a sua madeira,
chamam-lhe «mogno dos brejos» e «mogno bastardo». Maiden julga que este
ultimo nome deve ser devido a confusão. Bailey e o Barão de Mueller
ambos reputam boa a madeira, emquanto Maiden se lhe refere como
«inferior, tanto pela resistencia como pela duração». Mueller e Bailey
indicam a madeira como dura, rija e duradoura, util para travejamentos
nas grandes edificações, cavernas de embarcações, postes, carros e
ripado. A madeira é avermelhada e de fibra apertada. Mueller diz que os
postes d'esta qualidade são muito duradouros, não lhes havendo notado
signaes de decadencia, ao fim de quatorze annos de uso.

Pela minha parte, confessarei grande predilecção por esta especie. Ha
bastantes annos que a tenho plantado em grande variedade de terrenos,
alguns assaz sêccos e sáfaros, e em todos elles encontro exemplares
perfeitos, senão pela rapidez do desenvolvimento, alguns medram devagar,
ao menos pela conformação e saude. O melhor de todos, da primeira
plantação, ha dezesete annos, tem hoje 1m,50 de circumferencia no
tronco, um metro acima do sólo. Note-se que estas plantações sentem
ainda o ar do mar; ficam a menos de vinte kilometros da costa, e sem
montes de permeio que embaracem a visita das brizas maritimas. Nada
posso dizer da madeira, senão que é maravilha o aprumo das hastes quando
a plantação é basta; e crescendo este _Eucalypto_ rapidamente, é de crer
que a madeira amadureça tarde, e só em exemplares de quarenta annos,
pelo menos, attinja aquella firmeza de trama que lhe dá todo o seu
valor. Cortada cêdo, achando-se tenra, tanto mais tenra quanto mais
depressa cresceu, ha-de por força torcer e rachar, tal qual as
congeneres em iguaes condições.

Para arvore decorativa e de sombra, o _Eucalyptus botryoides_ é
manifestamente magnifico, o mais bello do seu genero.

Achando-se desafrontado, ramifica abundantemente, sem prejuizo do aprumo
do tronco, sendo frequentemente necessario cortar-lhe os ramos
inferiores, dos quaes não tem tendencia a desfazer-se espontaneamente,
como acontece com muitas especies, sobretudo, com o _globulus_. A
folhagem expande-se horisontal, bella de côr e de fórma, e assim fórma
uma copa opulenta.

Advirta-se que, apezar de agradecer e preferir a humidade, até hoje
ainda nenhum _Eucalypto_ d'esta especie me morreu por effeito da
estiagem, o que aliás me tem acontecido com muitos outros, especialmente
com o _Eucalyptus capitellata_, com o _Eucalyptus obliqua_, com o
_Eucalyptus Stuartiana_ e mais alguns de importancia secundaria.

*Eucalyptus calophylla.*--Uma curiosidade de jardim. Flôres grandes,
folhagem bella, lusidia, lauriforme; mas muito melindroso, tanto que nem
vale a pena pensarmos na qualidade da sua madeira, embora não falte quem
a gabe.

*Eucalyptus capitellata.*--D'esta especie, geralmente reputada de boa
madeira, tenho bons exemplares. O melhor, plantado em 1903, mede agora
80 centimetros de circumferencia. Mas é uma _Stringybark_ (de casca
encordoada) e, como as parceiras, facil em povoar terras pobres, mas
exigente quanto a humidade. Alguns exemplares perdi já com as estiagens.

*Eucalyptus citriodora.*--Folhagem de um delicioso aroma, lembrando o do
limão, unica, por este lado, entre as congeneres. Madeira linda e
excellente, sem contestação dos que se lhe referem. Extremamente
exigente, quanto a clima. Emquanto novo, qualquer geada o mata. Deve,
todavia, notar-se que em Portugal se conhecem exemplares crescidos
d'este _Eucalypto_, com bastantes annos e grande desenvolvimento.

*Eucalyptus coccifera.*--De Tasmania. Verdadeiramente um arbusto,
resistindo bem ao frio e sem valor algum florestal ou decorativo.

*Eucalyptus colossea.*--Vide _Eucalyptus diversicolor_, do qual é
synonimo.

*Eucalyptus Consideneana.*--Segundo Maiden, é talvez um hybrido do
_Eucalyptus piperita_ e do _Sieberiana_, de madeira descorada e macia,
proprio do littoral.

Os exemplares que d'elle tenho são poucos e muito novos. Entre elles
está um de magnifico desenvolvimento e em exposição assaz fresca,
voltada ao norte. Apesar d'isso, julgaria imprudencia confiar, por
emquanto, em grandes plantações d'esta especie. Parece demandar
humidade, e n'essas condições haverá especies que se lhe avantagem,
tanto mais que a qualidade da madeira não é tal que mereça maior risco
em experiencias.

*Eucalyptus cordata.*--Da Tasmania, apparecendo em altitudes de 500
metros acima do nivel do mar. Interesse meramente botanico. Embora
supporte bem o frio e a pobreza do sólo, como verifico no magnifico
exemplar que tenho na minha collecção, nada vejo que me auctorise a
recommendar-lhe a madeira. Conserva sempre as folhas oppostas, sesseis,
azuladas, cobertas de goma, o que para as outras especies, como no
_Eucalyptus globulus_, é transitorio.

*Eucalyptus coriacea.*--Magnifica especie, a aproveitar em muita terra
portugueza, humida e fria.

Muito conhecido em algumas classificações por _Eucalyptus pauciflora_,
encontra-se desde as mais pequenas elevações até ás mais altas
montanhas, tanto nos terrenos graniticos como em formações de outro
genero. Apparece na colonia de Victoria, Nova Gales do Sul e Tasmania,
estendendo-se por muitas outras regiões.

Arvore mediana, chegando a 30 metros de alto, de bello aspecto, ramos
pendentes, tira o seu principal interesse da resistencia a frios
severos. Nos Alpes Australianos constitue com o _Eucalyptus Gunnii_
florestas em miniatura a 1:500 metros de altitude, até proximo das
geleiras. Na Europa houve um exemplar em Pau (Pyrineus) que viveu
durante alguns annos, chegando a florir; só morreu com o frio
excepcional do inverno de 1881-1882. Proximo de Montpellier, supportou
uma tempestade de 11 graus abaixo de zero, onde o _Eucalyptus
amygdalina_, que é dos mais resistentes, gelava.

Madeira relativamente macia, facil de cortar, mais descorada que a maior
parte dos _Eucalyptos_, fendendo bem; excellente lenha. Não convém para
enterrar; assim, apodrece facilmente.

Não se esqueça que teme muito as estiagens. Macclatchie diz que na
California não supporta a atmosphera sêcca, nem mesmo regado.

A principio não me captivei muito d'esta especie. É lenta em germinar,
pega mal na primeira transplantação e medra muito a medo nos primeiros
annos. Mas depois mostrou o que era. Distingue-se entre as companheiras
pela robustez nas encostas frias. Os melhores exemplares, de 17 annos,
téem agora 1 metro de circumferencia.

*Eucalyptus cornuta.*--Da Australia occidental do Sul, nas proximidades
de Geographe-Bay e nos massiços montanhosos de Sterling. Na Europa, é já
vulgar nas margens de todo o Mediterraneo, principalmente na Provença,
na Argelia e em Genova.

Arvore de mediana grandeza, chegando excepcionalmente a 30 metros,
supporta um sólo arido, mas prefere os logares humidos, apparecendo
(circumstancia importante por não ser vulgar nos _Eucalyptos_) nos
terrenos calcareos.

A madeira, rija e elastica, convém para lanças de carros, instrumentos
agricolas e embarcações, sendo para este fim de valor aproximado ao do
freixo. É a mais pesada de todas as madeiras do occidente australiano,
afundando-se na agua, ainda mesmo depois de bem sêcca.

Macclatchie dá informações da cultura d'esta especie na California, que
são muito de considerar em nosso uso:

«Resiste a temperaturas elevadas, soffrendo, todavia, muito com as
geadas. Não sucumbe com cerca de 50° centigrados positivos; mas ficará
rijamente molestado com 5° abaixo de 0. Prefere terra rica e lenta, nem
por isso deixando de crescer bem em terra pobre. Pelo modo de crescer e
pela densidade da folhagem, é uma arvore de sombra, havendo poucos
_Eucalyptos_ que ramifiquem a tão pequena altura como este. Na
California tem sido empregado quasi unicamente como arvore de sombra.»

Apezar de recommendado para as regiões tropicaes e adjacentes, tenho
achado que o _Eucalyptus cornuta_ póde servir a vastas regiões do nosso
paiz. Em Moreira da Maia encontrei-o viçoso e excellente entre o matto,
sem nenhuns cuidados, e tenho exemplares em condições bem pouco
favoraveis que no primeiro anno se desenvolveram a par dos _Eucalyptus
globulus_ e, de 1902 até hoje, crearam um tronco de 0m,60 de
circumferencia.

