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Title: A mudança que é possivel na vida
Author: Drummond, Henry
Language: Portuguese
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*** Start of this LibraryBlog Digital Book "A mudança que é possivel na vida" ***


A MUDANÇA QUE É POSSIVEL NA VIDA

    TIPOGRAFIA DA PARCERIA
    ANTONIO MARIA PEREIRA
    RUA AUGUSTA, 44, 46 E 48
    LISBOA

    EDITOR: HODDER AND STOUGHTON



                            A MUDANÇA QUE É
                            POSSIVEL NA VIDA

                  Alocução do eminente escritor escocês
                             HENRY DRUMMOND

                    Traduzido da 12.ma edição inglesa

                                   POR
                                  M. G.

                                  1916



    “_Assim nós todos,
    reflectindo como um espelho
    a gloria do Senhor,
    somos transformados na mesma Imagem,
    de claridade em claridade,
    como pelo Espirito do Senhor._”



PREFÁCIO


_No outono passado encontrou o autor numa livraria da California um
livrinho com o seu nome no frontispicio—livro que êle não sabia que
existia, que não escrevera, nem adornara com o titulo que o encimava.
Não repele porêm essa erradía publicação, extraída de apontamentos de
uma alocução sua que alguem lhe ouviu e antes lhe parece ter já feito
algum bem; mas devido ás imperfeições que lhe encontrou, julgou acertado
fazer dela uma edição mais completa. O tema, como os outros que o
precedem nesta série de alocuções, representa sómente um aspecto do vasto
assunto—aquêle que é aplicável ao homem. O claro-escuro é, naturalmente,
adequado a esta concepção. E pedimos á benévola atenção do leitor para se
manter dentro dêstes limites, afim de não estranhar o ficarem no escuro
alguns pontos que a teologia, sempre, e por direita razão, nos ensinou a
fazer sobresaír._

_Uma simples prédica, que um amigo nosso dirigiu a alguns modestos
habitantes duma região montanhesa, que costumamos frequentar, foi que
primeiramente chamou a nossa atenção para o lado prático desta solução do
problema mais importante que existe na tentativa da vida cristã._

_O que se segue, é em grande parte devido á manhã daquêle Domingo._



A mudança que é possivel na vida

    «Digo alto e bom som, que se houvesse algum grande Poder, que
    conseguisse fazer-me pensar sempre o que é verdadeiro, e fazer
    o que é direito, com a condição de eu me tornar numa espécie
    de relógio a que se desse corda todas as manhãs, aceitaria
    imediatamente êsse oferecimento»


São de Huxley estas palavras. A infinita aspiração e a infinita
dificuldade de se ser bom é um assunto tão antigo como a própria
humanidade. Não ha ninguem de cujo sentir íntimo não tenha brotado esta
confissão, e que não estivesse pronto a dar a sua vida, se lhe fosse
possivel «aceitar o oferecimento» de se tornar melhor.

Vou eu propôr fazer-vos êsse oferecimento. Muito a sério, sem vos
tornardes numa espécie de relógio, podeis vir a consegui-lo; pois debaixo
das condições devidas é tão natural ao caráter tornar-se belo, como o
é á flôr. E se não houver nêste mundo mecanismo algum que o realize, é
porque ficou esquecida a dadiva suprêma, que o mundo poderia receber. Foi
para isto simplesmente que o homem foi criado. Browning diz: «o homem foi
feito para progredir, e não para parar» Ou nas palavras dum livro mais
antigo: «_Aquelle a quem Elle primeiro conheceo, tambem predestinou para
ser conformado com a Imagem de Seu Filho._»

Começarei nomeando e em parte regeitando alguns processos que se costumam
empregar para obter vida mais elevada.

Estes processos estão longe de serem errados, e aplicados devidamente,
podem mesmo ter bastante valor; e se nos aventuramos a deprecià-los, é
por não produzirem um resultado absolutamente perfeito.

O primeiro método imperfeito é contar-se com a própria Resolução. Só na
fôrça de vontade, e em periodos isolados de recolhimento espiritual, não
é que está a salvação. O esfôrço, a luta, mesmo a agonia, teem o seu
logar no Cristianismo, mas são aqui descabidos. Aconteceu no outro dia
ficar parado no meio do Oceano o «Etruria» a bordo do qual eu viajava:
tinha-se desarranjado qualquer coisa nas máquinas. Havia a bordo uns
quinhentos homens válidos; julgais que se nos reunissemos todos e nos
puzessemos a empurrar o mastro, impeliriamos o navio para diante? Quando
qualquer de nós tenta santificar-se pelo próprio esfôrço, é o mesmo que
procurar fazer andar o seu navio, empurrando o mastro com toda a fôrça.
Seria como se alguem, que estivesse prestes a submergir-se, diligenciasse
erguer-se para fóra da agua, agarrando pelos próprios cabelos. Jesus
Cristo como que ridicularizou êste meio, dizendo: «_qual de vós pode
acrescentar um covado sequer á sua estatura?_» A única redenção que ha no
método de confiar no próprio esfôrço é que, os que o tentam, ficam para
logo convencidos de que por esse modo nunca chegarão a atingir o seu alvo.

Mas ha quem tente outra experiência e diga: «não é êste o meio de que eu
uso. Trabalho debaixo dum princípio, por ver que é loucura combater nas
trevas. O meu plano não é desperdiçar a energia em tentativas de acaso,
mas tão sómente concentrà-la na destruição dum único pecado. Tomando cada
pecado por sua vez, e destruindo-o com tenacidade, espero chegar por fim
a extirpà-los a todos.» Contra isto ha infelizmente quatro objecções. A
primeira é que a vida é curta, e o número dos pecados infinito. Depois
ocuparmo-nos de pecados isolados, é não querermos prescrutar o resto
da nossa natureza. Em terceiro logar, o combate com um único pecado não
afecta a raiz e a origem do mal; pois se fôr obstruído apenas um dos
canais do pecado, aponta-nos a experiência uma inundação quasi certa
por outro lado. A conversão parcial é quasi sempre acompanhada dum
certo escoamento moral, porque a energia acumulada acaba por rebentar;
e êste último estado da alma pode ser pior do que o primeiro. E depois
a religião não consiste em fazer deter êste ou aquêle pecado; o caráter
perfeito nunca poderá ser obtido por meio de _córtes_.

Ha tambem quem proclame: «Se assim é, não tentarei aniquilar os
pecados um por um, praticarei exactamente o contrário: copiarei as
virtudes uma por uma.» A dificuldade dêste método consiste em êle poder
tornar-se mecânico; distingue-se sempre uma gravura duma pintura, uma
flôr artificial duma flôr natural. Copiar as virtudes uma por uma é
aproximadamente o mesmo que arrancar os vícios um por um; e o resultado
é quasi sempre um caráter agitado e incongruente. Definiu alguem a
pessoa vaidosa e ensoberbecida por «uma criatura que está nutrida demais
para o seu tamanho». Encontram-se ás vezes Cristãos desta ordem—por
um lado nutridos demais, e por o outro, miseravelmente definhados
e enfraquecidos. Por exemplo, o resultado de se copiar Humildade e
associà-la a uma vida de teor acentuadamente mundano, é simplesmente
ridículo. Um exaltado advogado da Temperança é muitas vezes a mais ínfima
das criaturas, brilhando unicamente por essa virtude e esquecendo-se
totalmente de que a sua Temperança o torna pior e não melhor do que os
outros. Isto são exemplos de belas virtudes, deturpadas por as associarem
a vis companheiros. O caráter é uma unidade, e todas as virtudes teem de
caminhar juntas para poderem formar o homem perfeito. E não obstante
é êste método de santificação verdadeiro no fim a que aspira, no que é
deficiente é na maneira de o executar.

