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Title: Supplemento ao n.º 7 das Insomnias de Camillo Castello Branco
Author: Moraes, Anselmo de
Language: Portuguese
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SUPPLEMENTO AO N.º 7

DAS

INSOMNIAS

DE

CAMILLO CASTELLO BRANCO


O tratamento da gangrena é o ferro em braza; os grandes perversos eram
tambem marcados com o ferro em braza na testa ou nas costas para
condemnação permanente. Temos hoje de applicar este tratamento na pessoa
de _Camillo Castello Branco_, pela sua dupla qualidade de podridão
physica e degradação moral. Ha muitos annos que este galeriano se tornou
o symbolo da torpeza de costumes, da indignidade em todos os actos da
sua vida, uma especie de cadaver ambulante dentro do qual vomita
corrupção um vampiro que exhala o asco da sacristia, a atrocidade do
covil, a vilania do alcouce, e a linguagem desenfreada do açougue. A
cara d'este monstro, ultraje da especie humana, é a sua biographia;
n'ella estão escriptos os vergões das chicotadas publicas que tem
levado, e ainda se vêem as manchas dos escarros de desprezo que tem
provocado. O amolecimento da espinha dorsal, a que a natureza o
condemnou, é a historia da crápula em que se tem revolvido; emfim o
idiotismo de que se está sentindo possuir arrasta-o para o abysmo da
bestialidade d'onde nunca teria sahido, se o caso de uma infamia o não
trouxesse de guardador de cabras em Villa Real para uma terra grande
como o Porto, que o tem tollerado como uma especie de cloaca maxima,
como o sumidouro de todas as paixões abjectas que se manifestam ás vezes
em qualquer sociedade.

A côr livida d'este miseravel que em França nem mesmo chegaria a ser
Cartucho, e na Italia seria engraxa-botas de Casanova, a sua côr livida
representa a alliança com o patibulo, se é que Camillo Castello Branco
valesse a ponta do baraço necessario para o enforcar. Elle não vale nem
mesmo esse pedaço de corda. Deixamos estes traços da sua physionomia;
passemos a indicar os mais caracteristicos episodios da sua negra epopêa
de iniquidades:

Quando Camillo Castello Branco guardava cabras em Villa Real, causou a
ruina de uma pobre rapariga filha de um taverneiro; o pae da criança
chamou-o para elle casar com a filha.

Camillo acceitou a proposta com a condição de lhe dar o taverneiro um
fato novo e uma moeda. Recebido o ajuste, Camillo fugiu com o fato e o
dinheiro para a cidade do Porto, e aqui continuou o seu cyclo de
immundas aventuras. Começou desempenhando o papel de aprendiz de padre,
recebendo apoio dos jornaes miguelistas e tendo só em vista uma cousa--o
rapinar alguns cobres ao bispo. Padres e miguelistas achavam em Camillo
um inspirado, capaz de ser um Ravailhac ou um Jacques Clemente; mas o
ex-guardador de cabras sacrificou todos os planos dos seus protectores a
uma só cousa que tem sido o movel de todas as suas acções--comer e
babujar. Com a raiva do asno que morde a albarda, Camillo annullou a
protecção d'estas duas influencias descompondo uns e outros. Foi então
quando se sentiu uma potencia, que tinha a força do mal para se fazer
temer.

Explorou este novo esgoto que se lhe abriu na alma, e assentou banca de
descompostura por dinheiro: nas descomposturas que lhe pagaram contra a
consorte do conde de Bolhão, a par das libras tambem recebeu algumas
moedas de escarros na cara; nas descomposturas contra a snr.ª Brown,
recebeu tambem n'isso que de cara passou a ser lata, as publicas
chicotadas vibradas por seu filho Ricardo Brown.

Os differentes romances obscenos que foi escrevendo eram uma supporação
d'esta necessidade de abocanhar; leram-se os romances para se
descobrirem os escandalos portuenses. Mas quando o publico se viu
cançado d'este desaforado histrião e os editores se não quizeram mais
deixar roubar por elle, Camillo Castello Branco lançou-se n'uma empreza
nova: explorou uma mulher casada que tivera a desgraça de ter perdido o
senso moral com a leitura frequente d'esses romances a que alludimos.
Todos sabem o caso da morte do infeliz marido, e como Camillo Castello
Branco foi completar nas enxovias a educação que encetou com as cabras
em Villa Real.

Da cadeia começou Camillo a abrir brecha para a rapina na casa Moré,
mandando ali mostrar um Romance de descompostura ao dignissimo
procurador regio que não lhe tolerou certas obscenidades no carcere; o
amigo do procurador regio, gerente da dita casa, teve de pagar o romance
para poupar um desgosto ao magistrado respeitavel. Ainda não ha muito
tempo, que o snr. José Gomes Monteiro se refugiu no nosso Escriptorio
para evitar o encontro de Camillo na loja Moré, que ia ali armar uma
_escroquerie_, com o fim, dizia elle, de pagar uma decima. Livre da
cadeia, porque a lei quasi que não admitte prova no adulterio, Camillo
Castello Branco devorou então os bens d'essa infeliz creatura do Senhor
que arrastou á aversão publica. Depois de ter comido o que pertencia á
sua victima, viu o que ainda pertencia ao filho d'ella, cujos
rendimentos eram utitisados pela mãe, que, por não ter passado a
segundas nupcias, ficára com a administração d'esse resto: nada mais
natural que armar um cerco a este dinheiro.