*Eucalyptus corymbosa.*--Não é para desprezar, se não me engano. Os dois
unicos exemplares que possuo, plantados em 1902, passaram já duros
invernos e violentos estios, ao fim mostrando dois troncos medianos em
grossura, mas aprumados e perfeitos. Sobre a qualidade da madeira não ha
duvida; facil de apparelhar em verde, durissima depois de sêcca, fraca
lenha, por virtude de excessiva quantidade de _kino_, e, por isso mesmo,
impenetravel ás termitas. D'este, diz Maiden:

«Para postes enterrados e para canalisações subterraneas é quasi
imperecivel.»

*Eucalyptus corynocalyx.*--Da Australia do Sul. Já experimentado em
varias localidades do sul da França. Boa madeira para estacas de vedação
e travessas do caminho de ferro; postes de quinze annos não mostravam
signaes de decadencia.

De uma grande elasticidade, quanto ás vicissitudes atmosphericas, dizem
os que se lhe téem referido, que supporta temperaturas que vão de 8°
centigrados abaixo de 0 até 45° positivos. A folhagem é adocicada,
qualidade que partilha com o _Eucalyptus Gunnii_; os gados roem-na,
differentemente do que em regra acontece com a quasi totalidade dos
_Eucalyptos_, em que os animaes não costumam tocar--o que não deverá
esquecer a quem os plantar em terras onde persista o mau costume de
apascentar os gados soltos nas mattas.

Torna-se, porém, notabilissima esta especie, porque a sua madeira não
fende nem torce ao seccar. Só o _Eucalyptus resinifera_ encontro
indicado com igual boa prenda e, como este não supporta tão bem o nosso
clima, o _Eucalyptus corynocalyx_ tem, por aquella sua virtude, um logar
de primazia.

Mueller diz que o crescimento não é de maior celeridade, segundo
observou, cultivando-o por muito tempo; e Naudin calcula esse
crescimento em cerca de um metro por anno. Os melhores exemplares que eu
tenho, com 17 annos, téem, em média, 60 centimetros de circumferencia.

Mueller aconselhou este _Eucalypto_ para a Argelia, como resistindo á
maior aridez e a estiagens prolongadas, e indifferente á natureza
mineralogica do terreno. Eu, sem querer ensinar o mestre, mas
traduzindo-lhe para portuguez os conselhos em dezesete annos de
experiencias, direi apenas, e para portuguezes que vivam em sitios
similhantes a estas colinas proximas de Aveiro, não em extremo sêccas no
verão nem demasiado agrestes no inverno:--Bella arvore, na verdade, o
_Eucalyptus corynocalyx_. Mas ao abrigo, ainda que quente seja. Nunca
nenhum dos meus soffreu com as estiagens e muitas téem passado
incolumes, assim como rijos janeiros. Mas detesta o norte e o frio dos
brejos desarmados do sol. Exemplares plantados no mesmo dia, em terreno
da mesma natureza, e a 50 metros de distancia, téem hoje um palmo de
diametro ou duas polegadas, conforme estejam ao abrigo do vento e
bafejados do sol, ou sepultados na sombra e açoitados do norte.

*Eucalyptus cosmophylla.*--Não tem valor industrial apreciavel; mas goza
da singularidade de dar flôr no inverno--em Eixo floresce em dezembro--e
assim offerece bom pasto ás abelhas, em tempo no qual o pasto escasseia.
Fórma uma arvore pequena, de folhagem espessa, prosperando em situações
muito diversas, sem grandes exigencias, quanto a terra e clima. Na
Australia occupa logares sêccos e pedregosos.

*Eucalyptus crebra.*--Este é um dos meus preferidos. Quereria vêl-o
disseminado largamente; e, pelo que tenho observado, são de todo
applicaveis em nossas terras as indicações com que Macclatchie o
recommenda para a America. «A _iron-bark_ (casca de ferro) de folha
estreita, diz, supporta uma maior variedade de condições climatericas do
que as outras _iron-bark_. É a unica d'este grupo que supporta valles
sêccos e quentes do interior», com temperaturas minimas de 7°
centigrados negativos e maximas de 50° positivos, aproximadamente. «Pela
madeira dura, rija e elastica, serve para grande numero de applicações.
É uma das madeiras da Australia mais altamente apreciadas; duradoura
debaixo do chão e, por isso, muito usada para postes e travessas de
caminho de ferro; é tambem material bom para pontes, carros e grande
variedade de applicações.»

Está com 80 centimetros de circumferencia o maioral dos _Eucalyptus
crebra_ que plantei, e todos são de uma resistencia notavel, teimando em
não morrer muitos que ficaram perdidos, sem luz nem espaço, entre as
plantações de outros mais apressados em tomar conta do terreno.

*Eucalyptus Deanmaiden.*--Deste tenho apenas dois exemplares e novos.
Não são feios, com a sua folhagem horisontal. Em crescimento estão,
porém, muito distantes de muitos outros companheiros da mesma idade e
differente especie. Creio que não convirá ás nossas terras.

*Eucalyptus decipiens.*--Arvore pequena. Da sua madeira diz o Barão de
Mueller que «é pouco conhecida e não parece ter qualquer valor capital.»
E, ainda que assim não fosse, não nos serviria, porque cresce devagar e
não chega a tamanho que valha o quer que seja.

*Eucalyptus delegatensis.*--O viveirista onde comprei a semente
apresentou-o no catalogo como o menos exigente dos _Eucalyptos_,
crescendo entre a neve a 1:500 ou 1:800 metros de altitude e dando boa
madeira. Mas a obra de Maiden indica-o como uma variedade alpina do
_Eucalyptus obliqua_, e eu que tenho medo do _Eucalyptus obliqua_, como
de todos os _stringybarks_, tão faceis em seccar com a estiagem,
deixal-o-hei de remissa, embora d'elle possua um lindissimo exemplar.

*Eucalyptus diversicolor.*--É o afamado _karri_ dos australianos,
cantado e celebrado como rival do _Eucalyptus globulus_, e presentemente
apregoado na Europa como capaz de curar a diabetes com a infusão das
suas folhas.

Muito conhecido sob a designação de _Eucalyptus colossea_. Da sua
estatura contam-se maravilhas, chegaria a 120 metros de altura e n'um
crescimento rapido; e sobre a qualidade da madeira não divergem as
opiniões: é excellente, de resistencia superior ao carvalho e
apresentando casos de conservação na agua durante 26 annos.

Quanto a terreno e clima, é que lhe porei grandes duvidas. Não se póde
comparar com o _Eucalyptus globulus_. Gelou até ao colo da raiz onde o
_Eucalyptus globulus_ nada soffreu, e de todo estacionou, emquanto os
companheiros erguiam bellos lançamentos. E parece que não serei o unico
a queixar-me, porque Macclatchie diz: «Esta especie prospéra nas regiões
moderadamente humidas, junto á costa; mas não supporta bem o calor sêcco
do interior. Os melhores exemplares que observei cresceram entre Los
Angeles e Pasadena, da California, onde a atmosphera é moderadamente
humida e as geadas leves.»

Por conseguinte, é bom, e será mesmo optimo para quem lhe puder
offerecer terras profundas e valles abrigados, não muito longe do mar,
para respirar frescura, entre Douro e Minho, segundo me palpita.

*Eucalyptus dives.*--Um arbusto, fórma aberrativa do _Eucalyptus
amygdalina_, sem importancia alguma.

*Eucalyptus eximia.*--Boa lenha e fraca madeira, segundo os mestres
affirmam. Acrescentando a isto que se tem mostrado acanhado no crescer,
desde que o tenho, ha 17 annos, posto que sempre sadio, não mais
pensarei em repetir a experiencia.

*Eucalyptus erythronema.*--Os horticultores gabam-lhe as flôres,
vermelhas e com sua graça, na verdade. Mas é um arbusto pobrissimo de
folhagem, em toda a situação, pondo uma nota de mingua, constrangimento
e desharmonia.

*Eucalyptus ficifolia.*--Arvore de bastante sombra, casca persistente,
raras vezes excedendo na Australia 15 metros de altura, aproximando-se
apenas do _Eucalyptus calophylla_ e differindo muito das outras
especies. Do valor da madeira nada se sabe. Como planta decorativa,
notabilissima; são maravilha os feixes esplendidos das suas flôres côr
de fogo, de um vermelho singular. Por esse lado, é o unico _Eucalypto_
francamente decorativo.

Melindroso, quer boa terra, abrigo e frescura; é verdadeiramente uma
arvore de jardim. Devo, porém, advertir que o tenho achado menos
sensivel ás geadas do que o _Eucalyptus citriodora_ e o _Eucalyptus
maculata_. Facto curioso:--varía extraordinariamente na côr das flôres,
provavelmente por hybridação. Direi mesmo que nunca achei dois
exemplares com flôres exactamente do mesmo tom.