Ha ainda um quarto método, que nem mesmo seria preciso nomear, pois
é uma variante dos outros já mencionados. É aquêle de que se serve o
adolescente, e a sua pureza de intenção faz-nos considerar quasi como uma
profanação o ir tocar-lhe. É manter um livro de apontamentos para todos
os dias da semana, com uma lista de virtudes, deixando entre elas espaço
para se fazerem quaisquer observações. Provido de muitas regras austéras,
em guisa de prefácio, conserva-se o livrinho em logar secreto, e de
tempos a tempos, ao declinar do dia, vem a alma comparecer perante êle,
como perante um tribunal secreto. Este viver por um código foi o método
de Franklin; e creio que milhares de pessoas nos poderiam confessar que
conservam penduradas no seu quarto, ou guardadas em gavetas bem seguras
as regras que num dia memorável traçaram, para por elas modelarem a sua
vida. Este método não é erróneo, o seu êxito é que é muito deficiente;
falha geralmente por uma razão bem material—por um belo dia nos
esquecermos das regras.

Todos êstes métodos de que fiz menção, o de confiar no próprio esfôrço,
o de mortificar o próprio ser, o método de imitação e o do livro de
apontamentos, são absolutamente humanos, absolutamente naturais,
mas tambem absolutamente ignorantes e por isso mesmo absolutamente
inadequados. Mas não quero dizer com isto que se devam abandonar. O mal
que êles causam é antes desviar a atenção do verdadeiro método eficaz, e
procurar obter um bom resultado á custa daquêle que é realmente perfeito
e de passamos a tratar.



A fórmula da Santificação


Fórmula, receita, para a Santificação—poder-se ha falar a sério desta
mudança formidável, como se o processo fosse tão claro e preciso como
o de produzir uma certa e determinada corrente de electricidade?
É impossivel duvidà-lo. Ou ha de uma experiência mecânica ter
infalivelmente bom êxito, e ser de êxito duvidoso uma experiência vital
da humanidade? Ha de o trigo crescer debaixo de método, e o caráter ao
acaso? Se não pudermos calcular com segurança que as fôrças da religião
hão de fazer a sua obra, é que a religião é um capricho; e se não
pudermos exprimir por meio de palavras a lei destas fôrças, então não é
o Cristianismo a religião do mundo, mas sim o seu enigma.

Mas onde se ha de ir buscar essa fórmula? Onde se vai buscar qualquer
fórmula—aos tratados. Se nos voltarmos para os tratados do Cristianismo,
acharêmos para êste problema uma fórmula tão clara e precisa, como as
que se aplicam ás sciências mecânicas; e podemos ter a certeza de que,
se esta regra fôr seguida corajosamente, dará o resultado dum caráter
perfeito, exactamente como qualquer resultado, que fôr garantido pelas
leis da natureza. A mais bella expressão desta regra na Escritura, ou
ainda em qualquer literatura, é a que S. Paulo nos dá, condensada num
único verso. Encontrà-la heis numa epístola sua—a segunda aos Coríntios,
escrita por êle a alguns Cristãos que, numa cidade, que era considerada
como o cúmulo da depravação e licenciosidade, procuravam vida mais
elevada. É esta: «_Nós todos, com a face descoberta, reflectindo como
um espelho a gloria do Senhor, somos transformados na mesma Imagem, de
claridade em claridade, como pelo Espírito do Senhor._»

Observai logo no começo o desmoronamento de todos os nossos esfórços
prévios pelo emprêgo do simples passivo _somos transformados_. Somos
transformados, não somos nós que nos transformamos, nem ha ninguem que
se possa transformar a si mesmo. Por todo o Novo Testamento achareis que
sempre que são descritas estas transformações morais e espirituais estão
os verbos na passiva. Devemos observar que ha nisto um alcance profundo;
mas a pesar disso não punhamos violentamente de parte estas palavras,
como se a passividade negasse todo o esfôrço humano, ou não quizesse
admitir leis que são compreensíveis. O que aqui diz respeito á alma,
não é mais do que aquilo que em toda a parte se exige para o corpo.
Em fisiologia estão na passiva os verbos que descrevem os processos do
crescimento; porque o crescimento não é voluntário: tem logar, sucede,
está fixo á matéria. Dá-se o mesmo aqui. «_Tendes de ser gerados de
novo,_» não podemos gerar-nos a nós mesmos. «_Não sejais conformados com
este mundo, mas sede transformados_,»—somos sujeitos a uma influência
que nos transforma, não somos nós que nos transformamos. É tão certo
haver uma coisa fóra do termómetro, que produz a mudança no termómetro,
como haver alguma coisa fóra da alma do homem que produz a mudança que
nêle se opéra. É fóra de duvida que êle tem de ser suscetível a essa
mudança e que tem de a acompanhar, mas é igualmente certo, que nem as
suas faculdades, nem a sua vontade, a podem produzir. Evidente como isto
deveria parecer, talvez que para muitos seja uma revelação inesperada! A
mudança, que nos temos esforçado por alcançar, não a podemos produzir
continuando a procurà-la; tem de nos ser imposta por mãos superiores ás
nossas. Assim como o ramo se ergue, como o botão se entreabre, como o
fruto se avermelha sob as influências do ar que de fóra os bafeja, assim
o homem se ergue a mais elevada estatura pelas pressões invisíveis que
lhe veem do exterior. O defeito radical de todos os nossos anteriores
métodos de santificação foi o tentarmos gerar da parte de dentro aquilo
que só nos pode ser impôsto por influências vindas de fóra. Segundo a
primeira lei do movimento: cada corpo continúa no seu estado de repoiso
ou de movimento em linha recta, excepto quando é compelido por «fôrças
determinantes» a mudar êsse estado. Esta é tambem a primeira lei do
Cristianismo: cada caráter humano fica como é, ou continúa na direcção
em que está indo, até que é compelido por «fôrças determinantes» a mudar
êsse estado. O nosso êrro tem sido colocarmo-nos no logar dessas fôrças.
Ha o barro, e ha o Oleiro; o que nós temos procurado é que o barro seja
moldado pelo próprio barro.