Em primeiro logar não casou com a mulher a quem devia uma reparação,
para ella não perder a administração do filho; e em segundo logar mandou
agora a criança para a Africa, na esperança d'elle alli morrer e então
poder livremente dispôr d'esse resto de dinheiro. Alerta snr. Curador
geral dos orfãos. Por onde quer que se olhe este monturo de crimes, que
por ahi infecciona os áres por todos os lados Camillo Castello Branco só
mostra aspectos repugnantes; ultimamente comprometteu a sorte de Vieira
de Castro com a sua defeza; explorou a desgraça do amigo com o drama o
_Condemnado_ que vendeu a dous individuos; e por ultimo lucra ainda com
a morte do homem de quem se diz amigo, vendendo para o Brazil por
800$000 reis as cartas que esse desgraçado lhe escreveu da Africa.

Para Camillo Castello Branco as palavras honra, dever, amizade, são como
as particulas sacrosantas que tivessem cahido em poder de um macaco;
privado do minimo vislumbre de senso moral, a moralidade, a vergonha, o
pudor são para elle como as côres para um cego de nascença. Ultimamente
aspirou a um titulo de visconde, porque viu alguns negreiros e agiotas
ornados com esse distinctivo; elle por tanto achava-se com maior direito
para se distinguir pelo seu cynismo. Como alguem do paço se oppôz a que
acabassem de degradar os titulos nobiliarchicos, Camillo começou a
insultar a Casa de Bragança. Mas como hoje as suas diatribes sujas
produzem o effeito contrario ao que elle mira, e como já ninguem lhe
pagava para pôr a sua penna ao serviço da calumnia, ligou-se então com
um francez devasso chamado Ernesto Chardron, para a publicação de um
cano de despejo intitulado _Insomnias de Camillo Castello Branco_. Este
snr. Chardron é aquelle que violou a casa de um seu compatriota,
raptando-lhe a mulher, e aquelle mesmo que estaria a estas horas na
cadeia, se o gerente da antiga casa Moré tivesse sellado as portas do
estabelecimento quando este aventureiro sahiu d'alli para traficar á
vontade. Os dois grilhetas acharam-se dignos um do outro; Chardron é o
passador dos latrocinios que o Camillo pratica sobre a honra dos que o
desauthoraram perante a honestidade. Ora n'este opusculo n.º 7 das
_Insomnias de Camillo Castello Branco_, com a sua auctoridade de juiz de
enxovia, onde já residiu, diz que eu lhe roubei o livro _Mosaico_,
publicando-o contra a sua vontade. Este homem, que tem recebido dinheiro
por livros que nunca escreveu, recebeu de nós 14 libras para escrever o
_Mosaico_, e mais 9 libras por outra comedella; quando nos viu com o
livro em metade da impressão, julgou ter-nos o pé no pescoço e exigiu
mais dinheiro. Recusei-me a este logro e exploração sordida, e para não
perder o que já lhe tinha dado publiquei o livro na altura em que já
estava. Camillo fez-me um arresto, mas o Tribunal da Relação em vista
dos documentos de letra do proprio Camillo, mandou-me entregar o que era
minha propriedade, por Accordão de 31 de Agosto de 1868. O desgraçado
paria, porque um Accordão restabeleceu o meu direito, vem hoje chamar-me
ladrão. Não vamos aos tribunaes, porque Camillo Castello Branco
manifesta já os primeiros symptomas de demencia, e porque um elogio da
sua bôcca seria a maior affronta que podiamos receber. Camillo
lembrando-se ainda do tempo em que furtava os brincos ás criadas da casa
onde morava, está agora com a monomania de que todos o roubam; eil-o ora
nos jornaes a accusar um garoto que o servia, eil-o a restabelecer-lhe
os creditos, dando a entender que fôra roubado pela amazia e até pelo
proprio filho! Eil-o contando as colheres de prata que pertenceram ao
marido da sua victima. Decididamente os amigos de Camillo têm razão para
caracterisar-lhe o estado de demencia. Este larapio das livrarias dos
fidalgos de provincia, empulhando-os com livros de hippiatrica, e rindo
da sua lorpice, este vendilhão acobertado com o pseudonymo de Jorge
Correia, tem a audacia da rameira, para chamar aos outros aquillo que o
distingue. Assim como Alexandre Herculano o pôz fóra de sua casa, a
sociedade devia expungil-o, ficando á conta do municipio o recompensar
aquelle que lhe deitasse a bóla.

A nossa vingança está breve: ir-lhe-hemos regar a cova com o que elle
sabe, e temos a certeza que assim como se guardam os exemplares dos
notaveis aleijões, a memoria ominosa de Camillo Castello Branco hade
conservar-se por muito tempo na execração publica como uma das grandes
aberrações moraes da especie humana.

N. B. Em vista dos factos que deixamos apontados Camillo Castello Branco
perdeu toda a imputação e auctoridade moral.

Por isso, emquanto á accusação que nos fins de não termos pago a dois
escriptores os artigos que enviaram para a _Gazeta Litteraria_, temos
apenas a dizer ao publico: entregamos a Camillo, como era do contracto,
o dinheiro destinado, a esse fim, de que temos os devidos documentos.

Porto, 22 de Julho de 1874.

                                                   _Anselmo de Moraes._


Porto--Imprensa Portugueza.





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