*Eucalyptus fissilis.*--Maiden julgou a principio que o _Eucalyptus
fissilis_, do Barão de Mueller, devia ser considerado synonimo do
_Eucalyptus amygdalina_, de Labillardière. Ultimamente, porém, diz que
Luehmann o convenceu de que o _Eucalyptus fissilis_ se deve ligar ao
_Eucalyptus obliqua_. O catalogo de Vilmorin diz que se aproxima do
_Eucalyptus goniocalyx_. Com isto coincide que diversas sementes que
pude haver com o rotulo de _Eucalyptus fissilis_, deram arvores muito
differentes. De tudo o que concluo que é especie assaz incerta na
classificação, e não será sensato plantal-a em similhantes condições,
embora eu possa mostrar um exemplar soberbo, nascido e creado sob esta
invocação, e havendo dado ao fim dos seus 17 annos de existencia um
tronco com 1m,3 de circumferencia. Demais, se o _Eucalyptus fissilis_ é
um _Eucalyptus amygdalina_, teremos este para o substituir com menos
incertezas; e, se é um _Eucalyptus obliqua_ ou um _Eucalyptus
goniocalyx_, não será de confiança para grandes plantações, pelos
motivos a que me refiro nas minhas notas sobre estas duas ultimas
especies.

*Eucalyptus foecunda.*--Um arbusto, que pouco se me desenvolveu e vive
em grande miseria.

*Eucalyptus Foeld-Bay.*--Em livro algum sobre a flora australiana
encontrei referencia a qualquer _Eucalypto_ sob esta designação; nem tão
pouco achei nas cartas geographicas _Foeld-Bay_. O que lá está é
_Twofold Bay_, ao sul, no extremo da Nova Galles do Sul. Porventura
houve equivoco; será d'aqui o _Eucalyptus Foeld-Bay_ que o catalogo da
casa Vilmorin offerecia em 1901, quando ahi comprei a semente. Por isso,
nada sei do valor da madeira d'esse Eucalypto; emquanto da sua robustez
e aspecto decorativo, só posso dizer bem. É uma bella arvore,
ramificando com largueza, de ramos pendentes como o chorão, prosperando
em situações frias e ainda n'outras onde o calor aperta, e
reproduzindo-se espontaneamente com uma certa facilidade. Pelo fructo,
pela folhagem e pela casca, lembra muito o _Eucalyptus viminalis_ e
ainda, bastante, o _Eucalyptus rostrata_.

*Eucalyptus gigantea.*--Synonimo do _Eucalyptus obliqua_, a que em sua
altura me referirei.

*Eucalyptus globulus.*--Dispensa commentario. Do que é e vale dizem já
as nossas mattas e estradas, e tambem, largamente, as nossas officinas.
O que sobre elle se tem escripto formaria uma bibliotheca; mas a pujança
em que a cada passo se ostenta, substitue-a com vantagem. O seu
rendimento florestal e a excellencia da madeira são casos julgados em
sua honra. De passagem, apenas quero notar que Naudin escreve que o
_Eucalyptus globulus_ supporta no sul da França frios de 6° centigrados
abaixo de zero, e que o tenho encontrado viçoso, robusto e já com muitos
annos e tronco formidavel, em elevações de 500 e 600 metros acima do
nivel do mar, nas serras do Caramulo e S. Macario.

*Eucalyptus gomphocephala.*--Nunca d'esta especie me foi possivel crear
coisa que se visse. Sempre se me mostrou por diversos modos inteiramente
esquiva. Todavia, talvez não seja ocioso que outros e em outras
circunstancias repitam a experiencia, pois leio que convém aos terrenos
calcareos, qualidade rarissima nos _Eucalyptos_, e que dá madeira
durissima. Não irá muito alto, apenas a uns 30 metros, mas engrossa bem.
Note-se, quer, segundo leio, terrenos frescos.

*Eucalyptus goniocalyx.*--A julgar pelos exemplares que possuo d'este
_Eucalypto_, inclinar-me-hia a excluil-o, desde já, das nossas
plantações; cresceram bem nos primeiros annos, emquanto encontraram
terra cavada, e depois passaram a medrar muito devagar. Em geral, não
são propensos a dar hastes direitas, tendo a seu favor uma facilidade
notavel em rebentar da cepa quando cortados e d'ahi dar rapidamente
lançamentos elevados. Apesar d'esse balanço pouco favoravel, talvez não
seja desacerto insistir na tentativa; os botanicos attribuem ao
_Eucalyptus goniocalyx_ qualidades de alto valor. A madeira é boa,
duradoura, mesmo que enterrada esteja, e um combustivel excellente.
Demais, esta especie iria a altitudes de 900 ou mesmo 1:000 metros e,
segundo Sahut, prestar-se-hia maravilhosamente para a distillação,
produzindo, como outras congeneres, uma essencia que os colonos
australianos empregam sobretudo para a illuminação, e acrescendo que a
essencia derivada das folhas do _Eucalyptus goniocalyx_ seria preferida
a qualquer outra por sua chamma brilhante, sem fumo nem cheiro.

*Eucalyptus Gunnii.*--É de certeza, um dos poucos que merecem ser
propagados para aproveitar terrenos e situações em que o _globulus_ vai
mal e o proprio pinheiro cresce miseravelmente.

Frequente nas montanhas da Tasmania, é a especie mais vulgar dos Alpes
australianos da colonia de Victoria, onde se encontra a 1:800 metros de
altitude; por estas circumstancias de origem, legitima é a supposição de
que ha-de prosperar em muitos dos nossos montes mais sáfaros. Associado
com o _coriacea_, fórma na Australia as florestas miniaturas dos Alpes
d'aquelle continente, e ahi floresce em estado arbustivo, qualidade que
entre nós conserva, havendo produzido sementes fecundas em arvores de
quatro annos de idade. Na Europa, apparece em França; na Africa, tem
sido experimentado; na Argelia, e na Inglaterra, em Kew, proximo de
Londres, ha um exemplar que ha muitos annos resiste aos invernos, embora
plantado ao ar livre.

Da sua resistencia ao frio, não ha a menor duvida. Os muitos exemplares
que d'elle tenho, alguns já com dezeseis annos, nunca soffreram com o
frio, havendo passado invernos rigorosissimos. N'este ponto, leva grande
vantagem ao _globulus_.

Quanto a terreno, contenta-se com os mais pobres. Mostra-se são e com um
desenvolvimento normal em terras expostas ao norte, frias, pedregosas e
muito humidas no inverno, emquanto, ao mesmo tempo, tem vencido estios
prolongados em terras de areia, muito sêccas, sendo de notar, todavia,
que, para terras sêccas, outras especies lhe são inferiores e devem ser
preferidas.

Não é feio. A massa da folhagem é mais escura e sombria do que em grande
parte de outras especies, sem o cheiro particular de nenhuma d'ellas.
D'ahi vem que os gados a roem, circumstancia rara nos _Eucalyptos_,
apontada tambem como particularidade do _corynocalix_.

Sobre as qualidades da madeira, divergem um pouco os que a téem
examinado. O barão de Mueller acha-a uma «bella madeira, igual em dureza
á do _macrorryncha_, _rostrata_ e _globulus_; muito boa para diversa
obra, se se poderem conseguir hastes direitas, em regra fendendo mal,
mas excellente para lenha.» Porém, Macclatchie, repetindo a informação
de Mueller, diz que «esta arvore não fornece uma madeira especialmente
util», sem embargo de acrescentar que «é especie muito promettedora como
revestimento florestal nas situações montanhosas, não sujeitas a
temperaturas estivaes muito altas.»

Esta conclusão, a que se chegou nos Estados-Unidos da America, está para
mim absolutamente confirmada pela experiencia, já não muito breve, que
tenho da cultura d'esta especie. Verifica-se que varía muito nas
proporções do seu desenvolvimento; alcançando 60 ou 70 metros de altura,
quando encontra condições favoraveis de terra e abrigo, decresce em
differentes graus e chega mesmo a reduzir-se a um arbusto rasteiro, á
medida que essas condições se vão tornando menos propicias. Mas é
incontestavel a sua pujança, que quasi a isenta por completo das doenças
cryptogamicas, amiudadas vezes fataes ao _globulus_; a sua rudeza, que
lhe permitte um desenvolvimento superior ao do pinheiro em terrenos de
gandara magrissimos; e, finalmente, a boa qualidade de madeira que,
ainda mesmo acceitando como subsistentes todas as duvidas que a
depreciem, conservaria a virtude de um magnifico combustivel.

N'estes termos, o _Eucalyptus Gunnii_, plantado basto, a um metro de
distancia, é uma arvore preciosa para o aproveitamento de muita charneca
fria e ao presente abandonada, povoando-a e adornando-a de uma vegetação
por diversos titulos vantajosa.

Convém notar que esta especie cresce frequentemente torta, com tendencia
a arrastar-se pelo chão.