Donde veem então essas pressões, e onde está êsse Oleiro? A resposta
da fórmula é: «_somos mudados reflectindo como um espelho a gloria
do Senhor._» Mas não é muito claro. O que é a «glória» do Senhor? E
como póde o homem mortal reflecti-la; como pode êsse acto como uma
«fôrça determinante» amoldà-lo a uma fórma mais elevada? A palavra
«glória»—a palavra que tem de suportar o pêso de manter essas «fôrças
determinantes»—é estranha em linguagem comum, e o nosso primeiro dever
será procurar em linguagem figurada uma que lhe seja equivalente.
Traz-nos primeiro á lembrança um resplandecer, um irradiar, um
deslumbrar, uma como que auréola que os antigos mestres gostavam de
pintar em volta das cabeças dos seus _Ecce-Homos_! Mas isso é pintura,
simbolo visível duma coisa invisível. Qual é a coisa invisível? É de
todas as coisas invisíveis, a mais radiante, a mais formosa, a mais
divina—é o caráter. Na terra, no Céu, não ha nada tão grande, tão
glorioso! Tem muitas significações; em ética porêm só pode ter uma: a
«glória» é nem mais nem menos do que o caráter. A terra está «_cheia
da gloria do Senhor_» porque está cheia do seu caráter. A «_Belleza_»
do Senhor é o caráter. A «_Effulgência da Sua Gloria_» é o caráter.
A «_Gloria do Unigenito_» é o caráter, o caráter «_cheio de graça e
de verdade_». E quando Deus disse ao Seu povo o Seu Nome, deu-lhe
simplesmente o Seu caráter, que era Ele Próprio: «_E o Senhor proclamou
o Nome do Senhor ... o Senhor, o Senhor Deus, cheio de misericordia e
de graça, pacientissimo e abundantissimo em bondade e verdade._» Não é
pois a Glória uma coisa intangível, espectral, transcendente! Se o fosse,
como poderia S. Paulo pedir aos homens que a reflectissem? Despojada
do seu enfaixamento fisico, é Beleza, Beleza moral e espiritual, Beleza
infinitamente real, infinitamente exaltada, infinitamente próxima, e
infinitamente comunicável!

Depois desta explicação lêde de novo em parafrase as palavras de S.
Paulo: «Nós todos, reflectindo como um espelho o caráter de Cristo, somos
transformados na mesma Imagem, de caráter em caráter»—isto é, dum pobre
caráter, para outro melhor; desse melhor, para outro melhor ainda; e
desse outro, para outro ainda mais completo; até que lentamente acabamos
por atingir a Imagem Perfeita. Aqui a solução do problema da santificação
fica concentrada numa única frase: reflecti o caráter de Cristo, e
tornar-vos heis semelhantes a Cristo.

Todos os homens são como espelhos—é esta a primeira lei sobre que se
baseia esta fórmula. Uma das mais apropriadas descrições do ser humano
é, que êle é como um espelho. Ao sentarmo-nos á noite á nossa mesa, o
mundo em que cada um de nós viveu e se moveu durante o dia, foi focado
para o nosso aposento. O que nós vimos a olharmos uns para os outros,
não foi êsses outros, mas o mundo dêles. Houve uma combinação de
espelhos. As scenas que vimos, foram todas reproduzidas: as pessoas que
encontrámos iam e vinham, falavam, saudávam-nos, passavam para diante,
faziam tudo como na vida real. Quando falávamos, estavamos a olhar
para o nosso próprio espelho, e a descrever o que por êle ia passando;
quando escutávamos, não estavamos a ouvir, mas a vêr—a olhar para o
espelho do nosso semelhante. Toda a convivência humana é uma série de
coisas reflectidas. Por exemplo, encontro um estranho numa carruagem de
caminho de ferro. A acentuação da sua primeira palavra diz-me logo que
é inglês e que vem de Yorkshire; sem o saber, reflectiu o logar em que
nasceu, quem foram os seus pais, e a longa história da sua raça. Mesmo
fisiológicamente é um espelho. Depois de trocarmos algumas palavras, fico
sabendo que é politico; e a ligeira inflexão com que pronuncía o nome do
jornal _The Times_ revéla-me o seu partido. Nalgumas observações que faz
logo a seguir, vejo reflectirem-se um sem número de coisas por que êle
tem passado. Os livros que tem lido, as pessoas com quem tem convivido,
as influências que o teem dominado e feito dêle o homem que é, tudo isso
foi registrado por uma penna que nada deixa passar, e cuja escrita não
póde ser apagada. O que eu leio nêle, está êle entretanto a ler em mim;
e antes de terminada a nossa viagem poderiamos reciprocamente escrever
metade da história de cada um de nós. Ou que nos agrade ou não, a verdade
é que vivemos em casas de vidro, o espírito, a memória e a alma, são
simplesmente vastas câmaras forradas de espelhos; e desta milagrosa
combinação e faculdade é que depende a capacidade de as almas mortais
«_reflectirem o caráter do Senhor_.»

Mas ainda não fica por aqui. Se todos êstes variados reflexos da nossa
chamada vida interna se patenteiam assim ao mundo, quão íntima será a
escrita, quão completa a anotação a dentro da própria alma! Porque as
influências que encontrámos, não são apenas por um momento mantidas na
superfície polida do espelho e arremessadas de novo para o espaço; não;
cada uma délas é retida onde primeiro caíu, e guardada na alma para
sempre.

Esta lei da Assimilação é a segunda e de todas a mais solene verdade que
serve de base á fórmula da santificação—a verdade que os homens não são
apenas espelhos, mas que, longe de serem simples reflectores das coisas
fugitivas que veem, transferem para a sua própria substância íntima e
_manteem permanentemente_ as coisas que reflectem. Ninguem sabe como a
alma as póde manter, ninguem sabe como o milagre é feito, nem ha fenómeno
da natureza, processo de química, ou capitulo de necromancia que nos
possam sequer ajudar a compreender esta assombrosa operação. Porque,
atentai bem, o passado não está sómente focado na alma do homem, _ficou_
lá. E como poderia ser dali reflectido se lá não estivesse? Todas as
coisas que êle viu, soube, sentiu, creu, do mundo que o cercava, estão
agora dentro dêle, tornaram-se parte dêle, e em parte são êle—que foi
transformado nessa mesma imagem. Embora o queira negar, embora isso o
penalize, tem de admitir que todas essas coisas lá ficaram; não, aderindo
a êle, mas transfundindo-se nêle, que por si, não póde nem alterà-las,
nem repelì-las, pois não estão na sua memória,—estão nêle. A sua alma é
como elas a encheram, a fizeram e a deixaram. São essas coisas, êsses
livros, êsses acontecimentos e essas influências que o fazem a êle; e
delas dependem a vida e a morte, a beleza e a deformidade. Quando a
imagem duma delas se apresenta á alma, não ha nada no mundo que possa
impedir duas coisas—uma, o ela ser absorvida pela alma; a outra, o ficar
para sempre reflectida no caráter, que perpétuamente reenviará êsse
reflexo.

Sobre êstes assombrosos e não obstante perfeitamente claros factos
psicológicos, é que S. Paulo baseia a sua doutrina da santificação.
Reconhece que o caráter é uma coisa que se construe lentamente, e que,
de hora para hora, póde mudar ou para melhor, ou para pior, conforme as
imagens que nêle se reflectirem. Mais um passo, e a aplicação destas
ideias ao problema capital da religião surgirá diante de nós em toda a
sua plenitude.



A alquimía da Influência


Se os acontecimentos mudam os homens, muito mais o farão os seus
próprios semelhantes. Não ha pessoa alguma que encontrando outra na
rua, lhe não cause alguma impressão. Dizemos que trocamos palavras
quando nos encontramos; o que nós trocamos são almas. E quando a
convivência é muito íntima e frequente, tão completa é esta troca, que
traços bem reconheciveis duma alma começam a aparecer na outra, que
do seu lado tambem sente, que outro tanto deve á sua congénere. Quem
não tem presenciado a misteriosa aproximação de duas almas? Quem não
tem observado um velho par, que, de mãos dadas, veio pela vida abaixo
fazendo a sua peregrinação, tão satisfeitos, tão mutuamente confiantes,
que os seus próprios rôstos se assemelhavam? Não eram duas almas, mas
uma alma compósita. A qualquer dos dois que se falasse, ter-se ia
empregado as mesmas palavras; qualquer dos dois que respondesse, diria
aproximadamente o mesmo. O reflectir constante de meio século tinha-os
tornado assim: ficaram uma e a mesma imagem. É pela lei da Influência que
nos _tornamos semelhantes àquêles que admiramos_; os dois velhos conjuges
assemelharam-se por se terem admirado constantemente. Esta lei mantêm-se
na literatura, na história e na biografia. Havia em Jonathan traços de
David, e em David traços de Jonathan. Jean Valjean, na obra prima de
Victor Hugo, é o Bispo Bienvenu resurgindo dos mortos. A metempsicose é
um facto. O que Jorge Eliot quiz dizer ao mundo foi que os homens e as
mulheres produzem outros homens e outras mulheres. Nem significa outra
coisa a familia, que é o berço da humanidade. A própria sociedade não
é mais do que um ponto onde convergem estas fôrças omnipotentes para
realizarem a sua obra. É, em resumo, sobre a doutrina da Influência, que
é construida toda a vasta pirâmide da humanidade.

Mas estava reservado a S. Paulo fazer a aplicação suprêma desta lei.
Foi arrojada a ilação que êle teve que fazer, mas não era espírito que
hesitasse; êle próprio era um ente transformado, e sabia perfeitamente o
que nêle tinha operado essa transformação—Jesus Cristo. Encontráram-se um
dia na estrada de Damasco, e desde aquela hora foi a sua vida absorvida
pela de Cristo. O efeito não podia deixar de dar-se—nas palavras, nas
acções, na carreira e na crença. As «fôrças determinantes» fizeram a sua
obra vital: tornaram-no como Aquêle que êle tinha amado constantemente.
«_Assim nós todos_, escreve êle, _reflectindo como um espelho a gloria
de Cristo, somos transformados na mesma Imagem_.»

Não podia haver nada mais simples, mais inteligível, mais natural, e
ao mesmo tempo mais sobrenatural. É uma analogia dum facto de todos os
dias. Visto sermos o que somos pelo contacto daquêles que nos rodeiam,
quem se rodeiar dos entes mais elevados, tornar-se ha mais elevado
tambem. Ha homens e mulheres em cuja companhia nos sentimos melhor do
que noutra qualquer; e emquanto estamos junto dêsses entes, nem temos
pensamentos baixos, nem dizemos coisas mesquinhas: só a sua presença
nos eleva, nos purifica, nos santifica. Todos os melhores registros da
nossa natureza são pela sua convivência postos em acção, e resôa-nos
dentro da alma uma música que nunca lá haviamos ouvido. Suponde que
_essa_ influência se prolongaria um mês, um ano, a vida inteira, o que
se não tornaria a vida então? Ha aqui sobre a comum superfície da vida,
falando a nossa lingua, andando pelas nossas ruas, trabalhando ao nosso
lado, verdadeiros santificadores de almas; ha aqui o Céu a penetrar pelo
mísero barro terreno; e ha energias, que embora usando de simples meios
temporais, estão repletas da virtude da regeneração! Se o viver com
criaturas humanas, que só possuem diluída no milionéssimo grau a virtude
do Altissimo nos póde elevar e purificar, que limites poderão ser postos
á influência de Cristo? Viver com Sócrates—com a face descoberta—havia
de nos fazer sábios; com Aristides, havia de nos fazer justos; com S.
Francisco de Assis, mansos; e com Savonarola, fortes; mas ter vivido com
Cristo, havia de nos ter feito como Cristo—isto é—Cristãos.

E na realidade viver com Cristo produziu êsse efeito. Produziu-o no caso
de S. Paulo; e durante a vida de Cristo foi esta experiência demonstrada
duma fórma ainda mais evidente. Alguns homens rudes, sem amenidade
alguma de espírito, foram admitidos no circulo íntimo dos Seus amigos. A
mudança principiou imediatamente, quasi que podemos ver como os primeiros
discípulos progridem dia a dia. Primeiramente alastra-se por sobre êles
uma sombra tenuissima do caráter de Cristo. Depois, começam de longe em
longe, a dizerem ou a fazerem coisas que não teriam dito nem feito, se
ali não vivessem. Vai-se tornando nêles cada vez mais profundo o encanto
da vida de Cristo. Toda a sua indole vai pouco a pouco sendo submetida,
dulcificada, santificada: as suas maneiras embrandecem, as suas palavras
adóçam-se, o seu proceder torna-se mais generoso. Como andorinhas que
encontram o verão, como botões de flôr enregelados que a primavera
vivifica, expande-se em vida mais ampla a sua humanidade sequiosa! Sem
saberem como, tornam-se diferentes e acabam por se achar, nos gestos e
nas acções, semelhantes ao seu Mestre. Não pódem compreender como isso
foi; ninguem lhes disse para o fazerem, fizeram-no êles instinctivamente.
Mas aquêles que os observam, sabem donde isso lhes veio, e murmuram em
segrêdo—«estiveram com Jesus». Já se nota nêles o cunho e o aspecto do
caráter do seu Mestre—«estiveram com Jesus». Fenómeno sem igual que êstes
pobres pescadores fizessem lembrar Jesus Cristo! Estupenda vitória e
mistério da regeneração que homens mortais façam lembrar ao mundo—_Deus!_

Quasi que nos enternece a maneira como os Seus contemporâneos e
especialmente S. João falam da influência de Cristo. S. João vivia
numa perpétua admiração: estava subjugado, assombrado, extasiado,
transfigurado! Segundo o seu espírito era impossivel que alguem que
estivesse debaixo desta influência voltasse a ser o que era. «_Todo
aquelle que permanecer junto d’Elle, não pecca_.» Era-lhe inconcebível o
pecar, tão inconcebível como manter-se o gelo debaixo do sol ardente, ou
coexistir a escuridão com a luz do meio-dia. Se alguem pecasse, era para
S. João a prova de que nunca havia encontrado a Cristo. «_Todo aquelle
que peccar não o vio nem O conheceo_.» Na presença de Cristo o pecado
intimidáva-se, secávam-se-lhe as raizes, desapareciam para sempre o seu
domínio e vitória.