N'este caso, não ha que hesitar. A haste corta-se a meio palmo de
altura; invariavelmente dá origem a diversos rebentos, de ordinario
direitos; e d'estes deixam-se os dois ou tres mais aprumados, que em
breve estarão da grossura do ramo que se cortou--o que, aliás, deve
ter-se como regra geral para os _Eucalyptos_ que comecem a crescer
inclinados. É assim que eu tenho usado, com os melhores resultados, até
mesmo com o _globulus_.

Admitta-se mais que a plantação, para ser bem feita, deverá ser
precedida da cava ou da lavoura de todo o terreno, no qual depois se
abrem as covas. É uma despeza de manifesta importancia; mas, como uma
plantação d'estas não se faz para dez ou vinte annos, mas sim para
sessenta ou oitenta, porque os _Eucalyptos_, dando successivos córtes,
povoam um pedaço de terra por dilatados annos, essa despeza torna-se
minima pela duração da sua utilidade e rendimento.

*Eucalyptus hemiphloia.*--Já por um exemplar authentico d'esta especie
que possuo, já por outros exemplares, cujas sementes me vieram como do
_Eucalyptus Behriana_, parente muito proximo do _Eucalyptus hemiphloia_,
e que muito mais se conformam com a descripção d'este do que com os
caracteres d'aquelle, estou em dizer que o _Eucalyptus hemiphloia_ é
muito de aproveitar e propagar. Em primeiro logar, o _Eucalyptus
hemiphloia_ pertence áquella secção dos _box-tree_ (arvore do buxo) em
que se encorporam os _Eucalyptus polyanthema_, _melliodora_,
_largiflorens_ e outros, todos notaveis pela boa qualidade da madeira e
pela resistencia ás estiagens. Depois, em fontes auctorisadas leio que o
_Eucalyptus hemiphloia_ prospéra tanto junto da costa maritima como nos
outeiros e valles sêccos do interior, supportando temperaturas minimas
de 5° e 7° centigrados abaixo de zero e maximas de 43° a 48°, e não
temendo nem geadas pesadas nem o vento quente. Depois ainda, produz
madeira de notavel resistencia. O Barão de Mueller diz que os postes
d'este _Eucalypto_ cravados na terra foram achados quasi perfeitamente
sãos, ao fim de 16 annos, e Maiden refere que elle dá uma das melhores
lenhas da Nova Galles do Sul. E, finalmente, pelas informações que de
longe véem e a minha experiencia confirma, é uma arvore de folhagem
densa, qualidade rara em _Eucalyptos_, e, a meu vêr, prosperando mesmo
nos terrenos argilosos, qualidade tambem não menos excepcional n'este
genero de plantas, tudo o que é precioso num paiz como o nosso, onde ha
muitos barros sêccos carecidos de sombra e com poucas probabilidades de
achar arvore que lh'a dê.

*Eucalyptus yugalis.*--Um arbusto, de todo sem importancia para o
lavrador.

*Eucalyptus largiflorens.*--Synonimo do _Eucalyptus bicolor_.

D'este direi o que fica dito do _Eucalyptus hemiphloia_. Adoptal-o-hia
para os logares sêccos. Sómente acrescentarei que não leva grande
vantagem áquelle seu companheiro na rapidez de desenvolvimento e no
volume dos troncos, e muito menos na espessura da folhagem, e que, sendo
muito propenso a entortar e rastejar, convém guial-o,--o que, não se
esqueça, é mais a regra do que a excepção em todos os _Eucalyptos_ que
formam a classe dos _box-tree_.

*Eucalyptus Lehmani.*--Botanicamente «inseparavel» do _Eucalyptus
cornuta_, segundo a expressão do Barão de Mueller, e apontado pelos
horticultores como admissivel nos jardins.

Qualidades decorativas e mediocres, a meu vêr, e valor florestal nullo,
porque, circumstancia decisiva, é arvore pequena e assaz melindrosa,
extremamente sensivel ás geadas.

*Eucalyptus leucoxylon.*--Aqui de todo me perco. Emquanto o Barão de
Mueller recommenda calorosamente o _Eucalyptus leucoxylon_ e lhe acha
muitas virtudes, Maiden reputa-o de nenhum valor. Demais, enganou-me;
cresceu bem nos primeiros dois annos, e em seguida passou á cathegoria
dos retardatarios. Entre tantas incertezas deixaria de contar com elle,
absolutamente, para o quer que fosse, se não tivesse mostrado uma
excepcional facilidade de cruzamento. D'esses hybridos do _Eucalyptus
leucoxylon_ tenho um bonito exemplar, viçoso, crescendo bem e aprumado.
O futuro, porém, dirá se traz no ventre qualquer coisa aproveitavel.

*Eucalyptus longifolia.*--Não se illudam os que o encontrarem viçoso em
terrenos frescos, que só n'esses sabe prosperar. É dos que menos vale
pela madeira e conjunctamente é de robustez muito limitada.

*Eucalyptus Mac-Arthuri.*--É tentador! Quando o logar lhe agrada,
desenvolve-se esplendidamente, ramificando com largueza; e onde o
terreno deixa de o favorecer, ainda ahi resiste e vai medrando
devagarinho. Mas Maiden reputa inferior a sua madeira e, n'esta
deficiencia, junta-o com o _Eucalyptus Stuartiana_ e semelhantes. Por
conseguinte, não será muito avisado quem, seduzido pela belleza do
aspecto, se alargar na plantação.

*Eucalyptus macrandra.*--Insignificante a todos os respeitos.

*Eucalyptus macrocarpa.*--Como o precedente, um arbusto insignificante.
Não me deu trabalho. Morreu ás primeiras geadas que lhe tocaram.

*Eucalyptus macrorryncha.*--Na verdade, os livros não mentiram onde
dizem que o _Eucalyptus macrorryncha_ é maravilha para medrar em
terrenos pobres. Vejo-o crescer um metro em terras miseraveis, emquanto
os pinheiros a par crescem um palmo. A madeira é boa e a casca
aproveitavel para cobertura de choupanas e curraes, podendo em
semelhante uso durar cerca de 20 annos. Mas... um terrivel mas o
persegue; é um _stringybark_, parente proximo do _Eucalyptus
capitellata_ e não muito distante do _Eucalyptus obliqua_, e, como
elles, sujeito a morrer da estiagem, o que aliás todas estas especies já
ampla e praticamente me provaram nas minhas experiencias.

*Eucalyptus maculata.*--Visinho do _Eucalyptus citriodora_, e de menos
confiança do que este. Não teremos que discutir-lhe qualidades da
madeira, quando em materia de clima é de todo esquivo. Exemplares
magnificos, com mais de 5 metros de altura, gelaram até ao colo da raiz
desde que sentiram um inverno rigoroso. Depois d'isso, rebentam e
crescem; mas, quando de novo vem um inverno em que a geada abunda,
voltam á primeira fórma, ao rez-do-chão.

*Eucalyptus Maideni.*--Uma variedade do _Eucalyptus globulus_,
annunciada como de mais vigor... onde o terreno fôr de primeira ordem,
acrescentarei eu. Nos outros, nos terrenos mediocres, parece-me mesmo
muito menos robusto do que o _Eucalyptus globulus_.

*Eucalyptus marginata.*--Da Australia Occidental. Casca persistente;
altura mediana, 30 metros, de ordinario, indo, por excepção, até 45.

É o famoso _Jarrah_ dos australianos. Originario das terras humidas,
parece um pouco mais indifferente á situação e ao sólo do que outras
especies congeneres; mas foge dos logares quentes e sêccos. O seu maior
desenvolvimento é nos sitios que recebem humidade do mar.

Na opinião unanime de britanicos, silvicultores, engenheiros e homens
práticos, o _Jarrah_ é de uma robustez verdadeiramente sem igual.
Exposta ao ar ou submergida, ao sol, á chuva ou debaixo da terra, a sua
madeira apparece intacta, ao fim de uma prova de cincoenta annos. Como
foi usada desde a fundação da colonia da Australia Occidental, em 1829,
encontram-se exemplos numerosos a demonstrar a sua duração inexcedivel.
Em certas circumstancias, essa duração excede a do ferro. Para
construcções navaes está a par ou muito proxima da teca, e é
invulneravel ao teredo e ás termitas; os barcos d'essa madeira dispensam
cobertura de cobre. Além d'isso, é uma das madeiras menos inflammaveis,
qualidade muito de apreciar onde se usarem construcções de madeira, e,
por certo, em virtude d'essa mesma qualidade, dá excellente carvão. A
madeira das planicies arenosas á beira do mar é de qualidade inferior; a
melhor é a que se cria nos terrenos montanhosos, particularmente a dos
terrenos ferruginosos e dos graniticos--do que, confiadamente o lembro,
o nosso Minho deve tomar boa nota para seu uso. Não faltam lá nem
terrenos frescos, nem montes, nem granitos, nem a frescura maritima que
frequentemente alcança até ás maiores alturas das serras entre o Mondego
e Minho.

Nas minhas experiencias, comecei por ser infeliz com esta especie;
nasceu mal, soffreu muitas baixas na primeira transplantação, e cresceu
muito devagar na plantação definitiva. Mas insisti, e com a boa fortuna
mudei de ideias. O melhor exemplar que possuo, em terreno mediocre e
algo sêcco, tem hoje 16 annos e mede 75 centimetros de circumferencia,
um metro acima do sólo. Os outros que plantei em terreno aliás bem pobre
e alto, assás exposto ao norte, vão devagar, é certo, mas sadios, com
lindas hastes aprumadas.

Tudo o que, bem considerado, e acrescentando-lhe ainda que a madeira do
_Eucalyptus marginata_ é mais docil á ferramenta do que as madeiras de
outras especies de _Eucalyptos_, posto que menos forte seja em
resistencia ás pressões--tudo o que me leva a crêr que temos todo o
interesse em plantar o _Eucalyptus marginata_ onde lhe acharmos
condições proprias. A riqueza das suas qualidades colloca-o em logar
privilegiado e a marcenaria rural tem alli uma grande esperança de
moveis seguros, bellos e duradouros.

O _Eucalyptus marginata_ é um dos _Eucalyptos_ que com mais facilidade
se propaga expontaneamente. Tenho isso por um signal de vigor e
tendencia a acclimação. Como processo de reproducção, a ninguem o
aconselharia. Os _Eucalyptos_ nascidos expontaneamente crescem sempre
muito devagar, quando crescem. A cova e o esboroamento da gleba é um
começo de vida essencial n'esta cultura.

*Eucalyptus megacarpa.*--Pequeno, crescendo devagar, e de duvidosa
qualidade de madeira. Não ha que perder tempo com elle.

*Eucalyptus melanophloia.*--Boa madeira, segundo o Barão de Mueller. Mas
não é para as nossas terras, onde vegeta mal. Assáz o experimentei para
não pensar mais n'elle.

*Eucalyptus melliodora.*--Um _box-tree_, e tanto lhe basta para carta de
admissão; d'esta cathegoria todos são bons e proprios para as nossas
terras.

Da colonia de Victoria e Nova Galles do Sul, onde apparece
principalmente nos outeiros, não subindo, porém, a grandes elevações.
Arvore mediana, chega, por excepção, a 70 metros, com um diametro
superior a dois metros na base. Madeira amarellada, extremamente rija
depois de sêcca, duradoura e pezada, d'uma flexibilidade notavel, mas,
em regra, difficil de obrar e fender. Na textura, muito semelhante ao
_Eucalyptus rostrata_. Não convém para cortar em pranchas, por
apresentar frequentemente largas fendas perpendiculares entre as
camadas. Excellente combustivel. Na Australia vive em terras pobres e é
de crescimento lento.

Naudin diz:--«Conhece-se facilmente ao longe, pelos ramos longos,
delgados e pendentes, que lhe dão certa semelhança com o chorão.
Abundante de folhagem e flôres, recommenda-se como arvore decorativa.»
Sahut julga-o «muito resistente e interessante pelos ramos pendentes e
pelas flôres odoriferas que as abelhas procuram avidamente».

Merece propagar-se; é manifesto. Sempre se me mostrou resistente, até
mesmo em situações ardentes e em terrenos com larga dose de argila.

E convenço-me de que não ficaria mal á beira das estradas e em volta da
casa dos nossos vinhateiros. Tem belleza, vigor e utilidade que o abonem
para isso.

*Eucalyptus microcorys.*--Não devemos contar com elle. A madeira é
excellente; mas pressente a geada, quando nós ainda mal a enxergamos.
Macclatchie acha-o «proprio para as regiões humidas semitropicaes.» E
assim deve ser, porque é um _stringybark_, ávido de humidade por
conseguinte.

Apezar d'isto, tenho d'este _Eucalypto_ alguns exemplares bem
desenvolvidos n'uma encosta ao sul, abrigados entre pinheiros.

*Eucalyptus microphylla.*--O catalogo de Vilmorin, de cuja casa me veio
a semente, indica o _Eucalyptus microphylla_, ou _stricta_, como uma
variedade dos _Iron-bark_ (casca de ferro) que chega a attingir 40
metros de altura, e dando boa madeira e um combustivel de primeira
qualidade. Os exemplares provenientes d'essas sementes confirmaram a
informação. Porém, a _Eucalyptographia_ do Barão de Mueller acceitando a
synonimia do _Eucalyptus microphylla_ e do _Eucalyptus stricta_, quando
este ultimo descreve, não condiz no resto com a noticia de Vilmorin.
Pela minha parte, direi que os _Eucalyptos_ que tenho sob a designação
de _microphylla_ são _Iron-bark_, por certo de excellente madeira, como
todos os d'essa classe, com um desenvolvimento a par do _Eucalyptus
crebra_, ao qual o juntaria para todos os effeitos. Desconfio que o
_Eucalyptus microphylla_ da minha collecção será o _Eucalyptus
paniculata_.

*Eucalyptus microtheca.*--Nas minhas mãos negou toda a fama com que da
Australia passou para a Europa. Invariavelmente ficou rachitico, embora
lhe houvesse offerecido logar não de todo agreste. Segundo lia,
supportava temperaturas minimas de perto de 8° centigrados abaixo de 0°
e maximas de mais de 50°; encontrar-se-hia nas regiões mais áridas da
Australia e já se desenvolvia admiravelmente na França e na Argelia.
Nada d'isto encontrei. Dou-me por desenganado, de tal fórma que não
reincidirei na tentativa.

*Eucalyptus Mulleri.*--Não me afoita, posto que d'elle possua exemplares
bonitos. Ha duvidas quanto á excellencia da madeira; e não será especie
tão firmemente caracterisada, que esteja isenta do risco de variar na
reproducção. Muitos o poderão substituir com segurança e vantagem.

*Eucalyptus obliqua.*--É o _Eucalyptus gigantea_ da classificação de J.
Hooker, e foi a especie que primeiro se conheceu e sobre a qual
l'Héritier fundou este genero. Frequente na Tasmania, isso basta para
estabelecer probabilidades de adaptação ao nosso clima. Em regra, são as
especies de _Eucalyptos_ d'essa latitude aquellas em que mais
seguramente podemos confiar.

Mueller descreveu o _Eucalyptus obliqua_ como arvore muito aprumada, de
crescimento rapido, chegando a uma altura de noventa metros, embora
floresça muito nova, e encontrando-se em elevações medianas, «não
alpestres.» Casca persistente, muito fibrosa, ardendo facilmente, macia
e fragil. «É uma das mais importantes de todas as arvores da Australia
pela sua grande abundancia e tambem pela facilidade com que a madeira se
presta a diverso trabalho.» Serve para construcções, travessas de
caminho de ferro e vedações, e para isso é muito usada, mas «apodrece
depressa, quando enterrada.» A casca emprega-se em larga escala para
cobertura de edificações ruraes primitivas, e convém tambem para o
fabrico de papel, quer ordinario, de empacotamento, quer de impressão, e
até de escrever.

Cultivo esta especie ha dezesete annos; d'ella tenho muitos exemplares
bons e um esplendido, possuindo todas as qualidades que Mueller lhe
attribue. Todavia, não a aconselho.

O _Eucalyptus obliqua_ é nas minhas plantações a especie que com o
_Eucalyptus rostrata_ me tem atraiçoado maior numero de vezes. Morre
facilmente com as estiagens; exemplares de oito metros de altura e
outros tantos annos de prosperidade seccaram com o calor, plantados
entre muitas outras especies que todas o supportaram e resistiram. Já
não téem conta os que perdi por este motivo, mesmo quando pela estatura
a que haviam chegado era de esperar que estivessem para afrontar todos
os rigores do sol e do frio.

O _Eucalyptus obliqua_ só é aproveitavel em terrenos frescos, e para
terrenos frescos não faltam especies de superior madeira que lhe devem
ser preferidas.

Note-se--pertence este _Eucalypto_ ao grupo dos que na Australia chamam
_stringybark_, isto é, de casca encordoada, e tenho como regra, por
effeito de dilatada experiencia, que todos os _Eucalyptos_ d'esse grupo,
alguns dos quaes vegetam em terrenos pobrissimos, carecem de humidade na
terra. Se não a encontram, facilmente morrem, apenas se acham expostos a
quatro ou cinco dias consecutivos de calor mais forte. Todos elles
enganam, e com tanto maior risco, para quem os planta, quanto é certo
que não raro a sua fraqueza só se mostra e nos surprehende ao fim de
alguns annos de plantação.

*Eucalyptus obtusiflora.*--Uma variedade do _Eucalyptus obliqua_,
segundo creio, partilhando, por isso, de todo o seu bem e de todo o seu
mal, e não mostrando qualquer superioridade sobre este ultimo nos
exemplares que tenho plantado.