Mas êstes eram contemporâneos de Cristo; era-lhes facil serem
influenciados por Ele, pois estavam todos os dias e todo o dia juntos.
Porem nós, como é que havemos de reflectir aquilo que nunca vimos? Como
póde todo este assombroso resultado ser produzido por uma Memória,
pela mais mesquinha das Biografias, por alguem que viveu e deixou
êste mundo ha dezenove séculos? Como poderão os homens modernos fazer
hoje de Cristo, de Cristo ausente, o seu mais constante companheiro?
Responderêmos que a amizade é uma coisa espiritual, independente da
Matéria, do Espaço e do Tempo. O que eu amo no meu amigo não é aquilo que
vejo; o que do meu amigo tem influência em mim, não é o seu corpo, mas
o seu espírito. Teria sido verdadeiramente inefável ter vivido naquêle
tempo!

    Rompe suave e rósea a madrugada ...
    Tinge-se o Céu de tons turqueza e oiro ...
            E já o bom Jesus
            Níveo, radiante e loiro,
            Como um halo de luz,
    Resurge ao longe na florída estrada ...

    Ségue-O festiva e imensa multidão ...
    Por onde passa, ajoelham, lançam flôres;
            E em todos os caminhos
    Se lhe juntam mulheres, velhos, pastores ...
            Até crianças vão,
            Quais tenros cordeirinhos,
    Tocar-Lhe a túnica, beijar-Lhe a mão ...
    Mas os apóstolos, com gesto rude,
    Zelosos correm sobre os meninos
    Para afastà-los e livrar Jesus ...
    Porêm Ele implora-lhes numa atitude
    Que ao mais cioso e pertinaz seduz:
          «Deixai, oh! filhos meus,
    Que até Mim venham os pequeninos!
          Pois só dos inocentes
          Como êstes doces entes
          É o Reino dos Céus!
          Para quê afastà-los ...
    Se para obtermos a mansão de Deus
          Só temos que imità-los?»

Teria sido inefável ter vivido naquêle tempo! E todavia se Cristo tivesse
de voltar ao mundo, poucos seriam os que teriam a probabilidade de O
verem. Ha milhões de vassalos nêste pequeno país, que nunca viram o seu
rei; e haveria milhões de vassalos de Cristo que se Ele aqui estivesse,
nunca chegariam a poder falar-Lhe. A nossa intimidade com Ele é, como
toda a verdadeira intimidade, uma comunhão espiritual. Toda a amizade,
todo o amor, humano e divino, é puramente espiritual. Foi depois da sua
Ressurreição que Ele teve maior influência, mesmo nos Seus discípulos;
por isso não obsta verdadeiramente a reflectirmos o caráter de Cristo o
não termos jámais estado com Ele em contacto visível.

Havia uma vez uma donzela, dotada de um caráter tão bondoso e perfeito,
que era o enlevo de todos que a conheciam. Pendia-lhe do colo uma medalha
de oiro, que ninguem tivera jámais a permissão de abrir. Um dia porêm,
num momento de insólita confiança, deixou que uma amiga sua tocasse na
mola da medalha e viesse a conhecer o segrêdo que ela encerrava. Estavam
lá escritas estas palavras—«a quem eu amo, não o tendo visto.» Era êste o
segrêdo da sua bela vida. Tinha sido transformada na mesma Imagem!

Ora isto não é imitação, mas uma coisa muito mais profunda. A diferença
no processo, bem como no resultado, pode ser tão grande, como a que
existe entre a fotografia obtida pelo infalível lapis do sol e os
cortornos rudes traçados pelo giz dum rapaz da escola! A imitação é
mecânica, o reflexo orgânico; uma é ocasional, o outro habitual. Num
caso, o homem aproxima-se de Deus e imita-O; no outro, aproxima-se Deus
do homem e imprime-se nêle!

«Fazei de Cristo o vosso companheiro mais constante»—é o que isto para
nós significa na prática. Permanecei mais sob a Sua influência do que
sob outra qualquer influência! Dez minutos passados todos os dias na
Sua companhia, dois mesmo, se forem face a face e com o coração aberto,
tornar-vos hão diferente o dia inteiro. Cada caráter tem a sua mola
íntima; que seja Cristo essa mola! Cada acção tem uma nota tónica; que
seja Cristo essa nota! Recebestes hoje uma certa carta, e immediatamente
vos puzestes a escrever a resposta, que quasi incendiou o papel.
Amontoastes nela os adjectivos mais crueis que sabieis, e enviastes essa
carta, sem receio da obra desoladora que ela ia executar. Fizéste-lo,
porque a vossa vida estava pósta em clave errada. Tinheis começado o
dia com o espelho colocado em má posição. Amanhã, quando surgir o dia,
voltai para Ele o vosso espelho, e todo o vosso aspecto mudará, até
mesmo para o vosso inimigo. Seja o que fôr que fizerdes, haverá uma
coisa que não poderieis ter feito—escrever aquela carta. Pode o vosso
primeiro impulso ser o mesmo, pode a vossa opinião ser identica, mas se
tentardes escrevê-la, a tinta secar-se-vos ha na penna e ficareis sem
vos vingardes; mas ficareis tambem maior, mais Cristão! Durante todo o
dia prestarão as vossas acções, mesmo nas suas mais ínfimas minudências,
homenagem àquela visão da manhã. Ontem, pensastes principalmente em
vós; hoje, se encontrardes pobres, darlhes heis de comer. Os que forem
desamparados, os que estiverem tristes, os que íam sucumbir á tentação,
reunir-se hão em volta de vós, e a todos acarinhareis. Onde estava toda
esta gente ontem? Onde estão hoje, mas não os vieis; é á luz reflexa que
se veem os desgraçados. A vossa alma não está hoje no logar habitual:
«_estão visiveis as coisas que se não veem_.» Ha algumas horas que estais
vivendo a Vida Eterna; pois a vida eterna, a vida da fé, é simplesmente a
vida considerada mais elevadamente. A fé não é mais do que uma atitude,
um espelho pôsto no logar devido.

Quando o dia terminar, e á noite vos puzerdes a examinà-lo, admirar-vos
heis do que fizestes. Não dareis por terdes procurado, imitado ou
sacrificado qualquer coisa, dareis por Cristo, dareis por Ele ter
estado convôsco, por sem coacção terdes sido coagido, por a revolução
se ter efectuado sem emprêgo de fôrça, sem ostentações, sem alarido.
Não vos felicitareis de terdes feito alguma grande proeza, conseguido
grande êxito pessoal, ou acumulado um fundo de «experiência Cristã»
para tornardes a obter o mesmo resultado; o que sabeis é que existe a
«glória» do Senhor. E o mundo fica-o tambem sabendo, se o resultado fôr
verdadeiro; porque a olharmos para um espelho, não é o espelho que vêmos,
nem é nêle que pensamos, mas naquilo que êle reflecte. O espelho só chama
a atenção sobre si, quando ha nêle algumas manchas.

Que isto é real, e não imaginário, que esta vida é possivel aos homens,
e que ha presentemente alguem que a viva, é simplesmente um facto
biográfico. Dentre mil testemunhos não posso deixar de citar um. As
palavras seguintes são duma das mais altas inteligências do século
dezenove, dum homem que como poucos suportou o pêso dos encargos do seu
país, e que, não no crepusculo da velhice, mas em todo o esplendor da
sua glória, fez ao mundo a confissão que passo a citar com pouquissimas
omissões.