*Eucalyptus occidentalis.*--D'este, aliás gabado pela qualidade da
madeira, repetirei o que d'outros tenho dito:--Na minha mão, nunca deu
nada que prestasse. Supponho que sente frio; Macclatchie nota que elle
soffre com temperaturas de 4° centigrados abaixo de zero, e em terras
portuguezas fica muito sujeito a essas inclemencias para poder
prosperar.

*Eucalyptus paniculata.*--Se é o que tenho com o rotulo de _Eucalyptus
microphylla_, estamos bem. Vai a par do _Eucalyptus crebra_ e não será
desacerto semeial-o e plantal-o de mistura com este. Mas os exemplares
authenticos que tenho d'esta especie estão apenas de 4 annos, tempo
insufficiente para ajuizar da sua resistencia.

Por emquanto, mostram-se viçosos e crescem regularmente. Teme as
estiagens, segundo os livros estrangeiros indicam, e, por conseguinte,
convém pensar n'isto ao plantal-o e guardar-lhe alguma quebrada mais
fresca. Da qualidade da madeira é que não ha duvida; é um _Iron-bark_
(casca de ferro), e isso por si o garante.

*Eucalyptus pilularis.*--Não virá mal a ninguem, se fôr plantando alguns
exemplares d'este _Eucalypto_ onde houver bom terreno e clima dôce,
porque é menos resistente do que o _Eucalyptus globulus_, cresce mais
devagar e teme sobretudo a mingua de frescura, que o desterra dos valles
e outeiros do interior. Tanto na opinião do Barão de Mueller, como na de
Maiden, dá madeira de superior qualidade em todas as suas variedades.
Macclatchie diz: «Este é considerado como produzindo uma das melhores
madeiras entre todas as de qualquer outra especie de _Eucalypto_. De
postes de vedações d'esta madeira se conta que duraram mais de 20 annos.
Excellente como productor de mel, dizendo-se que o mel que d'elle provém
é de uma qualidade especialmente boa.» E deu-me já bons exemplares.

*Eucalyptus Planchoniana.*--Vão vivendo, sadios, mas acanhados no
crescer, os exemplares que tenho d'esta especie. E, por isso, e porque a
vejo indicada para regiões sêccas, livres de geada, a ninguem darei de
conselho que se aventure a plantal-a, tanto mais que a madeira é boa,
mas não superior á de outras especies que pódem bem com os rigores do
nosso clima.

*Eucalyptus platypus.*--Synonimo de _Eucalyptus obcordata_, e apontado
como planta decorativa. É, a meu vêr, um engano, como o _Eucalyptus
erythronema_. As flôres, tambem vermelhas, téem alguma graça; mas a
planta é de tão misero aspecto, que a limitada belleza da flôr não
compensa o desgosto da presença durante todo o anno de uma vida
semi-tysica.

*Eucalyptus pleurocarpa.*--Um arbusto que é bom lembrar, como os outros
_Eucalyptos_ arbustivos, para que, por equivoco, não gastemos tempo e
dinheiro a experimental-o.

*Eucalyptus polyanthema.*--Preciosa arvore que eu desejaria vêr
disseminada pelas nossas mattas; tem todas as condições para isso. O
Barão de Mueller encontrou-a na Australia nos «outeiros e cumiadas
sêccas»; acha-a «inexcedivel» como combustivel, e mais forte na madeira
do que o carvalho e o freixo; nas suas affinidades especificas o
_Eucalyptus polyanthema_ estaria muito proximo do _Eucalyptus
melliodora_, acontecendo todavia que «ambos se encontram nos mesmos
logares, promiscuamente, e cada um parece manter nas mesmas
circumstancias de sólo e clima as suas caracteristicas distinctivas;
mas, em geral, o _Eucalyptus polyanthema_ prefere mais o cimo das
elevações, emquanto o _Eucalyptus melliodora_ desce antes para as terras
mais ricas dos valles.» E, pelo seu lado, Macclatchie diz «que esta
especie prospéra em grande diversidade de condições climatericas,
crescendo na costa e proximo da costa, nos outeiros, na encosta dos
montes e nos valles sêccos e quentes do interior.» «É uma das especies
experimentadas na Estação Agricola das proximidades de Phoenix, que
inteiramente passa incolume, quer com as geadas do inverno, quer com o
calor do estio.» Além d'isso, «pela profusão de flôres, vindo n'um tempo
em que as fontes de mel são restrictas, é uma arvore util para pasto das
abelhas.»

Muitos exemplares d'esta especie tenho plantado, e em variadissimas
situações, e todos, sem excepção, confirmam as virtudes que os
silvicultores da Australia e da America lhe attribuem. Dos _Box-tree_
(arvore do buxo), a cuja classe pertence, seria, juntamente com o
_Eucalyptus melliodora_, aquelle _Eucalypto_, que eu preferiria para os
terrenos sêccos. Mas, advirta-se, não é para os apressados ou
impacientes; cresce devagar, o melhor exemplar que eu tenho, está agora
com 17 annos de plantação e 50 centimetros de circumferencia. Nem tão
pouco será para os descuidados; facilmente rasteja e entorta; é
necessario visital-o, podal-o e guial-o com arte. Tudo merece; a
robustez da madeira e a resistencia ás intemperies e a toda a violencia
climaterica pagarão anchamente a paciencia e zelo que na cultura
empregarmos.

*Eucalyptus pulverulenta.*--A custo o distingo do _Eucalyptus cordata_,
sendo certo que os botanicos lhe acham differenças apreciaveis. Creio
que economicamente não vale mais nem menos do que o _Eucalyptus
cordata_, e o reduzido logar que occupa nos livros dos auctores
estrangeiros fortalece-me n'este juizo.

*Eucalyptus punctata.*--Aqui ponho um ponto de interrogação e boas
esperanças. De madeira magnifica, crescimento rapido e modesta exigencia
quanto a fertilidade do terreno, o _Eucalyptus punctata_ não dispensaria
a frescura das regiões costeiras, e não se sujeitaria á seccura das
regiões do interior. O certo é que os exemplares que plantei ha quatro
annos, estão lindissimos, com lançamentos pujantes e ramificação
abundante; e um outro exemplar mais antigo tem já um bello tronco.
Serão, porém, necessarios mais alguns annos para uma conclusão prática
fundada.

Entretanto, não será erro propagal-o nas localidades menos
desfavorecidas. Outros indicados como mais melindrosos considero eu já
absolutamente proprios para as nossas terras.

*Eucalyptus Raveretiana.*--Aconselhado para climas tropicaes humidos. E
assim deverá ser, porque na minha collecção morreu das geadas, logo no
primeiro anno.

*Eucalyptus redunca.*--Este foi tambem dos que viveu sómente emquanto a
geada não lhe tocou.

*Eucalyptus regnans.*--Uma variedade do _Eucalyptus amygdalina_, de mais
rapido crescimento, maior estatura e melhor madeira--o que tudo creio
ser verdade, onde o terreno fôr bom e não faltar a frescura. Sem isto,
cada estio será para elle uma doença grave, e para o proprietario o
risco da perda de uma arvore muitas vezes já crescida. Foi o que por
experiencia verifiquei, d'ahi resultando que o risquei do rol dos que
reputo proprios para povoar as nossas encostas. Quando muito, servirá
para as terras profundas dos valles, e para estas não faltam especies
infinitamente mais meritorias pela qualidade da madeira.

*Eucalyptus resinifera.*--Este foi dos poucos que me deu muito mais do
que promettia. Annunciado como proprio para as regiões tropicaes,
planteio-o a medo, sempre á espera de um inverno que o matasse. Afinal,
os invernos vão correndo e um exemplar plantado em 1903 tem agora 90
centimetros de circumferencia.

Todavia, não seja isto razão bastante para que deixe de observar a regra
quem tiver de o plantar; parta do principio que não deverá expôl-o a
frios muito severos, nem tão pouco a temperaturas muito elevadas, n'uma
atmosphera sêcca. Guarde-lhe sitio ameno.

Merece-o. Porque a madeira é «esplendida e tão duradoura como qualquer
dos _Iron-bark_», segundo um botanico que estudou a flora australiana e
é citado para este effeito pelo Barão de Mueller--o que Maiden confirma,
dizendo por sua vez:--«É esta uma das madeiras rijas de mais valor da
Nova Galles do Sul. De um vermelho intenso, muito se assemelha no
aspecto ao mogno verdadeiro. É grande madeira para moveis onde o peso
não fôr obstaculo... Uma das mais duradouras madeiras que nós temos,
altamente resistente á humidade e ao ataque da formiga branca.»

Junte-se a isto que o _Eucalyptus resinifera_ é com o _Eucalyptus
goniocalyx_ um dos poucos que não torce nem fende expontaneamente ao
seccar; relembre-se a rapidez do seu desenvolvimento; e teremos quanto
baste para lhe reservar bom logar na silvicultura nacional e não
perdermos ensejo de o aproveitar.

*Eucalyptus Risdoni.*--Segundo todas as probabilidades, será uma
variedade ou fórma erradia do _Eucalyptus amygdalina_, mas ainda aqui,
como com todas as demais derivações ou aberrações do _Eucalyptus
amygdalina_, eu preferiria á extravagante a especie typo. Obtive bons
exemplares do _Eucalyptus Risdoni_; tenho mesmo um, das plantações de
1902, com 1m,80 de circumferencia. É magnifico. Mas vinga com muito
menos facilidade do que o _Eucalyptus amygdalina_ nos primeiros tempos,
é talvez mais exigente em humidade do que este ultimo, tem accentuada
tendencia a ramificar em fórmas arbustivas e torna-se necessario
guial-o, se pretendemos criar troncos direitos, e, finalmente, não sei
de qualidade alguma singular que lhe distinga a madeira e por esse facto
recommende em especial a sua cultura.

*Eucalyptus robusta.*--Segundo o Barão de Mueller, «como arvore para
lenha e para madeira que não demande grande resistencia, o _Eucalyptus
robusta_ é evidentemente mais importante do que até aqui se suppunha,
especialmente quando consideramos a faculdade de se adaptar aos brejos e
ás localidades apauladas--as quaes convém sómente a uma muito limitada
classe de plantas florestaes; mas este _Eucalypto_ parece requerer para
seu superior desenvolvimento o accesso do ar do mar.» No _Diccionario
das Plantas Uteis_, diz mais este mesmo illustre mestre que o
_Eucalyptus robusta_ «resiste aos cyclones melhor do que as outras
especies.» Na qualidade da madeira, que é avermelhada, ha a considerar
que é quebradiça, difficil de rachar e, por isso, pouco querida dos
carpinteiros; porém duradoura debaixo da terra, o que, por certo, lhe
dará valor nos telegraphos, nos caminhos de ferro e entre lavradores que
procurem estacaria.

Tambem encontro o _Eucalyptus robusta_ aconselhado para ensombrar
avenidas--no que porei os meus reparos. Nos primeiros annos é realmente
bello, com a sua folhagem larga e ramagem espessa. Mas, quando Deus
quer, foge para as alturas, despojando-se espontaneamente dos ramos
inferiores e deixando a estrada assás desprotegida.

Rebenta muito bem, quando cortado, e dá feixes de lançamentos lindos e
pujantes.

Plantei muitos exemplares d'esta especie e, pelo seu exame, tenho por
certo que é o melhor para as proximidades do mar. Onde o ar fôr sêcco,
não se canse ninguem a plantal-o.

*Eucalyptus rostrata.*--Foi com este que fabriquei os meus maiores
desastres. Devo-lhe as manchas de maior miseria das minhas plantações,
tanto mais sensiveis quanto maior foi a largueza com que o disseminei,
incitado pelo elogio caloroso que de outras terras o acompanhava. Grande
culpa, na verdade; nada d'isso me aconteceria, se houvesse lido com
attenção o livro de Sahut, onde diz: «O _Eucalyptus rostrata_ é muito
resistente, supportando grandes calores e frios devéras rigorosos,
segundo os logares em que se encontra. O crescimento é rapido; mas, em
contrario do _Eucalyptus resinifera_, gosta de _terras ferteis_ e da
borda da agua, e resiste muito menos do que este á estiagem.» O
sublinhado é meu--«terras ferteis.» Fóra d'isso, não vale um caracol;
vegeta emquanto tem a terra solta da cova, e depois não passa d'ahi,
torna-se absolutamente rachitico. Mesmo em terras ferteis,
desenvolvendo-se bem, ficará por este lado abaixo de muitas outras
especies, aliás magnificas.

Quanto a qualidade da madeira, quasi não ha virtude que se lhe recuse.
Mas ainda n'este capitulo proponho certo desconto. Maiden, diz; «Quasi
tão rija como o ferro, quando bem sêcca.» E o Barão de Mueller, citado
por Macclatchie, é um pouco mais explicito; acha que as arvores, _bem
maduras_, d'esta especie, cortadas na estação em que a circulação da
seiva é menos activa, e _cuidadosamente postas a secar_, produziram uma
das mais duradouras das madeiras de todo o mundo.» «Bem maduras» e
«cuidadosamente postas a seccar», note-se; tambem aqui os sublinhados
foram meus, porque tenho cortado bastantes _Eucalyptus rostrata_ e, se
não me engano, é uma das especies que mais tarde amadurece, e por isso
uma das que mais fende e torce ao seccar, se a arvore não é velha.

Salvo o devido respeito a auctorisados mestres, direi que só por
excepção e curiosidade guardaria logar para o _Eucalyptus rostrata_ em
mattas de terras nossas. Se em qualquer arvore de semelhante caracter me
sentisse disposto a gastar tempo e dinheiro, então empregal-os-hia com o
_Eucalyptus tereticornis_ que vale o _Eucalyptus rostrata_ como madeira
e altamente se lhe avantaja em modestia de exigencias.

*Eucalyptus rudis.*--Sabe-se pouco das qualidades da sua madeira; será,
porém, evidentemente e para todos os effeitos, superior ao pinheiro,
cujo logar haja de tomar. Dá bellos troncos, aprumados, não muito altos,
não indo ordinariamente a mais de 25 metros, e engrossando bem. Vigoroso
e de crescimento rapido, capaz de descer a povoar terrenos mediocres.
Mediocres, note-se; para os ruins não será de confiança. Na America
mostrou-se «notavelmente resistente ao calor e ao frio» (Macclatchie);
Naudin considera-o «naturalisado» na Europa. A fórma do fructo, proxima
da do _rostrata_, promette que será dos que se prestam a cruzamentos, e
parece-me mesmo que das sementes que colhi, tenho já exemplares
hybridos.

O que tudo visto, e sendo certo que os numerosos _Eucalyptos_ d'esta
especie que possuo confirmam a informação dos livros estrangeiros a seu
respeito, creio que é de propagar com franqueza e estudar com attenção e
com probabilidades de proveito.

*Eucalyptus saligna.*--As noticias que encontro sobre este _Eucalypto_
divergem.

Aqui, leio que a madeira é «esplendida» e que os carpinteiros a estimam
muito; além me acautelam contra a sua «inferior» qualidade. Talvez
questão de terreno, o que nos _Eucalyptos_ muitas vezes determina a boa
e má qualidade da madeira. Quanto a exigencias climatericas, não é maior
a conformidade: na America, não sobreviveu a estiagens intensas, e na
Australia habita apenas as regiões mais quentes do littoral; mas o
_Diccionario das Plantas Uteis_ diz que «é mais rustico do que o
_Eucalyptus globulus_». Sobre terreno é que não ha duvida; o
apparecimento d'esta especie é uma «indicação de terreno bom», diz a
_Eucalyptographia_.

Os exemplares que eu tenho, já não são novos e estão magnificos, em boa
exposição e boa terra; mas, não obstante esta demonstração favoravel,
correrá talvez a desenganos quem se aventurar á plantação fóra de iguaes
condições, e as reservas sobre a qualidade da madeira não auctorisam
aventuras.

*Eucalyptus salubris.*--Boa fama; promettedor para as regiões áridas,
supportando temperaturas elevadas e geadas consideraveis, e afinal dando
boa madeira. E d'estas virtudes nenhuma subsistiu nos poucos exemplares
que d'elle obtive. Desde o viveiro foram muito pobresinhos, e, depois,
nunca tiveram nem um momento de crescenças francas nem estatura
apreciavel.

*Eucalyptus santalifolia.*--Um arbusto. Perdi quantos tinha no primeiro
inverno; morreram de frio.

*Eucalyptus siderophloia.*--Um _Iron-bark_ (casca de ferro), de
excellente madeira, como todos os da sua classe. Parente proximo do
_Eucalyptus_ _crebra_, será talvez menos resistente do que este, o que
aliás não foi estorvo a que me desse um exemplar que, da mesma idade do
_Eucalyptus crebra_, não lhe está muito inferior nem em desenvolvimento
nem em saude. Porventura não será erro, na cultura meramente florestal,
plantar conjunctamente, em mistura, o _Eucalyptus crebra_, o _Eucalyptus
paniculata_ e o _Eucalyptus siderophloia_.

*Eucalyptus Smithiana.*--D'esta especie pouco pude averiguar. Os
exemplares que possuo, de sementeiras de 1913, ainda não passaram
invernos bastantes para dizer claramente ao que vem. Alguma cousa dizem
já; é certo. O desenvolvimento é magnifico em qualquer exposição,
preferindo a frescura, manifestamente; mas tambem sem temer a terra
ingrata e ardente onde vejo um exemplar sadio e com um desenvolvimento
mediano. Aspecto lindo, folhagem abundante, delicada e pendente.
Madeira... parece que é parente do _Eucalyptus viminalis_, ao qual muito
se assemelha, realmente, á primeira vista; e, n'esse caso, teremos a
contar com uma madeira clara, inferior em dureza á das especies
congeneres mais notaveis, mas de muitas e utilissimas applicações apezar
d'isso.