    «_Desejo esta noite falar um pouco, mas êsse pouco que desejo
    falar, é do sagrado nome de Cristo, que é a minha vida, a minha
    inspiração, a minha esperança e o meu apoio. Não posso deixar
    de me deter a olhar para o passado. E desejo dar testemunho,
    como se nunca o houvera feito, de que é, não só pela graça
    de Deus, mas pela graça de Deus manifestada em Jesus Cristo,
    que eu sou o que sou. Reconheço a sublimidade e a grandeza da
    revelação de Deus, como Eterno Pai de nós todos, como Aquêle
    que fez os Céus, que fundou a terra, e que olha por todas as
    tribus da terra, abrangendo-as na Sua universal misericordia,
    mas é o Deus que Se manifesta em Jesus Cristo, que Se revela
    pela Sua vida, que Se dá a conhecer pelos Seus sentimentos,
    pelas Suas palavras, e pelos Seus actos, é êsse Deus que eu
    desejo confessar esta noite, e de quem desejo dizer:_ =“pelo
    amor de Deus em Jesus Cristo, eu sou o que sou.„=

    «_Se me perguntardes precisamente o que quero dizer com
    isto, direi francamente, que mais do que a para mim valiosa
    influência de meu pai ou de minha mãe, mais do que a influência
    social de todos os membros da casa de meu pai, e, tanto quanto
    o posso dizer e sentir, mais do que todas as influências
    sociaes de todos os géneros, foi Cristo que formou e modelou o
    meu espírito. Os meus ideais ocultos do que é belo provieram-me
    de Cristo, bem como quasi todos os meus pensamentos do que
    é viril, nobre e puro. Ha muitos homens que se teem educado
    a si próprios lendo as Vidas de Plutarco, e pondo na sua
    frente um ou outro daqueles varões ilustres que em diversas
    épocas adquiriram celebridade; e reconheceram que êsses homens
    célebres tiveram nêles verdadeiro poder. Eu por mim não
    tenho a consciência de qualquer poeta, filósofo, reformador,
    general, ou outro qualquer grande homem ter permanecido na
    minha imaginação e no meu pensamento como o puro e singelo
    Jesus Cristo. Ha mais de vinte e cinco anos que instintivamente
    recorri a Cristo afim de obter a medida e a regra para todas
    as minhas acções. Todas as vezes que me tem sido necessário,
    tenho procurado—e por ultimo quasi espontâneamente—refugiar-me
    na Sua intimidade, e nos primeiros tempos via-O pela fôrça
    da imaginação, em frente de mim, a fixar-me, meigo e sereno.
    Parecia quasi deslisar da Sua face a influência que me indicava
    o verdadeiro meio de dominar a ira, de submeter o orgulho e de
    vencer o egoïsmo; e foi de Jesus Cristo manifestado á minha
    concepção íntima, que eu hauri mais ideais, mais modêlos e mais
    influências, do que doutro qualquer caráter humano._»

    «_E ainda ha mais. Sinto que é de Jesus Cristo que tem emanado
    cada pensamento que me torna o Ceu em realidade e que me
    suavisa a estrada que ha entre mim e o Ceu. Todas as minhas
    concepções dos progressos da graça na alma, todos os passos
    pelos quais a vida divina se desenvolve, todos os ideais que
    pairam por sobre a esfera bemaventurada que nos aguarda alêm da
    campa—tudo isto me tem sido transmitido do Salvador. A vida que
    agora vivo na carne, vivo-a tambem pela fé do Filho de Deus._»

    «_E ainda não é tudo. A pesar do meu futuro incluir todos
    êstes elementos que me vão fazer da vida terrena um conjunto
    deleitoso, o que o verão é, comparado com todos os seus
    produtos terrenos—flores, folhas e ervas—é Cristo, comparado
    com todos os Seus produtos no meu espírito e na minha alma.
    Todas as virentes flores e folhas da símpatia, todas as
    alegrias exuberantes que do meu coração de Cristão brotam
    presentemente e hão de ainda vicejar no futuro, são para mim o
    que as flores e as folhas do verão são comparadas com o sol que
    vivifica o verão. Cristo é o Alfa e o Omega, o princípio e o
    fim da minha vida mais elevada!_»

    «_Quando leio a Bíblia, aproveito muito do Velho Testamento
    e das passagens do Novo Testamento devidas a S. Paulo, mas a
    pesar de tudo, sinto que para mim o fruto da Bíblia é Cristo.
    É por isso que a leio, por isso que a acho digna de ser lida.
    Tenho sentido verdadeira sêde de ser amado de Cristo. Todos
    vós sabeis o que é ter sêde de amor; o nosso coração não fica
    satisfeito emquanto não obtêm mais do ente estremecido. Tem
    havido ocasiões em que tenho tido uma sêde inexprimível do amor
    de Cristo. Nunca é forte a minha percepção do pecado, quando
    penso na lei, mas é forte, quando penso no amor—se é que ha
    diferença entre lei e amor. Quando me aproximo de Jesus Cristo
    e desejo ardentemente ser amado, é que sinto mais vivamente
    a minha asimetria, a minha imperfeição e a minha carência
    absoluta de merecimentos e de virtudes. O caráter e o proceder
    nunca se me representam tão claramente, como quando em silencio
    me curvo na presença de Cristo, revelada não em cólera, mas em
    amor, e nunca ambiciono tanto ser amável, para poder ser amado,
    como quando tenho presente esta revelação de Cristo._»

    «_Ao examinar aquilo que tenho experimentado, a parte da
    minha vida que mais me salienta, e de que me lembro com maior
    vivacidade, é exactamente aquela que de alguma fórma tem andado
    ligada a Cristo. Tudo o mais é palido e frouxo, como que
    nuvens a encobrirem o horizonte! Doutrinas, sistemas, medidas,
    métodos, como quer que se chame a necessária parte mecânica e
    externa da adoração;—a parte que os sentidos reconhecem—tudo
    parece ter emurchecido e caído, como cáiem as folhas quando o
    verão findou; mas a parte que me ligou poderosamente a Cristo,
    essa permanecerá._»

Pode alguem ouvir esta música, com a impressionante repetição do nome de
Cristo, e ficar insensível á emulação, ou ao desejo de o imitar? E antes
de vivermos assim, ainda não tinhamos vivido.