*Eucalyptus stellulata.*--Arvore pequena, que não será talvez para
desprezar em encostas voltadas ao norte, pois supporta grandes frios e
dá boa lenha. Sem grandes esperanças, claro está; em Portugal serão mais
de apreciar _Eucalyptos_ que resistam ao calor do que os que supportam
grandes frios. Abrigos não faltam em nossos montes; a humidade é que nem
sempre será bastante, e sem alguns dias ardentes ninguem passa no estio,
quer more á beira do mar, quer paire nas alturas da Estrella.

*Eucalyptus Stuartiana.*--São de 1902 os que eu tenho. Muito me animaram
nos primeiros dez annos; depois afrouxaram no crescer, e entretanto
moderavam-me o enthusiasmo. Resiste bem ao frio mas teme a falta de
humidade; por este lado muito me lembra o _Eucalyptus obliqua_, o
_Eucalyptus capitellata_ e os demais _Stringybark_, seccando quando
elles seccam e nunca se lhes assemelhando nas proporções quando elles
medram. Juntando a isso que o _Eucalyptus_ _Stuartiana_ não dá nada
especial quanto a madeira, embora muito aproveitavel seja e faça boa
lenha, inclino-me a crêr que não ha vantagem em insistir na sua
disseminação.

*Eucalyptus tereticornis.*--Convém não o perder de vista. Agradece a
frescura das proximidades do littoral, emquanto ao mesmo tempo não
succumbe com a estiagem e a seccura dos valles do interior; e, quanto a
madeira, é o rival do _Eucalyptus rostrata_ na opinião do maior numero,
e até lhe será superior na opinião de alguns outros. «O snr. Maiden, diz
Macclatchie, conta que um poste d'esta madeira se conservou inteiramente
são durante 55 annos; e, segundo o mesmo auctor, o snr. Howitt, eminente
auctoridade sobre as arvores da colonia de Victoria, põe o _Eucalyptus_
_tereticornis_ na cabeça do rol das madeiras d'aquella colonia proprias
para commercio.»

Vão bem os dois exemplares mais antigos que d'esta especie possuo; o
maior, de 1902, tem 85 centimetros de circumferencia. Note-se: cresceram
devagar nos primeiros annos e, no geral, não terão tendencia a dar
troncos muito aprumados,--o que se corrige, já vigiando-os e guiando-os,
já plantando basto e assim mantendo direitas as hastes que sobem á
procura da luz.

*Eucalyptus uncinnata.*--Um pobre arbusto, que nem sequer pelo vigor se
faz valer.

*Eucalyptus urnigera.*--Não fica pequeno; tenho, entre outros, um
exemplar com 15 annos e 1m,10 de circumferencia. Talvez o _Eucalypto_
que mais baixas temperaturas supporta; vem das regiões mais frias da
Tasmania. Affigura-se-me, porém, assás amigo de humidade, e não tenho
podido achar informações algumas sobre a qualidade da madeira. Se é
certo o seu proximo parentesco com o _Eucalyptus_ _cordata_, conforme o
Barão de Mueller tem por probabilisimo, o _Eucalyptus urnigera_ não nos
promette madeira melhor do que a de muitos outros de cultura igualmente
facil, senão mesmo mais segura e rendosa.

*Eucalyptus viminalis.*--Um colosso; dos meus, o mais alentado, com 20
annos, mede de circumferencia 2m,20. Cultura facil; até os encontrei
nascidos e crescidos expontaneamente em terra de uma vinha abandonada,
argilosa e de todo exposta ao sol. Na Italia supportou temperatura de 9°
e 10° centigrados abaixo de zero. Além d'isto, uma bella arvore de
sombra, melhor do que qualquer outra especie.

A madeira é que não tem muito credito; julga-se inferior á da maior
parte das outras especies, pouco duradoura em contacto com a terra e
fraca para lenha.

Talvez que o juizo que mais exactamente resume as qualidades e
deficiencias d'esta arvore seja o de Naudin, dizendo que o _Eucalyptus
viminalis_ é uma bella arvore de ornamento ou de avenida, chegando a
mais de 30 metros de altura, sem crescer tão depressa como o
_Eucalyptus_ _globulus_. A sua madeira não tem nem a mesma densidade nem
a mesma duração da madeira do _Eucalyptus_ _globulus_, o que não a
impede de servir para numerosas applicações em obras do interior da
casa.

*Eucalyptus virgata.*--Ou _Eucalyptus_ _Sieberiana_, na classificação do
Barão de Mueller, que d'elle diz muito bem. É o _Iron-bark_ da Tasmania,
frequente nas cumiadas graniticas da costa, nos valles arenosos e
pedregosos do interior, assim como nos outeiros de lousinho, e indo até
1:200 metros de altitude. Boa madeira para serrar, dura depois de sêcca,
leve e elastica, ardendo bem mesmo em verde, fraca para enterrar, muito
superior á do _Eucalyptus hoemastoma_, do qual o _Eucalyptus Sieberiana_
é parente muito proximo. De casca aspera e persistente, ramifica mais
copiosamente do que qualquer outra especie de _Eucalyptos_ da Tasmania.

Téem apenas tres annos os exemplares que possuo d'esta especie,
provenientes de sementes enviadas para o Jardim Botanico da Universidade
de Coimbra pelo professor Maiden, e, por isso, com todas as garantias de
authenticidade. Mas estão promettedores, com mais de 2 metros de altura,
viçosos, amplamente ramificados e já com fructos, segundo a precocidade
sabida e caracteristica da especie. Tudo me anima aqui a novas
sementeiras e a insistir na cultura.

*Eucalyptus Wabtoniana.*--De incerta qualidade de madeira e parente do
_Eucalyptus maculata_, por extrema susceptibilidade ao frio excluido das
nossas culturas, o _Eucalyptus Wabtoniana_ não resistiu á geada, nem
mesmo com certo abrigo. Entre nós será quasi uma planta de estufa.



BIBLIOGRAPHIA


As publicações sobre descripção e cultura dos _Eucalyptos_ já não téem
conta; o que sobre o assumpto nos offereceu a França, a Australia e a
Italia, formaria uma bibliotheca. E, mesmo entre nós, haverá muito a
colher e a aproveitar em innumeraveis e utilissimas noticias espalhadas
pelas publicações agricolas periodicas, dando conta da experiencia da
cultura de varias especies de _Eucalyptos_ em terras portuguezas.

Creio, porém, que com os poucos volumes abaixo indicados se constituirá
livraria sufficiente para quem se sentir tentado a proseguir no estudo
de similhantes missionarios de abastança das nossas florestas, tão
carecidas de renovação:

Em primeiro logar, as obras do Barão de Mueller. Sobretudo a
_Eucalyptographia_, publicada em Melbourne, de 1874 a 1884, e o
_Diccionario das Plantas Uteis_, edição da _Gazeta das Aldeias_,
traduzido em portuguez, em 1905, pelo illustre professor da Universidade
de Coimbra, o snr. dr. Julio A. Henriques.

Depois, as obras de Maiden, o eminente naturalista e director do Jardim
Botanico de Sydney, particularmente _The Useful Plants of Australia_ e
_A Critical Revision of the Genus Eucalyptus_, ainda não concluida.

Em seguida e, finalmente: o livro de A. James Macclatchie _Eucalypts
cultivated in the United States_, boletim n.º 35 da repartição de
agricultura d'aquelle paiz, publicado em Washington em 1902 (livro
excellente, talvez de todos o mais prático); _Description et Emploi des
Eucalyptus introduits en Europe_, de C. Naudin (Antibes, 1891); _Les
Eucalyptus_, de Felix Sahut (Delahaye & Lecrosnier, Pariz, 1888).



INDICE


Eucalyptos e Acacias

Do logar do Eucalypto na economia florestal do nosso paiz e da
apreciação do valor dos seus productos

Cultura do Eucalypto

Póda dos Eucalyptos

Escolha das variedades

Do córte dos Eucalyptos

Eucalyptos hybridos

A côrte dos gigantes

Notas sobre as principaes especies de Eucalyptos que tenho cultivado

Bibliographia



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    VIII--Cultura da batata (3.ª edição), 140 réis

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    XXII--Doenças externas, não contagiosas, dos animaes domesticos, 510
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    XXIII--Doenças contagiosas e parasitarias dos animaes domesticos,
    510 réis


    XXIV--O bicho da sêda, 280 réis

    XXV--A Agua--Como se procura nos terrenos, 310 réis

    XXVI--Construcções agricolas, 420 réis

    XXVII--O Trigo--Como se obtém grande rendimemto, 350 réis

    XXVIII--Os Pinhaes--Como se conservam; como se augmentam, 350 réis

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