A primeira experiência


Reduzis então a religião a uma amizade vulgar? Amizade vulgar? Quem
fala em amizade _vulgar_? É coisa que não existe. Não ha no mundo
palavra mais sublime. A amizade é a coisa mais próxima da religião
que nós conhecemos. Deus é amor. E pôr a religião a par da amizade é
simplesmente dar-lhe a mais alta expressão que o homem pode conceber.
Mas se pôr dúvidas a uma «amizade vulgar» representa um protesto contra
o falar-se em termos ininteligíveis da coisa maior e mais santa que ha
em religião, então receio que a objecção seja bem real. Os homens estão
sempre á procura de mistério quando se fala em santificação, dalgum
mistério diferente daquêle que será sempre misterioso em toda a parte
em que o Espírito opére. Imaginam que ha de haver algum segrêdo, alguma
experiência oculta que só os iniciados conhecem, e milhares de pessoas
vão todos os Domingos á Egreja, na esperança de resolverem êsse mistério.
Em reuniões de fieis e em conferências religiosas julgaram muitas vezes
estarem prestes a atingí-lo, mas depois nada mais lhes foi revelado. Ao
meditarem sobre livros religiosos, quantas vezes não teriam estado á
beira dêsse mistério, se acaso tivessem lido mais um parágrafo! Talvez
que a pagina seguinte, que a frase seguinte lhes descobrisse tudo, e
seriam dali por diante levados por uma alta e poderosa corrente! Mas nada
disso sucedeu. Foram lidas a frase seguinte e a página seguinte, e nada
lhes foi revelado; e muito embora alimentassem sempre a esperança de
verem realizado êsse seu anceio, encontrou-os o capítulo final na mesma
expectativa. Porque é que nada sucedeu? Porque nada havia para suceder,
nada que fosse do género daquilo que êles estavam esperando. Quando é que
havemos de saber, que o nosso desejo de santidade é simplesmente o desejo
de sermos semelhantes a Cristo? Quando haverêmos de substituir o aspirar
fictício pelo aproximarmo-nos do Amigo Vivo? A santidade está no caráter
e não na mais ou menos caprichosa disposição do espírito; e a divindade,
no nosso próprio calmo temperamento humano, e não em arroubos místicos da
alma!

E contudo ha pessoas que por uma razão absolutamente opósta encontram
nisto pouca satisfação. Não se queixam de simplificarmos a religião
demasiadamente, pondo-a ao nivel da amizade, mas queixam-se ainda de ela
ser excesivamente mística. «Permanecer» em Cristo para «fazer de Cristo
o nosso mais constante companheiro», é para êles o mais puro misticismo;
precisam de alguma coisa absolutamente tangível e absolutamente directa.
Não são as almas poéticas que procuram um sinal, um misticismo exagerado,
mas as naturezas prosaicas, cuja necessidade de compreensão tem de ser
satisfeita por minuciosas e matemáticas definições. Talvez porêm que não
seja possivel reduzir êste problema a elementos muito mais positivos. A
beleza da amizade está no seu infinito, e nunca se poderá libertar a vida
inteiramente de misticismo: o nosso lar, o amor, a religião tudo está
dêle impregnado. Porque é que nas relações do homem para com Jesus Cristo
havemos de tropeçar no que é natural nas relações de homem para homem?

Se houver alguem que não possa conceber ou realizar o laço místico que
nos prende a Cristo, o melhor que terêmos a fazer, será ajudà-lo por meio
de analogias ainda mais evidentes tiradas da vida ordinária, a obter
essa concepção. Como conhecemos nós Shakspeare ou Dante? Comunicando
com as suas palavras e com os seus pensamentos. Ha muitas pessoas que
conhecem Dante melhor do que conhecem os seus próprios pais; tem nêles
maior influência, por o sentirem mais próximo como presença espiritual, e
por como fôrça espiritual o realizarem melhor. Haverá alguma razão porque
alguem, maior do que Shakspeare e do que Dante, que passou por êste
mundo, que nos deixou grandes doutrinas e que por toda a parte tem hoje
grandes obras, não haja de instruir, de inspirar e de formar os caráteres
dos homens? E não limito a isto a Sua influência; é isto, e ainda mais.
Jesus Cristo, longe de repudiar ou mesmo de entibiar estas relações de
Amizade, foi O Próprio que no-las propoz. «_Permanecei em Mim_» quasi
que foram as Suas derradeiras palavras ao mundo. E querendo dalgum
modo aplanar a dificuldade dos que sentiam quanto isso era intangível,
acrescentou a essas Suas palavras uma conclusão que as elucidasse: «_se
permanecerdes em Mim, as Minhas palavras permanecerão em vós_.»

Começai pelas Suas palavras. As palavras não podem por muito tempo
conservar-se impessoais. O próprio Jesus Cristo foi uma palavra, «_um
Verbo feito Carne_.» Tornai as suas palavras Carne, fazei-as, vivei-as,
e vivereis em Cristo. «Aquelle _que guardar os Meus mandamentos é que Me
ama_.» Obedecei-Lhe e haveis de O amar. Permanecei junto de Ele e haveis
de Lhe obedecer. _Cultivai_ a Sua amizade. Vivei segundo Cristo, no Seu
Espírito, assim como na sua Presença, e será dificil pensar que mais
havereis de fazer! Tomai isto pelo menos como iniciamento e introdução; e
se não puderdes sentir a influência da Sua vida sobre a vossa, procurai-a
tambem indirectamente. «_Toda a terra está cheia do caráter do Senhor_.»
Cristo é a Luz do mundo e grande parte dessa Luz é reflectida das coisas
do mundo, até das nuvens. A luz do sol fica depositada em cada folha e
da folha transmite-se ao carvão, que, quando os dias são frígidos, e
o sol se não enxerga, nos vem reconfortar. Cristo brilha atravez dos
homens, atravez dos livros, atravez da historia, atravez da natureza, da
música e da arte! Procurai-o aí. Todos os dias deveriamos ver um belo
quadro, ouvir bela música, ou ler um belo poema. O verdadeiro perigo do
misticismo é não o alargarmos bastante.

Não imagineis que nada sucede por vos não verdes progredir, ou por não
ouvirdes o ruído do maquinismo a trabalhar. Todas as grandes coisas se
desenvolvem silenciosamente! Poderêmos ver crescer um caracol, mas nunca
uma criança. Darwin diz que a Evolução procede por «numerosas, succesivas
e ligeiras modificações.» S. Paulo sabia isso e pô-lo na sua fórmula;
o que empregou foram palavras mais belas. Disse, para consolação de
todas as almas que lentamente se aperfeiçoam, que elas se transformavam
«_de claridade em claridade_» isto é, de caráter em caráter. «_O homem
interno_,» diz êle noutra parte, «_é renovado de dia para dia_.» Todo
o trabalho perfeito é vagaroso; todo o verdadeiro desenvolvimento se
efectua por meio de pequenissimas e insensiveis metamorfoses. Quanto mais
elevada fôr a estructura, tanto mais demorado será o progresso! Quando
o biologista percorre com o olhar a longa Escala dos Sêres vê as fórmas
rudimentares dos animaes desenvolverem-se numa hora; os que se seguem a
êstes alcançam pleno desenvolvimento num dia; os que lhes ficam acima
levam semanas e mêses a aperfeiçoarem-se; mas os poucos que se elevam
acima de todos êstes, exigem o labor de longos anos. Se uma criança e um
símio nascerem no mesmo dia, o segundo estará em plena posse das suas
faculdades e fazendo o trabalho activo da vida antes de a criança ter
deixado o berço. A vida é o berço da eternidade! Assim como está o homem
para com o animal no lento progredir da sua evolução, assim está o homem
ideal para com o homem espiritualmente inculto. Teem de ser feitos com
segurança os alicerces que hão de sustentar o pêso da vida eterna. O
caráter tem de ser para todo o sempre; como nos havemos de admirar se êle
se não pudér desenvolver num dia?

Esperar que uma alma cresça e se desenvolva, é um acto quasi divino
de fé. Quão perdoável será a impaciência da própria imperfeição, a
impaciência do caráter, que na presença de Cristo, se vê repelente,
se vê desprezivel, a admirar, a desejar, a cubiçar ardentemente ser
assim! Contudo devemos confiar no processo sem receios e sem dúvidas: «o
Espírito do Senhor» fará aquilo que lhe estiver incumbido. O expediente
que em busca do progresso repentino ou visível mais nos seduz, é
tentarmos algum meio menos espiritual, ou impedirmos o resultado,
pondo-nos á espera dos efeitos, em vez de conservarmos o olhar fito na
Causa. O fotógrafo imprime da negativa só durante o tempo em que ela
está exposta ao sol. Mas quando êle se põe a ver como o trabalho se faz,
impede simplesmente o trabalho de se fazer. Seja qual fôr a prudente
vigilancia de que a alma necessite, nunca ela poderá estar exposta
demais, e estando exposta, não haverá nada no mundo que possa melhorar ou
abreviar o resultado que ela tem de obter. A criação dum coração novo, a
renovação dum espírito íntegro, é uma obra omnipotente de Deus; deixai-a
ao Criador. «_Aquelle que começou em vós uma boa obra aperfeiçoá-la-ha
até esse dia._»

Mas não ha ente algum, que sentindo o valor e a sublimidade daquilo que
para êle é da maior magnitude, fique inerte e descure o seu próprio
progresso. Tornar-mo-nos como Cristo é a única coisa no mundo digna dos
nossos desvélos; a única coisa diante da qual toda a ambição humana é
loucura, e vão, todo o esfôrço menos digno! Só aquêles que fazem desta
aspiração o suprêmo desejo e paixão das suas vidas, é que podem começar
a esperar alcançà-la. Se por isso tem até agora parecido tudo depender
da passividade, permiti-me que assevere com mais ardente convicção que
tudo depende da actividade. A religião da adoração sem esfôrço pode ser
religião para anjos, mas não para homens. Não é a contemplar mas a agir,
que ha a verdadeira esperança; não é em extases, mas na realidade, que
existe a verdadeira vida; não é no reino dos ideais, mas entre as coisas
tangíveis, que está a santificação do homem! A resolução, o esfôrço, a
luta, a mortificação e a agonia—tudo coisas já póstas de parte, como
futeis em si, teem que voltar ao seu campo de acção e que arcar com
responsabilidade dez vezes maior. De que estão elas encarregadas? Nem
mais nem menos do que de fazer mover a grande inércia da alma, que
elas teem de colocar e manter onde as fôrças espirituais hão de vir
influencià-la! Teem que reunir as fôrças da vontade; que conservar
brilhante a superficie do espelho, e sustentá-lo sempre firme; e teem que
descobrir a face que ha de olhar para o Senhor, repuxando-lhe para baixo
o véu, quando se aproximar o que fôr profano. Talvez que já fosseis com
um astrónomo vê-lo fotografar o espectro duma estrêla? Ao penetrardes na
obscura quadra do Observatório víste-lo começar por acender uma vela.
Para vêr a estrêla? Não; para ver o instrumento que vai dispôr, para
por êle ver a estrêla. Era a estrêla que ia tirar a fotografia, mas era
tambem o astrónomo, que por muito tempo levou a trabalhar na escuridão,
aparafusando tubos, lustrando lentes, e dispondo reflectores, e que
só depois de grande trabalho conseguiu que o instrumento perfeitamente
focado começasse a funcionar. Então apagou a luz, e deixou a estrêla a
fazer na chapa o seu trabalho, sósinha. A tarefa diaria do Cristão é
fazer com que tambem o seu instrumento funcione; conseguido isso, pode
apagar a sua vela. Todas as evidências do Cristianismo que o levaram até
ali, todo o auxílio da Fé, todos os actos da Adoração, todas as fôrças
poderosas da Egreja, toda a Oração e Meditação, toda a cooperação da
Vontade, tudo processos de menor valor, actividades da fôrça da vela,
podem nessa hora suprêma ser póstas de parte; mas lembrai-vos de que é
só por uma hora! Bem avisado andará aquêle, que mais depressa acender a
sua vela, ou aquêle, que nem mesmo a deixar apagar. Amanhã, daqui a um
instante, pode êle, pobre alma obscurecida, maculada, precisar dela outra
vez para melhor focar a Imagem, para tirar qualquer argueiro que haja na
lente, para lustrar o espelho que o hálito do mundo possa ter embaciado!

Não é por causa da estrêla que carecemos de fazer qualquer modificação,
pois ela é sempre um grande ponto fixo nêste universo incerto, mas
_o mundo move-se_: cada dia, cada hora exige outro movimento, outra
adaptação para a alma. O telescópio no Observatório vai pelo cronómetro
seguindo a estrêla; o cronómetro da nossa alma é _a Vontade_. Por isso,
emquanto a alma em passividade reflecte a Imagem de Cristo, a Vontade em
intensa actividade mantêm o espelho firme para que qualquer movimento
do mundo o não arraste para alêm da linha da visão. «Seguir Cristo» é
manter a alma tão firme que já se dê o desconto ao movimento da terra; e
esta propositada contra acção dos movimentos dum mundo, êste conservar
o espelho bem em frente daquilo que êle reflecte, êste segurar todas
as faculdades atravez de tempestades, terremotos, fogo e espada, é a
estupenda colaboração da Vontade! É tudo obra de Cristo. É tudo obra do
homem. Em prática são ambas; e em teoria tambem. Mas o homem sensato dirá
na prática: «_de mim é que depende_.»

Ha num museu de Belas Artes em Paris uma estátua célebre. Foi a última
obra dum grande génio, que como muitos outros génios era pobríssimo e
vivia numa humilde mansarda, que lhe servia de casa de trabalho e de
quarto de dormir. Quando a estátua estava concluida, caiu uma noite sobre
Paris uma grande geada. No quarto mísero e frio jazia acordado no seu
leito o pobre escultor, a pensar na argila ainda húmida da sua estátua,
a pensar que a agua iria gelar-lhe nos póros, e destruir numa hora o
sonho de toda a sua vida! Então o ancião ergueu-se, e tirando as roupas
do próprio leito foi com elas devotamente envolver a sua obra. De manhã,
quando os visinhos lhe entraram no quarto,—o escultor estava morto. Mas
a estátua vivia!

A Imagem de Cristo que se está formando dentro de nós—é o suprêmo encargo
da nossa vida; que êsse encargo se anteponha a todos os outros projectos
nossos! Emquanto essa Imagem não estiver perfeita, não haverá obra humana
que esteja terminada, religião que esteja glorificada, fim da vida que
esteja preenchido! Já começou essa tarefa infinita? Quando, como, havemos
de ser diferentes? O tempo não muda os homens. A morte tambem não. Mas
Cristo muda-os.

Tornai-vos então _semelhantes_ a Cristo!

FIM



INDICE


                                        PAG.

    Prefácio                              7

    A mudança que é possivel na vida      9

    A formula da Santificação            17

    A alquimía da Influência             30

    A primeira experiência               51





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